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Thiago Stivaletti

Boy magia do filme 'Baby', Ricardo Teodoro será fotógrafo mau-caráter em 'Vale Tudo'

Ator frequentou saunas gays e cinemas pornôs de SP para trabalho premiado em Cannes; agora, estreia em novelas como o parceiro de golpes de César e Maria de Fátima

O ator Ricardo Teodoro: 'Se eu cheguei até aqui, todo mundo pode chegar' - @ricardoteodoro no Instagram
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O Brasil comemorou o Globo de Ouro para Fernanda Torres, mas outro ator brasileiro conseguiu ano passado uma proeza igualmente rara. O mineiro Ricardo Teodoro venceu um prêmio de melhor ator no Festival de Cannes, o maior do mundo, como um garoto de programa que se envolve com um rapaz mais jovem no filme "Baby", de Marcelo Caetano, que estreou nesta semana nos cinemas.

Sua presença magnética, que lembra a do espanhol Javier Bardem em seus primeiros filmes, não passou despercebida dos jurados em Cannes –e depois, dos produtores de elenco no Brasil. Tanto que ele vai estrear na Globo no remake de "Vale Tudo" no papel de Olavo, um fotógrafo de moda que é o melhor amigo do trambiqueiro César (Cauã Reymond) e colabora com os golpes armados pela vilã Maria de Fátima (Bella Campos).

Foi longa a trajetória até o sucesso. Ricardo nasceu no pequeno município de São José da Safira (MG), com menos de 4 mil habitantes. Aos 14, chegou a trabalhar como garimpeiro nas minas da região para tirar um dinheiro extra. "Era garimpo de picareta mesmo. Mas nunca levei muito jeito, só encontrei alguns cristais. Meus amigos tinham mais experiência", relembra.

Gari galã

Aos 20 anos, mudou-se para São Paulo, onde começou a fazer teatro. Chegou a trabalhar numa empresa start-up no bairro da Vila Olímpia, em São Paulo, oferecendo empréstimos com garantia de móveis. "Ganhei uma grana, o salário era legal, com CLT. Mesmo assim, foi batendo uma infelicidade tremenda", conta. A crise bateu durante a pandemia, ele pediu as contas e voltou a se dedicar aos palcos.

Ele fez uma participação como um "gari galã" na série "Notícias Populares", do Canal Brasil. Marcelo Caetano, o diretor da série, percebeu que ele era o tipo perfeito para Ronaldo, o michê de "Baby", que se vira entre vários bicos para pagar o aluguel, o plano de saúde do filho e dar uma força para a ex-mulher.

Para compor o personagem, Ricardo frequentou saunas gays como a Hotel Chilli, no largo do Arouche, e cinemas pornôs na praça da República, no centro de São Paulo.

"Eu via sempre as mesmas pessoas nesses lugares, e comecei a perceber que todo mundo se cumprimentava. Um garoto de programa parava e cumprimentava o engraxate, batia um papo longo com o cara. Um vai ajudando o outro a se proteger", conta. A partir da pesquisa, ele sugeriu ao diretor que Ronaldo, seu personagem, ensinasse boxe aos amigos como autodefesa.

Sexo e intimidade

O trabalho envolveu algumas fortes cenas de sexo com seu parceiro de cena, João Pedro Mariano, que vive o Baby do título. Mas o filme não contou com a figura do coordenador de intimidade, tão em voga nos sets hoje em dia. "Eu e o João conversamos muito antes de filmar. Chegamos num grau de intimidade e respeito muito interessantes. Não foi nada exaustivo, a gente até ria daquilo tudo."

Depois do prêmio em Cannes, Ricardo ainda ganhou dois prêmios internacionais por sua atuação em "Baby" –no Festival de Lima, no Peru, e Huelva, na Espanha. Mesmo estreando só agora nos cinemas, só a passagem em dezenas de festivais dentro e fora do Brasil já rendeu um certo assédio dos fãs. Homens e mulheres.

No momento, sua ansiedade está a milhão com a estreia na TV –"Vale Tudo" ainda demora um pouquinho, e começa no final de março. "Eu me tornei ator por conta das novelas. Na minha cidade tão pequena, a única possibilidade de arte e entretenimento era a televisão. Cresci vendo ‘A Viagem’, ‘O Rei do Gado’, ‘O Clone’", conta.

E vem muito mais por aí. Ricardo estará em "Pssica", série de Fernando Meirelles na Netflix sobre tráfico humano na região da Amazônia; em "Super-Homem", novo filme do pernambucano Gabriel Mascaro, de "Boi Neon"; "Ciclone", de Flávia Castro, ambientado nos anos 1920; e "Salve Rosa", de Susanna Lira.

O sucesso repentino não lhe sobe à cabeça. "Gosto sempre de lembrar que eu fui ver uma peça de teatro pela primeira vez quando já tinha 18 anos. Se eu cheguei até aqui, todo mundo pode chegar."

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Foi repórter na Folha de S.Paulo e colunista do UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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