Aguinaldo Silva põe à venda escola de teatro em São Paulo
Enquanto negocia nova série para a TV, ex-autor da Globo pretende mudar de vez para Portugal
Longe da Globo desde 2020, quando a emissora anunciou que não renovaria o seu contrato, Aguinaldo Silva tem permanecido mais tempo ainda em Lisboa, Portugal. Mesmo ao longo de seus últimos anos como autor de novelas da emissora, onde trabalhou por 40 anos, era lá que ele já vinha passando as temporadas mais longas, com breves intervalos para visitar o apartamento que mantém na avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, e o apartamento da avenida Higienópolis, em São Paulo.
O endereço paulistano veio na esteira da Casa Aguinaldo Silva de Artes, estabelecimento criado por ele em 2018 na rua Major Sertório, na Vila Buarque, centro de São Paulo, que mantém um teatro com 100 lugares e uma escola para cursos de interpretação, direção e roteiro.
Agora, disposto a permanecer em Portugal sem mais ter de se preocupar com a manutenção daquele espaço, Aguinaldo está colocando a escola de teatro à venda.
Ex-aluno de roteiros seu e autor da adaptação de Lili Carabina e "Luz Del Fuego" para o teatro, Júlio Kadetti está encarregado de encontrar um novo interessado no espaço. A prioridade é manter o local no segmento cultural, mas até agora, só pareceram igrejas interessadas em comprar o imóvel, aproveitando o excelente teatro ali montado.
Em cinco anos, o teatro, como todos os demais, se viu fechado em função da pandemia. Em outros períodos, foi palco para várias peças, enquanto a escola abrigou uma série de cursos com outros profissionais e com o próprio Aguinaldo, que chegou a ministrar palestras, aulas e eventos no local, como aponta a imagem deste texto, um registro de uma apresentação sobre os vilões de Shakespeare e os malvados de suas obras.
Intérprete do Crô, lendário personagem de "Fina Estampa", depois estendido a dois filmes, Marcelo Serrado lhe fez companhia na ocasião.
Entre as grandes vilãs eternizadas pelo autor, está Nazaré, de Renata Sorrah, que rendeu farta produção de memes, mesmo sendo uma figura criada em 2003, em "Senhora do Destino", tão antes do que se entende sobre viralização na internet.
O autor deu ainda vida a Perpétua, da obra de Jorge Amado, que ganhou o rosto de Joana Fomm em "Tieta" (1989), e a Altiva, um dos papéis favoritos de Eva Wilma, presente em "A Indomada" (1997).
O dramaturgo também ministrou lá sua masterclass de roteiro, curso que promoveu também em outra escola de teatro em que investiu anteriormente, em Petrópolis (RJ). Foi lá que nasceu um dos grandes problemas, talvez o maior, enfrentado por Aguinaldo na Globo, quando um de seus ex-alunos, Silvio Cerceau, reivindicou na Justiça a coautoria de "O Sétimo Guardião", última novela do autor na emissora, alegando que o argumento nasceu de uma criação coletiva em sala de aula.
A emissora acabou colocando os nomes de todos os alunos da ocasião nos créditos finais.
APOSENTADO?
Após deixar a Globo, Aguinaldo fez várias menções de que seguiria contando histórias e não tinha planos de parar de escrever. Cogitou-se sua presença em alguma nova produção da Netflix e mesmo da TV portuguesa.
Dono de duas estatuetas do Emmy Internacional, ele não se mostra interessado em parar, mas vem aproveitando a vida com mais tranquilidade do que nos tempos de Globo. Com frequência, publica imagens de seus passeios em Portugal e dos prazeres à mesa, um hábito seu, que já foi dono de restaurante e adorava colocar um chef de cozinha em suas novelas.
Agora, aguarda o andamento das negociações de um novo projeto, "Land of Shadows", série luso-brasileira que aborda um romance entre dois soldados no século 17.
Guto Colunga, CEO e fundador da produtora brasileira Diosual Entertainment, que compreende a divisão de filmes Diosual Pictures Studios e Diosual Television Studios, revelou detalhes sobre a série ao site Deadline no mês passado. A previsão é começar a gravar no início de 2024 e a direção está nas mãos de Pedro Vasconcelos, também ex-Globo.
Sem título em português, "Land os Shadows" se passa em Olinda, vila brasileira, durante a Capitania de Pernambuco em 1604 e 1605, e revela como a igualdade dos soldados os coloca em oposição ao Santo Ofício da Inquisição de Portugal.
O enredo aborda ainda as perseguições aos cristãos-novos, os abusos contra mulheres e o romance entre a esposa de um fazendeiro de cana-de-açúcar e um de seus escravos.
Esta coluna tentou falar com Aguinaldo em algumas ocasiões nos últimos dois anos, mas não obteve retorno seu. Recentemente, propus uma conversa sobre os 35 anos de "Vale Tudo", novela icônica que ele escreveu com Gilberto Braga e continua atual, mas Aguinaldo não respondeu.
Comentários
Ver todos os comentários