Tony Goes

Finalmente, atores anões ganham papéis relevantes nas telas brasileiras

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Durante muito tempo, os anões estiveram relegados a uma única função nas artes cênicas: a de palhaços. E ainda assim em posições secundárias, servindo de coadjuvantes para comediantes de estatura normal. Eram, literalmente, bucha de canhão --haja vista a quantidade de anões que encarnaram "homens-bala" em números circenses de gosto duvidoso.

Tudo isso era reflexo da situação dos anões na sociedade: marginalizados, forçados a conviver apenas entre si e motivo de galhofa pelo simples fato de serem pequenos. Mas os tempos são de inclusão. Mulheres, negros, gays e diversas outras minorias políticas (não necessariamente numéricas) vêm lutando e conquistando espaço em todas as áreas. Era de se esperar que os anões também fizessem o mesmo.

O Brasil teve um único artista anão que se tornou muito famoso: o cantor Nelson Ned (1947-2014). Mas ele foi a exceção que confirma a regra. Durante décadas, os anões continuaram restritos aos programas de humor, não raro protagonizando situações humilhantes.

Isto começou a mudar há pouco mais de dez anos. Nos Estados Unidos, o tamanho pequeno do ator Peter Dinklage não escondeu seu enorme talento, e ele ainda teve a sorte de ter a idade e a fama necessárias para ganhar o papel de Tyrion Lannister, um dos personagens principais da série “Game of Thrones” (HBO), que já lhe rendeu dois Emmys.

Na Argentina, a comédia romântica “Coração de Leão” (2014) fez enorme bilheteria ao falar do envolvimento de uma mulher “normal” com um anão. Mas cometeu dois pecados graves. Escalou um ator célebre por lá, Guillermo  Francella, para o papel principal.

Francella, que tem estatura normal, precisou ser encolhido digitalmente na pós-produção do filme. Além disso, o personagem era bilionário - assim fica fácil alguém se apaixonar por ele. De qualquer forma, o interesse do público mostrou que mais uma barreira estava sendo rompida. Tanto que “Coração de Leão” já ganhou vários remakes ao redor do mundo.

A onda finalmente chegou ao Brasil, ainda que tardiamente. Em "O Outro Lado do Paraíso" (Globo), uma trama paralela é focada em Estela (Juliana Caldas), a filha anã da megera Sophia (Marieta Severo). A personagem teve algumas cenas cortadas na primeira fase da novela, mas a emissora garante que foi para dar agilidade à trama e nega que tenha sido por causa de alguma rejeição por parte do público.

Nos cinemas, está em cartaz a comédia romântica “Altas Expectativas”, que também fala do relacionamento entre um anão (Leonardo Reis, mais conhecido como Gigante Leo) e uma moça "normal" (Camila Márdila). É bem mais realista que o longa argentino, porque foi baseado em fatos reais: a própria vida de Leonardo, que se mostra no filme um ator com muito mais recursos do que seu bom número de "stand-up comedy" deixava ver.

Tudo isto não quer dizer que os anões não continuem brilhando no humor rasgado. É o caso de Priscila Menucci, que intérprete da Dona Nica, um dos personagens de maior sucesso atualmente em "A Praça É Nossa" (SBT). Fazendo rir ou chorar, o importante é que cada vez mais anões estejam presentes nas telas brasileiras. Além de se destacarem pelo talento, eles também dão visibilidade à própria causa.


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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