Renato Kramer

'Foi muito difícil me tornar artista', confessa ator Elias Andreato

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O ator e diretor Elias Andreato esteve no "Marília Gabriela Entrevista" (GNT) para falar da peça que dirigiu com os atores Marco Antônio Pâmio e Ana Cecília Costa, também convidados do programa "A Língua Em Pedaços", em cartaz no CCBB (SP).

Além desta peça, Andreato tem outra direção sua em cartaz: "Rei Lear", com Juca de Oliveira, no Teatro Eva Herz, e ainda atua ao lado de Marília Gabriela na comédia "Vanya e Sonia e Masha e Spike" —em final de temporada no Teatro Faap, ambos em São Paulo.

"Foi muito difícil eu me tornar um artista", conta Elias. "Eu fiz teatro amador e depois estreei no teatro profissional como camareiro e contra-regra do Antônio Fagundes. Trabalhei como técnico também durante algum tempo. Então, para eu me tornar um ator, subir num palco, foi um percurso muito árduo", relembra.

Crédito: João Caldas/Divulgação O ator Elias Andreato em cena da peça "Amigas, Pero No Mucho"
O ator Elias Andreato em cena da peça "Amigas, Pero No Mucho"

"Eu era magrinho, feinho, desprovido de muitas coisas, não é?". "Principalmente de auto estima, não?", interfere Gabi. "Principalmente", concorda o ator. "Então eu tive que provar muito que eu poderia estar ali. Isso gerou em mim uma necessidade de me proteger. Nunca fui uma pessoa maldosa, rancorosa, invejosa, nem determinada a alcançar o sucesso a qualquer preço", diz Andreato.

E acrescenta: "Eu venho de um momento do país que se queria mudar o mundo, e o 'sagrado' do teatro vem daquele espaço onde você consegue transformar o outro".

Ressalta que o teatro fora muito generoso com ele: "Foi onde eu pude melhorar, onde eu pude me aprimorar", conclui. Marília chama a atenção para uma máxima que Elias usa para consigo próprio: "Eu me considero um autodidata e ignorante por conta própria". "Eu acho isso maravilhoso", comenta Gabi. "Você está dizendo que se aprimorou depois que entrou para o teatro, é isso?".

"Exatamente. Eu tinha um caminho na publicidade, trabalhava na Editora Três, tinha um cargo bacana, ganhava bem para a minha idade [17 anos], tinha conta em banco —isso, na década de 70, era um luxo! Até que eu resolvi pedir a conta na editora e fui fazer teatro amador em Osasco. Pegava o trem e comia marmita. O 'sagrado' vem daí. Dessa paixão, dessa entrega por aquilo que a princípio era tão distante do meu universo", observa Elias.

O ator relembra que o teatro na década de 70 era extremamente político, com gente muito engajada politicamente. Eu achava importante mas aquele teatro não me comovia. Quando eu vi Raul Cortez, em cena, (Marco) Nanini, Marília Pêra, a própria Bethânia —o teatro do Fauzi (Arap), aquela poesia, eu falei assim: encontrei a minha turma!", segredou Andreato.

Passou a ser diretor ao abraçar um projeto de fazer teatro com as presidiária do Presídio Feminino da Capital. Ficou durante 6 anos trabalhando lá. "Fiz trabalhos muito importantes na época e foi aonde eu pude me exercitar como diretor. A partir daí, muitas pessoas que iam assistir e gostavam muito do meu trabalho, começaram a me chamar para dirigir", relata Andreato.

"Onde é que você está inteiro: escrevendo, atuando ou dirigindo?", quis saber Marília. "Eu tô inteiro no teatro", responde Elias, sem pestanejar. "Eu acho que eu fui limpando a minha vida até ficar só com o teatro. É uma forma de ficar só —não precisa ficar com pena de mim, eu gosto! Eu sou uma pessoa muito sozinha e o teatro me preenche muito, me ocupa muito tempo. E é onde eu quero estar —não importa se como ator, diretor, cenógrafo, figurinista, iluminador— qualquer coisa ali dentro daquele espaço é o meu pedaço", declara.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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