'Estela tem muito o que ensinar', diz Juliana Caldas sobre personagem anã de 'O Outro Lado do Paraíso'
Juliana Caldas, 30, acaba de estrear na televisão com uma grande missão para cumprir: representar pessoas com nanismo. A atriz faz parte do elenco de "O Outro Lado do Paraíso", novela de Walcyr Carrasco na faixa das nove da Globo.
No folhetim, Caldas é Estela, filha caçula de Sophia (Marieta Severo), irmã de Gael (Sergio Guizé) e de Lívia (Grazi Massafera). Ela morava no exterior, mas retornou ao Brasil, o que deixa a matriarca incomodada. A mãe preferia mantê-la longe por vergonha de sua deficiência.
"Abordar esse tema é uma responsabilidade muito grande. Pela primeira vez o assunto é abordado com seriedade. Realmente vamos mostrar as dificuldades que uma pessoa com nanismo tem", disse a atriz ao "F5".
Nos últimos dias circulou uma informação da saída da atriz da trama. Porém, Walcyr Carrasco usou sua conta no Twitter para afirmar que não vai cortar a personagem de Juliana Caldas. "Que história é essa? Alguns sites estão publicando que vou cortar a anã. Mentira! Nunca me passou pela cabeça. É uma das principais personagens."
A Globo antecipou os grupos de discussão com espectadores e a conclusão mais comum foi a de "O Outro Lado do Paraíso" sofre com a falta de humor. O público entrevistado considera muito "pesada".
Durante o bate-papo com a reportagem, Juliana Caldas falou sobre preconceito, moda inclusiva, comentou sobre a criação que teve pelos pais e relembrou cenas pesadas que gravou ao lado de Severo.
Quem é a Juliana Caldas?
Não vivi preconceito em minha casa. Tem preconceito sim. Mas depende muito de como a família ensina, tanto você que não tem nenhum tipo de deficiência, quanto você que tem. A família precisa ter uma consciência de como vai educar o filho para o diferente. Ao mesmo tempo, vou educar meu filho para lidar com o preconceito. Muita criança me confunde. Eu faço peça infantil há mais de dez anos. A criança achava que eu era criança. Elas me chamavam para brincar e ficava com elas, em vez de ficar com os adultos. O respeito vem daí, desde criança. O que me deixa muito chateada é que às vezes o pai, em vez de ensinar, faz o contrário. Dá risada. Aponta e diz: é anão! Eu não sofri preconceito na escola, nem na minha rua. Nunca.
Sua estatura lhe atrapalha em algo?
Meu pai é anão e tenho um irmão que também é. Minha mãe era de estatura normal. Ela nunca adaptou nada na minha casa. Fazia eu me virar e ao mesmo tempo aprender, porque o mundo não ia se adaptar a mim. Eu sempre preciso de alguém. Fazer mercado é um terror. Eu odeio fazer mercado. Às vezes o produto está lá no alto, sabe? Eu sou independente. Tenho que aceitar que às vezes preciso da ajuda das pessoas. E eu aceito. Na minha casa eu troco chuveiro. Você vai aprendendo essas coisas.
O que você espera dessa personagem?
Espero que as pessoas aprendam e entendam. E, no final, é óbvio, espero que respeitem. Entendeu? Mesmo sendo muito parecido com o que já aconteceu comigo, a Estela me ensinou muita coisa. Ela tem muito o que mostrar e ensinar.
As falas da Sophia (Marieta Severo) em relação à filha são fortes.
Acredito que ela não sabe lidar com aquilo. A primeira coisa que ela fez ao descobrir que a filha tem nanismo foi colocá-la para estudar na Suíça, muito distante. Isso acontece na sociedade no sentido do preconceito. Na minha opinião, o preconceito é a falta de conhecimento. É falta de conhecer, de perceber, de tudo. A partir do momento que você conhece um deficiente, você acaba conhecendo outras coisas. Não só uma pessoa, mas do que ela é capaz. Além do nanismo, eu sempre tento incluir o geral. Eu não quero só levantar a minha bandeira.
Como têm sido as gravações?
As primeiras cenas foram difíceis tanto para mim quanto para a Marieta, e conversamos bastante porque foram cenas de crueldade. Sempre que lemos as cenas que iremos gravar, conversamos antes para esclarecer quais são as dificuldades.
Como você foi escolhida para o elenco?
Fiz teste.
A Estela é estilosa. A caracterização dela te inspira no dia a dia?
Não chego a me inspirar, mas a gente tem o mesmo gosto no quesito confortabilidade. As roupas da Estelas são estilosas e confortáveis. Trabalhei um tempo com moda inclusiva, fazendo desfiles e ensaios fotográficos. O nosso corpo é diferente. Dependendo do vestido que coloco, por exemplo, dá a sensação de que ele me diminui. Para isso não acontecer, existem as medidas certas. Algumas peças do meu figurino são feitas sob medida para mim. Outras a gente compra e adapta.
Existem marcas que se dedicam especificamente a moda para pessoas com nanismo?
Infelizmente, não.
Você é de São Paulo. Como está aproveitando a vida no Rio?
Eu só trabalho. Se tenho cinco minutos dentro de casa eu durmo [risos]. Estou morando na Barra da Tijuca, mas prefiro dormir a ir à praia.
Comentários
Ver todos os comentários