Tony Goes

Muitos não sabem o que é feminismo, inclusive celebridades

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O Lollapalooza de 2017, realizado em São Paulo nos dias 25 e 26 de março, teve dezenas de shows incríveis, mas só um momento que vai entrar para a história. Claro que eu estou falando das críticas que Titi Müller, no canal BIS, fez ao DJ israelense Asaf Borgore.

Já é inédito que um apresentador não se derreta pela atração que vem a seguir. Mas Titi foi além: chamou as letras de Borgore de machistas, misóginas, babacas (um exemplo: "aja como uma vadia, mas antes lave louça"). Ainda alegou que, se aquilo era um personagem, então ele deveria criar um personagem melhor.

O vídeo imediatamente viralizou, e o desabafo de Titi  Müller se tornou um dos assuntos mais comentados da semana. A ex-VJ da MTV colecionou elogios e até memes louvando sua coragem. Evidentemente, também não faltaram internautas atacando-a.

Houve quem mandasse Titi  Müller lavar louça. Houve quem lembrasse que Borgore ganha muito mais do que a apresentadora. E houve quem simplesmente a acusasse de feminista, como se isto fosse um defeito.

Esta é uma confusão bastante frequente no Brasil. Muita gente acha que feminismo é o antônimo simétrico de machismo. Que as feministas querem um mundo dominado pelas mulheres, onde os homens seriam oprimidos e subjugados. Por mais que programas como "Amor & Sexo" expliquem didaticamente que elas só querem direitos iguais, mais nada, a distorção continua.

E, mesmo entre as mulheres, ainda há quem defenda o padrão bela, recatada e do lar. Em outro vídeo que viralizou esta semana, Caio Castro chamou Antônia Fontenelle de machista e sensacionalista, pois a atriz que o entrevistava para seu canal no YouTube disse ter nojo de mulher que fica bêbada na balada. Caio defendeu o direito das moças perderam a linha em público: afinal, os homens também podem.

Novamente as redes sociais se dividiram. E dessa vez ocorreu um fenômeno curioso: o ator, que já foi muito malhado por admitir que não gosta de teatro, foi defendido e aclamado por sua postura moderna e igualitária.

O oposto se passou com Antônia Fontenelle. À primeira vista, sua opinião parece bastante razoável: a mulher não pode confundir liberdade com libertinagem, e só deve ficar bêbada entre quatro paredes. "Detesto piranha que não se respeita."

Mas basta uma segunda leitura para perceber que este é o mesmíssimo argumento de quem diz que a mulher deve sempre se vestir discretamente, para evitar o assédio e a até mesmo o estupro como se a culpa da agressão fosse da vítima.

A ignorância e o preconceito estão entranhados na nossa cultura. Autênticas barbaridades costumam ser ditas de modo casual e aceitas como senso comum. Ao menos, famosos como Caio Castro e Titi Müller mostram que nem tudo está perdido, apesar de ainda termos um longo caminho pela frente.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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