Renato Kramer

'Prefiro que me chamem de viado do que de polêmico', disse Clodovil em 2005

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"Polêmico é a mãe de quem fala! Eu não aguento esse adjetivo horroroso!", desabafou o estilista e apresentador Clodovil (1937-2009) em entrevista ao "Programa Amaury Jr" (Rede TV) que está reprisando alguns momentos mais marcantes do seu programa no quadro "Há 10 anos...", levado ao ar na última quarta-feira (14).

"Você não se considera polêmico?", perguntou então Amaury, na entrevista de 2005. "Nem um pouquinho. Prefiro que me chamem de 'viado' do que de polêmico", arrematou Clodovil, que nunca teve papas na língua.

Mas as suas afirmações no início da conversa espantaram o próprio apresentador que o entrevistava. "Eu vou te falar com sinceridade. Eu não sou uma pessoa triste, não sou uma pessoa pra baixo, nunca fui, nem vou ser, mas eu adoraria que Deus me levasse embora desse mundo. Esse mundo virou uma merda, Amaury!", soltou Clodovil.

E acrescentou enfático: "Virou uma merda total! Não existe mais escala de valores, não existe mais talento, não existe mais nada". Amaury ressalta a afirmação preocupante do estilista: "Eu quero que Deus me leve?". "Mas eu adoraria", confirmou Clodovil. "Agora?", indagou o apresentador impactado. "Pra mim podia ser hoje!", decretou o estilista.

E argumentou: "Querido, eu não tenho medo de morrer, eu não tenho conta a prestar nenhuma com Deus! Eu não fiz nada de sujo nesta vida. E que me importa o tempo que eu fique aqui, o que interessa é como eu fiquei aqui nesse tempo", continuou sempre muito eloquente.


"Eu não tenho nada que abaixar o olho pra ninguém! Eu não vou carregar peso, eu vim pelado", concluiu. "Você continua dormindo pelado?", emendou Amaury. "Mas isso faz tempo, né, meu filho. Eu adoro fazer o sino balançar", retruca o estilista com seu ar maroto.

Mas muda de assunto de repente e, passando as mãos pela cabeleira volumosa, cutuca: "Agora eu saber se alguém chega aos 66 anos de idade podendo fazer assim (e passa os dedos pelos cabelos) que não cai nada e o cabelo está aí e tudo. E mais que isso: o que está debaixo do cabelo é bom!"

"Você acha que o Brasil continua preconceituoso com os homossexuais?", soltou Amaury de supetão. "Continua, o mundo inteiro. Eu não gostaria de ter um filho homossexual. Eu não! Eu queria que ele fosse lindo, louro, com um 'piru' deste tamanho, alemão, tudo, mas o mundo não é assim!", responde Clodovil sem titubear.

E aí deu-se uma rápida "saia lápis": quando a situação é mais delicada do que a da saia justa. "Você gostaria de não ter nascido homossexual?", perguntou Amaury sem rodeios. "Quem foi que disse pra você que eu sou?", retrucou Clodovil de imediato. "Eu estou te perguntando", recuou o apresentador. "Você já dormiu comigo?", lascou-lhe o estilista. Amaury tentou contornar, mas Clodovil insistiu: "Eu estou perguntando pra você!". "Não, não dormi com você", respondeu Amaury. "Não, né? Então você não pode falar nada", concluiu o entrevistado especial.

Mas Amaury ainda não tinha se dado por satisfeito e arriscou: "Eu estou perguntando pra você...", quando Clodovil cortou: "E por que eu diria pra você? Você põe uma parte do seu salário na minha conta bancária pra eu entregar a minha vida assim pra você? Ah, Amaury, deixa de ser bobo!". "Este é o Clodovil!", exclama o apresentador dando risada. "Ah, tá boa? Imagina!", encerra o intrigante, carismático, provocador e inteligente apresentador Clodovil Hernandes.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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