"Esse cara foi o maior pegador da década de 70!", é como o apresentador Otávio Mesquita anuncia o cantor Ronnie Von no "Okay, Pessoal!" (SBT) que foi ao ar na última quarta-feira (25).

"Eu não pegava tanto, não", retruca o "pequeno príncipe" da Jovem Guarda, movimento musical pop que comemora os seus 50 anos em 2015. "Pegava sim: pegava gonorreia, pegava sífilis!", replica Mesquita com a sua habitual espontânea falta de noção. E insiste no tema: "Mas você era pegador?". "Há controvérsias, não assim como você está falando", afirma Ronnie.

"Quanto tempo você ficou na Record?", perguntou Mesquita. "Na Record eu estive nos anos 60 ["O Pequeno Mundo de Ronnie Von", 1966], no início da minha carreira, depois voltei na década de 90. Na Gazeta vou completar 11 anos em maio", responde Ronnie. "E com a Cris [a Kika] está casado há?", quis saber Otávio. "Vai fazer 30 anos", respondeu de pronto o cantor. "Isso é homem, não essas merdas que tem por aí!", soltou o apresentador.

"Ronnie, você já fez tudo nessa vida que eu sei", comentou Mesquita. "Quase tudo", corrigiu o cantor. "O que foi que você fez até hoje que você se arrependeu profundamente?", questionou Otávio. "A maioria das coisas! A grande maioria", respondeu Ronnie. "As pessoas falam, não porque eu faria tudo de novo! Eu não penso assim. Eu faria tudo diferente", acrescentou.

"Mas você foi sempre um cara inovador", observou Otávio. "Sim, mas não me deixaram me reinventar nunca. Sempre tive problemas nesse sentido. As pessoas não entendiam o que eu queria. Foi muito complicado", afirma o cantor.

E surpreende ao confidenciar uma grande frustração: "Uma das coisas que de fato eu me arrependi foi não ter partido junto com o pessoal da Tropicália, que era uma coisa que eu acreditava, gostava...". "Achei que aquilo seria realmente o futuro da música popular", declarou o cantor que é reconhecido como um dos ícones da Jovem Guarda.

No farol fechado, o apresentador vira-se para o sempre elegante Ronnie Von e solta: "Já brochou?". "Ainda não", responde rápido o entrevistado. Incrédulo, Otávio declara: "Ronnie, eu sou um sujeito homem, já brochei umas 12 vezes!". "Eu não, ainda não!", confirma o cantor.

Enfim chegam ao verdadeiro destino: a mansão dos Von. "Você pensou que eu ia te levar para um puteiro, não?", brincou Mesquita. "Sabe que eu estava com isso na cabeça? Um lugar que eu nunca fui", responde o dono da belíssima casa. "Olha isso: o Palácio de Buckingham!", comenta Mesquita já entrando.

Entre a decoração clássica de muito bom gosto, objetos especiais como uma caneta que pertenceu a escritora inglesa Agatha Christie e uma pequena escultura do "Pequeno Príncipe", vinda da França como presente da viúva do autor Saint-Exupéry. A copa dá para uma grande área verde, com direito à um pequeno lago com peixes importados, um galinheiro impecável, onde vivem o galo Neymar e a galinha Oprah, além de árvores frutíferas, uma grande piscina e uma quadra de tênis em tamanho oficial.

Ao encontrar Kika, a "dona da pensão" como diz o cantor, Otávio quer a confirmação da própria sobre a afirmação de Ronnie sobre nunca ter falhado. "O pior é que é verdade!", afirma Kika sorridente. "Eu devo ter alguma coisa, porque eu gordinha, baixinha e um artista lindo desses gostar de mim!", vangloria-se Kika.

O apresentador vai até a banheira do casal, entra nela de sapato e tudo e canta "Meu Bem" (Girl - Lennon/McCartney), o primeiro grande sucesso de Ronnie Von. Ao dirigir-se para o closet do casal, Kika faz uma piadinha que diverte muito Mesquita: "Pera aí que eu preciso tirar o Ronnie do armário!". Otávio abre a grande porta do local e solta em alto e bom som: "Ah, saiu do armário! O Ronnie saiu do armário!".

Ao abrir uma primeira gaveta, Otávio encontra as cuecas do cantor. Pega um monte delas, todas brancas e muito bem organizadas, e passa-as pelo rosto cantando uma paródia de "Moça" (Wando). Cheira bem uma das cuecas ("só uso branca", confidencia Ronnie) e comenta: "Meu Deus, é Chanel Nº 5!!!". "Eu conheço esse menino há tantos anos. Ele fica velho e não muda!", declara Kika.

"Eu quero dizer para vocês que tecnicamente eu estou credenciado para fazer esse tipo de brincadeira, porque eu amo esse casal num grau, desde 1900 e alguma coisa!", argumenta o apresentador. Mas ainda não tinha terminado. Ao chegar no quarto do casal, Mesquita dá um jeito de se jogar na cama em cima de Ronnie Von, falseando uma briga: "Cachorro, cachorro!". "Eu sofri o dia inteiro, ele não para!", queixa-se o cantor rindo muito.

"Eu queria até te pedir desculpa se eu passei do limite", faz um rápido "mea culpa" o apresentador. "Imagina, Tavinho! Pelo amor de Deus!", retruca Ronnie. Falando sério pela primeira vez durante toda a entrevista, Otávio tece grandes elogios ao cantor e apresentador e agradece: "Por tudo o que você representa na televisão e pelo carinho que você tem com os amigos".

"Amigo é o parente que você escolhe", observa o cantor. "Essa é a grande riqueza da vida. Tudo vai passar. Mas essas coisas mais densas emocionalmente, a família e amigos, que eu acho uma coisa só, são perenes. Isso não acaba nunca!", afirma Ronnie Von.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"