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Rosana Hermann

Nem a diretora de 'Barbie' escapa do julgamento de nossos corpos

Patrulha insuportável da forma física das mulheres precisa acabar

A diretora Greta Gerwig em Cannes - Reuters
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São Paulo

O nome de Greta Gerwig pode não ser muito popular aqui no Brasil, mas seu trabalho como diretora de "Barbie" é certamente conhecido em todo o mundo, já que o filme arrecadou mais de US$ 1,4 bilhão. Isso mesmo, o equivalente a quase R$ 7 bilhões e meio.

Depois disso, Greta foi convidada para ser uma das juradas do tradicional Festival de Cannes, cuja edição 2024 começou na terça-feira (14).

Nós poderíamos estar aqui comentando o fato de ela ter se tornado a diretora com maior bilheteria de todos os tempos nos Estados Unidos ou sobre a expectativa em relação ao início do Festival. Isso, se o mundo não fosse tão cruel com as mulheres. Infelizmente, seu nome apareceu nas redes sociais por causa das críticas que sofreu em relação ao seu look.

Greta escolheu usar um vestido listrado branco e azul, apresentado na semana passada, em Paris, em um desfile de John Galliano para a linha Artesanal da Maison Margiela. Na passarela, havia toda uma teatralidade compondo o look da modelo, com penteado, maquiagem e acessórios especiais. Os críticos à escolha de Greta disseram que "tirar o vestido desse contexto de fantasia para a realidade teria prejudicado a diretora". Opinião é opinião, mas para mim, isso não faz sentido. Quer dizer que o vestido que foi mostrado na passarela não pode ser usado no mundo real? Qual o sentido disso?

Além desse argumento furado, houve quem comentasse sobre o sapato com fenda, simulando patas de cavalo. Um dos tuítes mais curtidos, com quase 3 milhões de visualizações, dizia, em inglês, que a roupa "não funcionou" sem a composição completa e perguntava: "onde está o penteado, a maquiagem, o drama?".

Pois eu sinto que, para além dessas observações, essas críticas levantam um tema muito mais sério: a gordofobia. Exatamente. Mais uma vez temos pessoas discutindo o CORPO de uma mulher. Julgando o corpo de uma mulher. Um dos perfis escreveu que "não é um vestido para o tipo de corpo dela". Oi? Agora não basta a gente comprar uma peça de roupa do nosso tamanho, temos que ter autorização para vestir apenas "peça para nosso TIPO DE CORPO"???

É realmente lamentável que mulheres sejam eternamente cobradas por suas formas físicas, por sua aparência, por sua idade, por tudo. Nem dinheiro, nem fama, nem sucesso blindam uma mulher contra esse julgamento absurdo e inaceitável. Nem mesmo no contexto de um festival de cinema, a diretora de um filme que fala de empoderamento feminino, que se tornou a diretora com maior bilheteria de todos os tempos, da poderosa indústria do cinema americano, está blindada desse tipo de constrangimento.

Eu sei que temos muita coisa para consertar, melhorar na nossa sociedade. Mas na lista de urgências, essa patrulha insuportável de nossos corpos certamente está entre elas. Ser mulher é, realmente, exaustivo. Para todas nós.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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