Renato Kramer

'Ao teatro eu só vou quando é de muito boa qualidade', diz Darlene (Marília Pêra)

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

"Maratona era um sapatão grego que correu muito para não tomar cacete dos homofóbicos. Tinha muito sapatão e muita bicha na Grécia Antiga, não tinha Ruço?", foi como a divina Darlene (Marília Pêra) deu início à sua participação no episódio da última quinta-feira (18) de "Pé Na Cova" (Globo).

E dizendo esse texto com a mesma seriedade e convicção como quando dizia um Shakespeare ou vivia uma Maria Callas. Um domínio das palavras, das modulações e das intenções certas nos momentos certos, que só as atrizes do porte de uma Marília Pêra tem. Ave Marília.

"Maratona era um sapatão? Eu ouvi dizer que era uma avenida", soltou Ruço (Miguel Falabella), para desespero do neto Sermancino (Gabriel Lima), que corrige: "Vocês não sabem nada? Maratona é uma corrida de 42 km". "Eu posso não saber nada, mas se me jogar no mato eu sobrevivo", intervém Adenóide (Sabrina Korgut).

Para endossar o angu de caroço que virou a conversa na sala da casa de Ruço, chega a exuberante Markassa (Maurício Xavier), linda e loura, que vai ter a sua filha adotada por um casal francês. Quando fica sabendo que a menina vai se chamar Dominique, Markassa tem um chilique.

"Aaaaaaaaai..., eu não acredito. Ela vai ter nome de trava, Ruço. Se ela fosse ficar aqui, eu ia dar o nome de Carminha ou então de Narcisa. Mas já que ela vai, eu acho muito chique a pessoa ter nome francês", conclui a “Cinderela do Irajá”. Leveza e requinte de detalhes valorizam a performance de Xavier.

Luz Divina (Eliana Rocha) saboreia a sua fantasia de Afrodite, a deusa do amor e viaja no devaneio: "Pode ser que tudo o que eu esteja dizendo seja mentira... Quando eu não tomo o meu remédio, eu fico muito fabulosa", confidencia. Eliana realiza um tipo impecável.

No episódio desta quinta, o foco era o fato inusitado de que a tocha olímpica iria passar pelo Irajá. Quando soube que entre os esportes haveria o salto com vara, Markassa soltou com a sua malícia quase ingênua: "Salto com vara? Eu era olímpica e não sabia, quenda".

O clima nefasto criado pela presença do Dr. Zóltan (Diogo Vilela) é muito bem explorado pelo ator. Em uma espécie de vilão de história em quadrinhos, Vilela arremata com perícia o acabamento do seu personagem.

E em meio a todo o quiprocó, Darlene é convidada a assistir ao evento desastroso da passagem da tocha olímpica pelo Irajá, e a falsa atleta acaba tendo um ataque fulminante ao carregar a tocha, mas declina do convite e deixa um recado que mais parecia uma grande dica da Eterna Diva: "Teatro eu só vou quando é de muito boa qualidade", afirmou Marília Pêra. 

Vê-la ali na telinha fazendo o seu melhor, como de costume, nos dá a sensação de que ela realmente ainda está entre nós. Não fosse a entrada da bela canção "How Can You Mend A Broken Heart" dos Bee Gees, talvez nem percebêssemos a suave nostalgia.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias