Todo fã de reality deveria ver 'Bebê Rena'
A coragem não está no heroísmo, mas em admitir que ninguém é melhor do que ninguém
"Bebê Rena" (Netflix) é uma das séries mais assistidas e comentadas do momento. Terminei de ver os sete episódios quase sem ar, tamanho o impacto que causou em mim. E, pelo que tenho lido, esse choque atinge a todos.
Na história, o personagem Donny Dunn, que sonha em fazer uma carreira de sucesso como comediante, atende uma mulher que aparece, por acaso, no bar em que trabalha. A partir desse encontro fortuito, ela começa a persegui-lo e transforma a vida de Donny num pesadelo.
A primeira coisa que nos impacta é saber que se trata de uma história real, vivida por Richard Gadd, que criou, roteirizou e protagonizou a série. O segunda é descobrir que, muito mais do que o caso de uma stalker, "Bebê Rena" mostra que todos nós, enquanto seres humanos, somos mais complexos do que aparentamos, carregamos sonhos, ambições, medos, inseguranças e traumas, mais profundos do que imaginamos.
A série tem momentos muito fortes. Algumas cenas geram grande agonia e outras nos fazem chorar. É preciso ter maturidade mental para seguir em frente. Mas o esforço vale a pena. Porque o que aprendemos é que a vida real não é um filme de super-herói, nem desenho infantil em que o príncipe destrói o dragão e resgata a princesa com quem vive feliz para sempre. E mais: seres humanos de verdade não são apenas mocinho ou vilão, bonzinho ou malvado. Somos seres complexos, confusos e mudamos conforme as coisas nos acontecem.
E é exatamente essa a lição a ser aprendida. Estamos vendo os participantes de reality show de uma forma equivocada.
Veja o caso de Davi, por exemplo. Ele venceu o BBB 24, foi o melhor jogador, o que mais conquistou o público, o campeão desta edição. Mas ser o vencedor não significa ser perfeito. Ele tem defeitos como qualquer um do "Camarote", como qualquer telespectador, como qualquer profissional do programa. Ele poderá agir de forma certa ou errada, coerente ou incoerente.
Ele poderá se deslumbrar com o poder, com o dinheiro. Ou não. O FATO é que nós não conhecemos Davi, nunca convivemos com ele, não conhecemos seus sonhos, segredos, sua infância. Uma pessoa é muito mais do que 100 dias e algumas entrevistas. E também não conhecemos de verdade os pais do Davi, nem a Mani, nem ninguém. Ninguém. Tudo o que vemos e mostramos, na TV, na mídia, nas redes, é o que queremos que os outros vejam.
Os segredos, as coisas que não revelamos para ninguém, ficam escondidas dentro de nós. Estamos vivendo a maior crise de "verdade" da história da humanidade. Todo mundo mente, todo mundo dissimula, todo mundo usa filtro, todo mundo engana, todo mundo finge. E é essa a magia de "Bebê Rena": a confissão do personagem. A entrega de suas verdades mais doloridas, suas sombras, suas trevas. A coragem não está nos grandes atos de heroísmo. A coragem está em admitir que, no fundo, ninguém é melhor do que ninguém. E que nesse mundo confuso e incontrolável, estamos todos no mesmo barco.
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