Renato Kramer

'Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas', de 'O Pequeno Príncipe'

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Uma das frases mais famosas do clássico que encanta adultos e crianças há mais décadas foi adaptada na nova tradução de Ferreira Gullar, procurando, é claro, manter o sentido do original francês: "Você é eternamente responsável por aquilo que cativou".

O "Globonews Literatura" foi a Nova York em abril de 2014 acompanhar uma exposição com os originais, os manuscritos e os desenhos –que teve a sua primeira edição em inglês: "The Little Prince". O especial foi reapresentado na última sexta-feira (1).

O título da exposição já surpreende: "O Pequeno Príncipe, uma história de Nova York". "Pouca gente sabe que o autor Antoine de Saint-Exupéry morou em Nova York por dois anos antes da Segunda Guerra Mundial", informa Jorge Pontual, "e escreveu o livro aqui na cidade (NY). A primeira edição foi publicada por uma editora daqui em 1943".

A curadora Christine Nelson conta que Exupéry escreveu "O Pequeno Príncipe" em diversas partes da cidade: "Ele tinha um apartamento ao sul do Central Park, onde trabalhava. Tinha também uma amante, Silvia Hamilton, que morava na Park Avenue – ele escreveu muito por lá, tinha um amigo que tinha um estúdio de arte e numa casa em Long Island que alugou para passar o verão".

Nelson diz que Exupéry estava prestes a deixar Nova York para voltar para a África como piloto quando o livro foi publicado. "O Pequeno Príncipe" não foi um grande sucesso de imediato, foi construindo esse sucesso ao longo dos anos. Com certeza aumentou muito depois do desaparecimento de Saint-Exupéry e, principalmente, quando foi publicado na França em 1946", explica a curadora.

"Por que você acha que 'O Pequeno Príncipe' tocou tão profundamente as pessoas?", quis saber Edney Silvestre. "Este livro é enganosamente simples", responde Christine, "tem uma história muito simples, ilustrações ingênuas e várias camadas de leitura. Ele tem uma mensagem simples que todos podem apreciar, como a da raposa que diz que 'o essencial é invisível para os olhos e só pode ser sentido pelo coração' – uma criança pode entender essa mensagem tanto quanto o adulto".

"Para mim o fato do autor ter transformado a experiência da guerra –esse período tão cheio de desesperança em uma história cheia de esperança é um triunfo!", conclui Christine Nelson.

O cultuado cineasta Orson Welles tinha menos de 30 anos quando leu "O Pequeno Príncipe". Sabe-se que ele conseguiu uma pré-edição e passou a noite inteira lendo. Na manhã seguinte pediu a sua assistente que comprasse os direitos para fazer um filme. "Ele chegou a escrever o roteiro e ia fazer o papel do aviador", conta a curadora. A montagem só não aconteceu porque Welles não conseguiu que a Disney o ajudasse com os efeitos especiais. "Aparentemente briga de egos, e o projeto foi por água abaixo. "Nenhum filme americano sobre o Pequeno Príncipe foi feito até a década de 70".

"O best seller de Saint-Exupéry é o segundo livro mais traduzido de todos os tempos segundo a Universia Brasil", informa Silvestre. "São mais de 250 traduções e mais de 140 milhões de exemplares vendidos". Em português, a primeira edição foi traduzida do francês pelo monge beneditino dom Marcos Barbosa, em 1954. Sessenta anos depois, surge uma nova tradução lançada por Ferreira Gullar pela editora Agir.

"Só se justificou uma nova tradução porque a linguagem coloquial do livro perde a atualidade. Com o passar do tempo, certas expressões vão saindo de uso. Mas procurei traduzir diretamente do texto francês do Saint-Exupéry", afirma Gullar.

A famosa frase da raposa para o "pequeno príncipe" ficou gravada na memória de gerações que leram a tradução de dom Marcos da seguinte forma: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Gullar adaptou para: "Você é eternamente responsável por aquilo que cativou".

"É uma questão de opção pessoal, cada um tem lá o seu jeito. O que se comunica melhor, o que fica mais coloquial –porque a gente quando fala não fica rigorosamente seguindo as normas gramaticais, não é isso? Tem que ter uma conciliação aí. Eu não sou a favor do desrespeito às normas gramaticais, mas a pessoa não pode ficar numa rigidez que perca a espontaneidade", argumenta Ferreira Gullar.

Certamente faz sentido e as novas gerações haverão de conhecer dessa forma sem nenhum estranhamento. Para nós da "velha guarda", o que a raposa disse para o "pequeno príncipe" estará para sempre gravada em nossa tela mental como a vimos em nossa tenra idade e que nos tocou tão profundamente: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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