Nada de muito surpreendente aconteceu no capítulo final de "Salve Jorge".

Quem acreditou na conversão de Wanda (Totia Meirelles), que afirmou ter encontrado Jesus na cadeia -- sem nem dizer em quê ela fora enquadrado?!? Nem ela própria. Livia Marini (Claudia Raia) muito menos. A mafiosa preferiu encontrar o diretor do presídio, que poderia ser-lhe imediatamente mais útil.

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Um tanto quanto inesperado foi o "striptease" da vilã. Provavelmente o melhor momento da atriz na novela. Embora Claudia Raia estivesse exuberante nesta cena, isso não chegou a redimi-la do visível equívoco que houve na elaboração de sua importante personagem.

Desnecessário retomar o assunto "formação de casais a qualquer preço", muito menos o canhestro acaso que uniu Érica (Flávia Alessandra) e Haroldo (Otaviano Costa). A forma com que as amigas da tenente, Márcia (Fernanda Paes Leme) e Julinha (Cris Vianna), se "casaram na festa" então foi de uma naturalidade espantosa.

Em alta a estratégia que Lohana (Thammy Miranda -- uma das gratas surpresas da novela) usou para seduzir Russo (Adriano Garib) e prendê-lo. "Você quer me algemar, vadia?", perguntou o perverso. "Vai ser inesquecível", retrucou Lohana tirando a peruca, "você tá preso! Perdeu, Russo!". Falsa ficou a surra que as garotas traficadas já libertas deram mais tarde em seu carrasco.

E a junção do mau caráter Celso (Caco Ciocler) com a pilantra da Amanda (Lisandra Souto)? Esquisito. Muito esquisito. Em contrapartida, excelente a reação e o confronto de Dona Leonor (Nicette Bruno), ciente da traição, com sua melhor amiga Isaurinha (Nívea Maria).

"Super Helô" foi o centro das atenções ainda uma vez: estava belíssima no seu novo casamento com Stênio (Alexandre Nero). O que não causou nenhum estranhamento, pois a "doutora" foi a coadjuvante que mais protagonizou a trama toda.

Espirituosa a aparição da esposa de Seu Galdino (Francisco Carvalho), que deu um toque especial em suas intervenções no Alemão. Mas quem roubou a cena na comunidade foi Maria Vanúbia (Roberta Rodrigues), aquela que não é bagunça! Nem no último capítulo Pescoço (Nando Cunha) desistiu de espiar a moça no banho de sol da laje. E a marrenta aproveitou para jogar isso ainda uma vez na cara da rival: "aceita que dói menos, Delzuite (Susana Badin)!". Grande Maria Vanúbia -- "pipipipi, só no recalque!", costumava dizer a dançarina toda trabalhada no glamour.

Aisha (Dani Moreno) voltou para casa, sempre com aquela musiquinha esotérica de fundo, para reencontrar Berna (Zezé Polessa) e Mustafá (Antonio Calloni). E agora quer levar toda a sua família brasileira para passear na Turquia. É bem provável que isso também não dê muito certo, mas a menina é mimada e o seu "rabisco", como o chamou Pescoço, faz todas as suas vontades.

Zyah (Domingos Montagner), outro chato que não sabe o que quer, fica com Ayla (Tânia Kalill), mas sofre a ausência de Bianca (Cléo Pires) que já desapegou: aparece bela e faceira numa praia de nudismo ao lado de sua amiga Maitê (Cissa Guimarães).

E os protagonistas em meio a tudo isso? Sim, Théo (Rodrigo Lombardi) e Morena (Nanda Costa) são recebidos com fogos e festas no Alemão, junto aos filhos Júnior e Jéssica. A imagem da família reunida e feliz, ao som de "Esse cara Sou Eu" (Roberto Carlos), encerra "Salve Jorge". Mas fica a questão: será que Jorge realmente os salvou?

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"