Talento multigeracional de Tom Cruise turbina 'Top Gun: Maverick'
Já são 44 filmes ao longo de uma belíssima carreira que beira as quatro décadas
Esquece. No mundo do cinema, o único assunto desta semana é a estreia de "Top Gun: Maverick", continuação do cultuado "Top Gun: Ases Indomáveis", de 36 anos atrás. Onde você estava naquela época?
É possível que você estivesse na fila do cinema, aguardando para entrar correndo na sala. Sem poltronas marcadas, a luta por um lugar com boa visibilidade da tela era praticamente uma disputa de gladiadores. Com os assentos garantidos, um voluntário da turma saía para comprar pipoca. E quando o filme começava, era hora de viajar na única experiência oferecida por Hollywood nos anos 80: a tela grande.
Os perrengues cinéfilos daquela época não passam de histórias engraçadas para os nativos digitais. A geração Z, nascida e criada num mundo hiperconectado, relativiza a experiência da telona. Culpa dos serviços de streaming, que facilitaram o acesso às produções. Para os mais jovens, o tamanho da tela é o que menos importa. Tanto faz a fartura visual oferecida por uma megaTV ou a discreta performance de uma tela de celular. Quem se importa?
Apesar das experiências antagônicas, tais diferenças geracionais deverão empalidecer diante de "Top Gun: Maverick". A julgar pelas críticas internacionais já publicadas, "Top Gun" deverá figurar entre os maiores filmes do ano. Uma vitória e tanto para uma história desprovida de personagens com superpoderes de heróis como os da Marvel ou da DC, aparentemente os únicos capazes de lotar salas neste pós-pandemia.
No elenco, a união multigeracional deu mais do que certo. Atores como Glen Powell, 33, Monica Barbaro, 31 e Danny Ramirez, 29, entrosaram-se fluidamente com Tom Cruise, que completa 60 em junho. A cena em que todos jogam futebol na praia, realizada nos mesmos moldes homoeróticos do jogo de vôlei do primeiro filme, é bom exemplo da integração fácil entre os jovens atores e o veterano. Tom está em casa. E a garotada também. Inclusive fora da tela.
Numa sessão de pré-estreia, no dia 21, ao meu lado, estava uma mulher de não mais do que 20 e poucos. A moça dava pulinhos na cadeira a cada voo de Maverick. Na fila de trás, um grupo de cinco rapazes, também na casa dos 20, engatou numa interminável discussão sobre os "próximos passos" do filme assim que os créditos começaram a subir. Depois de alguns minutos, enquanto meus amigos cinquentões e eu nos retirávamos, os nerds continuavam lá. Cheguei até a desconfiar de que havia cenas pós-créditos.
Alguém pode até brincar e dizer que Cruise incorporou de vez o vampiro Lestat, que atravessa décadas afinando seu poder de sedução. E em Hollywood, terra onde a mais bobinha corre de costas e de tamanco, sedução quer dizer dinheiro. Já são 44 filmes ao longo de uma carreira que beira as quatro décadas. Neste período, Tom deixou na conta de estúdios como Paramount Pictures ("Top Gun", "Missão Impossível"), Universal Pictures ("Nascido em 4 de Julho"), Touchstone Pictures ("Cocktail"), entre outros, uma arrecadação total de U$S 4.4 bilhões, só na América do Norte, diz o "New York Times".
E "Maverick" não deverá ser diferente. O site "Deadline", uma das principais referências de cinema, afirma que o filme deverá bater os recordes de arrendação do próprio Cruise, alcançando US$ 180 milhões contra US$ 172 mi de "A múmia", seu recorde mais recente, em 2017.
A carga emocional de "Top Gun: Maverick" deverá ajudar a engordar o bolo. Prepare-se para os primeiros cinco minutos desenhados cuidadosamente para arrancar lágrimas dos mais velhos. Prepare-se para um segundo ato em que o elenco está literal e metaforicamente nas alturas, em cenas de tirar o fôlego. Prepare-se para uma participação sensacional de Val Kilmer, cuja solução narrativa para o personagem Iceman me pareceu brilhante. E prepare-se também para o que deve brotar por aí nos próximos anos. Talvez um "Top Gun: Hangman", "Top Gun: Fanboy", "Top Gun: Rooster"…
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