Renato Kramer

No ano em que completaria 90 anos, Janete Clair ganha homenagem da GloboNews

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"Eu tenho orgulho de ter sido a primeira novelista a ter colocado a mulher com uma atividade participante dentro da sociedade", declarou Janete Clair (1925-1983) na retrospectiva que o "Arquivo N" (GloboNews) apresentou na quinta-feira (9) para comemorar os 90 anos que a autora completaria em 2015.

A novelista, que se tornou líder de audiência na televisão brasileira, escreveu 20 telenovelas que fizeram o povo brasileiro rir, chorar e se emocionar. Alguns dos seus grandes sucessos foram "Rosa Rebelde" (1969), "Véu de Noiva" (1969), "Irmãos Coragem" (1970), "Selva de Pedra" (1972), "O Semideus" (1973), "Fogo Sobre Terra" (1974), "Pecado Capital" (1975), "O Astro" (1977), "Pai Herói" (1979) e "Sétimo Sentido" (1982).

"É uma emoção de alegria, uma emoção de tristeza, é uma emoção de drama... Então acho que você sabendo dosar isso bem... eu não digo que seja uma fórmula para atingir o sucesso, mas é uma maneira de se atingir o grande público. É uma comunicação de gente para gente, de emoção para emoção. Eu não estudei para isso: é uma intuição, é um sexto sentido", declarou certa vez a autora.

"A Janete não tem uma formação, ela aprendeu fazendo", disse o jornalista Artur Xexéo ao "Vídeo Show" em 1995. "Ela tinha uma técnica que permite que hoje você veja os dez mandamentos dela. Por exemplo: Janete é adepta total do final feliz. Segundo: ela sabia que, se o galã não desse um beijo na heroína até o capítulo 16, o público não se ligava na trama."

Crédito: 1977/Folhapress A autora de novelas Janete Clair em foto de 1977
A autora de novelas Janete Clair em foto de 1977

A autora começou a escrever novelas para o rádio, como "Pérolas de Fogo", para a Rádio Nacional (RJ). "Os tempos eram diferentes, e rádio era uma coisa assim muito mais humana, mais perto da gente, mais perto do povo. A televisão dá um distanciamento assim maior. Foi muito bom fazer rádio naquela época", confidenciou a novelista para o "Globo Repórter" em 1983.

Em 1946, Janete conheceu o autor Dias Gomes (1922-1999) na Rádio Tupi Difusora de São Paulo. "Eu achava o Dias um camarada muito antipático, muito irônico, ele ficava na técnica... e não mudou muito. Irônico ele continua sendo. Uma dia eu cometi um pequeno erro e ele começou a debochar até que eu chorei. Então ele se arrependeu muito e começou a vir atrás de mim e a se apaixonar", revelou Janete. Em 1950 eles se casaram e foram morar no Rio.

"O seu Dias Gomes é o meu mestre de escrever", confidenciou Janete em entrevista dada a Leda Nagle em 1982 para o "Jornal Hoje". "Porque eu escrevia sem técnica, mais ou menos, tinha uma vocação, um querer escrever, mas não sabia como fazer. O seu Dias Gomes foi quem me ensinou a técnica de rádio depois a técnica de televisão."

"Quando eu comecei a melhorar foi porque tentei imitar o Dias escrevendo, a verdade eu quero que seja dita", acrescentou.

"Sendo mulher eu acho que entendo mais dos problemas da mulher. É lógico que eu prefiro escrever para personagens femininos", declarou.

Flashes da "namoradinha do Brasil" Regina Duarte em "Selva de Pedra" entram na sequência. Enquanto sua personagem, Rosana Reis, diz um longo texto no último capítulo da novela, créditos anunciam que o capítulo atingira 100% de "share" —ou seja, quase todos os televisores ligados do país estavam sintonizados no final da novela.

"Eu acho que eu entendo um pouco da psicologia do povo. Eu sei o que é que o povo gosta de ver, o que ele gostaria de sentir naquele momento", declarou a "maga das oito". Em 1967, Janete entrou na Globo à convite da autora Glória Magadan para dar uma solução para a novela "Anastácia, Mulher Sem Destino" (1967), que estava com o enredo confuso, uma produção cara e baixa audiência. Mas o primeiro grande sucesso foi mesmo "Irmãos Coragem" (1970).

"Quando eu escrevo é uma coisa, e no ar é outra", observou a campeã de audiência. "Porque a concepção do diretor é sempre outra e dos atores também. E eu quero dizer que eu sempre vejo melhor do que o que eu escrevo. Eu gosto mais do eu vejo do que quando eu estou escrevendo", confessou a novelista. Segundo o poeta Carlos Drummond de Andrade, Janete Clair era a "usineira dos sonhos".

"O que sempre me encantou na Janete foi a coragem de liberar a imaginação, de libertar a emoção, de não ficar presa. A imaginação dela foi o que sempre me fascinou", elogiou Gloria Perez, que foi colaboradora da autora, ao "Memória Globo". "Foi um privilégio realmente poder aprender com ela e poder conviver com a pessoa que ela era. Foi a pessoa que eu encontrei que mais amava o que fazia. Janete Clair escreveu até o último minuto."

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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