Marcelo Arantes

Por que o Brasil odeia Patrícia, do BBB 18

Emparedada, cearense tem altos índices de rejeição

Patrícia no BBB 18
Patrícia no BBB 18 - Reprodução Globo
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A hipocrisia, definida como o ato de fingir um comportamento ou agir com falsidade, tem origem em mecanismos de defesa primitivos inconscientes e permite construir uma falsa convivência.

Em nosso cotidiano, convivemos com a hipocrisia rotineiramente, e pelo fato de estar tão impregnada nas relações humanas, termina aceita e assimilada, principalmente por sujeitos carentes ou com baixa autoestima. Estamos acostumados a vê-la em familiares, políticos, colegas de trabalho, e geralmente não há o que possa ser feito diante dela, pois como mudar uma pessoa que não é sincera consigo mesma?

No BBB 18, os jogadores Patrícia e Diego fazem da hipocrisia e do cinismo sua estratégia de manipulação. Egoístas, permitem-se executar qualquer ação desde que esta lhes proporcione benefícios individuais. Ao compartilhar com o público suas estratégias, parecem equivocadamente acreditar que estão respaldados para agir livremente, fazendo da audiência e da direção do programa seus aliados.

Patrícia mentiu tanto para os colegas, que até a saída de Gleici para o Quarto Farol, que permitiu a esta ouvir os diálogos entre a cearense e Diego, parecia que ninguém dentro da casa escapava de sua técnica de sedução. Sua singularidade seduziu até um dos mais espertos concorrentes da temporada, Kaysar, fazendo dele não apenas uma aliado de votação, como também seu capacho. Em um episódio pouco divulgado pela emissora, Patrícia assediou-o sexualmente debaixo das cobertas, estimulando sua rejeição por boa parte da audiência que elegeu o sírio como o queridinho desta edição.

Fugindo do padrão estético modelo-atriz-bailarina das concorrentes, embora mentisse que fosse cantora de uma banda de forró, Patrícia no início demonstrava ter sido escalada pela produção do BBB para fazer uma personagem cômica, mas aos poucos percebeu-se que seu humor era perverso. Para o público, herdou a antipatia da melhor amiga, a ‘bruxa’ Ana Paula, e em muitos momentos é chula e fala obscenidades. Lentamente foi deixando de ser engraçada para se tornar uma víbora traiçoeira.

Ao fingir demonstrar interesse pelas questões pessoais dos concorrentes, na frente deles Patrícia se mostrava habitualmente simpática, inteligente, líder, sorridente e compreensiva, mas bastava trancafiar-se no quarto com o maior estrategista da casa, Diego, para destilar toda a sorte de maldade sobre as mesmas pessoas que elogiava minutos antes.

Ambos equivocadamente se esquecem de que os espectadores podem projetar suas antipatias cotidianas nos personagens do BBB, e a raiva que público sente, por exemplo, do colega de trabalho ou do cunhado hipócrita pode atingir outro destino. No mundo real, certamente a maioria das pessoas gostaria de lidar com pessoas hipócritas e cínicas eliminando-as. O BBB lhes possibilita isso.

Nas redes sociais, o ódio a Patrícia sinaliza o sucesso desta edição enquanto estímulo à rejeição. Até os responsáveis pelas contas de Kaysar estão pedindo a cabeça dela, e o sírio sequer imagina que contará com mais essa força do destino.

Com a saída de sua comparsa do jogo, Diego deve se unir ao conluio de Viegas, Wagner e Caruso para tentar sobreviver. O jogo passa, assim, a ter dois grupos mais bem definidos, já que estes antagonizarão Família Lima, Gleici, Paula e Breno.

Sobram Jessica e Kaysar flutuando sozinhos, a primeira com limitações cognitivas para compreender o jogo, o segundo perdido em um personagem moralmente danificado pela proximidade com Patrícia. Ambos presas fáceis para a tropa dos marmanjos. Buscarão proteção, afinal, sem alianças dificilmente chegarão adiante.

Embora o jogo tome nova forma a cada semana, a tropa tende a eliminar primeiramente Jessica e Wagner, os desertores. Tudo indica que o primeiro alvo será Wagner, o desobediente que votou em Diego no último paredão, e para quem este já prometeu vingança. Wagner alega que seu voto fora para prolongar a estadia na casa e não queria se tornar “o Mahmoud da vez”. Com este discurso, reconhece que não tem o perfil de vencedor. Não lhe resta outro caminho que não se aliar à Familia Lima e Gleici, mantendo intencionalmente sua estratégia de cortejar/seduzir a acriana por considerá-la uma forte candidata ao prêmio. Deseja sobreviver à sombra dela.

Antes de deixar o BBB18 com altíssimos índices de rejeição, segundo a enquete do F5, Patrícia tem visto o mundo desmoronar à sua frente. Articulou a indicação de Paula e Gleici mas viu ambas retornarem. Passou a ser sutilmente rejeitada por Kaysar desde que este percebeu a popularidade de Gleici. Esta, ao retornar ao programa, revelou a hipocrisia de Patrícia aos demais jogadores e quebrou a atmosfera de dominação e autoconfiança construída por ela e Diego, despertando a ira da cearense.

Após ter sido lançada sem piedade ao paredão, Patrícia recebeu ainda o castigo do monstro, viu o melhor amigo também ser indicado à eliminação, perdeu a prova da comida e foi para o grupo "Tá com nada". Depois cometeu uma infração ao usar uma panela do outro grupo e seu grupo foi punido com a retirada da proteína da alimentação.

Os hipócritas sempre caem em suas próprias contradições. A técnica para lidar com eles consiste em não iniciar discussões, já que eles virão com inúmeros argumentos e bastante drama. Deve-se apenas revelar a contradição, tal como Gleici fez habilmente ao retornar do jogo.

Presunçosa, Patrícia repetiu às câmeras que não é falsa e não mente. Ela pode até enganar meio dúzia de correligionários, mas só a audiência terá o poder de definir se isso de fato é verdade. E ao que parece, deve perder de lavada.

Marcelo Arantes

Marcelo de Oliveira Arantes (@dr_marcelo_) é psiquiatra, mora em São Paulo e comenta o "BBB" há dez anos, desde que participou do "Big Brother Brasil 8". É autor de “A Antietiqueta dos Novos Famosos”.

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