Renato Kramer

"O Tempo e o Vento" termina e já deixa saudades

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Foi ao ar nesta sexta-feira (3) o último episódio da minissérie "O Tempo e o Vento" (Globo) e deixou um forte gostinho de "quero mais".

Claro que, para quem assistiu à primeira versão que foi apresentada em 25 capítulos, essa nova –condensada em apenas três– deixou uma sensação de que poderia ter mais, muito mais.

A direção de Jayme Monjardim foi realmente primorosa. Criou os climas adequados, caprichou na fotografia e na estética do espetáculo como um todo, sem se esquecer do conteúdo e da emoção dos atores.

A cena da despedida de Bibiana (Fernanda Montenegro) do seu bisneto Rodrigo (Kaic Crescente), para quem ela alertou com orgulho: "Vosmecê não tem só o nome do capitão, tem o sangue dele!", anunciando-lhe de forma serena que estava pronta para morrer, foi envolta em graça e leveza.

Bibiana, num belo vestido branco, diz para o menino: "Agora eu já vou...me prometa que vosmecê vai cuidar de tudo isso aqui".

"Eu prometo", lhe responde o bisneto.


Então ela se dirige ao oratório, faz o sinal da cruz em frente à imagem de Nossa Senhora das Graças e desce a escada do sobrado. Na primeira curva da escada já aparece a atriz que viveu Bibiana em sua fase madura, a firme e discreta Janaína Kremer, e nos últimos degraus é a Bibiana jovem, romântica e sonhadora de Marjorie Estiano. Ela sai porta afora e corre para os braços do Capitão Rodrigo que a espera sorridente.

"Agora vamos, minha prenda, finalmente!", lhe diz o guapo capitão. O pequeno Rodrigo sai na porta e acena para os dois que partem à cavalo. E a voz da senhora Bibiana ecoa nos pampas gaúchos: "Um Terra-Cambará nunca se entrega, nunca!".

Mérito também da direção para o resultado do trabalho de alguns atores que, em recentes participações em novelas, não encontraram o ponto de equilíbrio de seus personagens. Em "O Tempo e o Vento", deram a volta por cima.

É o caso de Igor Rickli, que viveu com garra o seu intempestivo Bolívar (filho do Capitão Rodrigo com Bibiana) e de Mayana Moura, que conseguiu convencer com as esquisitices da sua desequilibrada Luzia (esposa de Bolívar).

Boas participações de Paulo Goulart, José de Abreu, Suzana Pires, Leonardo Medeiros, Rafael Cardoso, Marat Descartes, Vanessa Lóes, Leonardo Machado e Carlos Cunha –entre outros, enriqueceram ainda mais a minissérie.

"Fique tranquilo, padre, ainda não fabricaram uma bala que há de me matar!", disse o Capitão Rodrigo (Thiago Lacerda), momentos antes de levar um tiro traiçoeiro pelas costas. O ator conseguiu imprimir a sua marca em seu Capitão Rodrigo. Belo trabalho.

"Eu quase posso ouvir a voz de minha vó Ana Terra soprando em meus ouvidos: Bibiana, Bibiana! Nem sempre a gente pode fazer pechinchas com a vida!", segreda a velha e sábia Bibiana. Magistral.

O grande problema da minissérie "O Tempo e o Vento", do grande autor Érico Veríssimo, é que terminou!

Textos como esse é que precisamos ver encenados cada vez mais na televisão: trabalhos com estrutura, bem escritos, com conteúdo profundo, emoção verdadeira, com diálogos pertinentes e inteligentes.

Senão, seremos obrigados a continuar assistindo esse monte de coisa chata.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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