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Zapping - Cristina Padiglione

Programa Silvio Santos chega aos 60 à imagem dele, mas sem ele

Edição comemorativa sanou a ausência do animador com a presença de um elenco nostálgico, das colegas de trabalho e das filhas

Cédulas de dinheiro no cenário do Programa Silvio Santos
Imagem dos aviõezinhos de cédulas de dinheiro, tradicional elemento do Programa Silvio Santos, em edição comemorativa de seus 60 anos - Cristina Padiglione/FolhaPress
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São Paulo

Foi uma festa para Silvio Santos, sem a presença física de Silvio Santos. Mas tudo naquele auditório pilotado pela filha número 4, Patrícia Abravanel, remetia a uma nostalgia latente desses 60 anos de programa. A gravação da edição comemorativa, nesta terça-feira (30), na sede do SBT em Osasco (SP), mereceu até a presença ligeira do vice-presidente Geraldo Alckmin, que fez questão de lembrar de quando esteve com Silvio na competição Cidade X Cidade, em 1977, como prefeito de Pindamonhangaba (SP).

Alckmin entrou por corredores laterais e sequer foi visto pelos artistas que lá estavam, como os jurados do Show de Calouros, um dos quadros mais marcantes dessas seis décadas, com Décio Piccinini, Sônia Lima, Flor, Leão Lobo, Sérgio Malandro, Nelson Rubens, Luís Ricardo e Mara Maravilha, que começou no SBT nesta função, antes de virar apresentadora infantil.

Os jurados mortos foram homenageados com imagens em um telão ao fundo do palco, como se ali estivessem também entrando: Elke Maravilha, Pedro de Lara, Wagner Montes e Aracy de Almeida. E a trilha sonora que anunciava que "agora é hora de alegria, vamos sorrir e cantar", emendando um "Silvio Santos vem aí", fazia crer às colegas de trabalho presentes na plateia, jornalistas e familiares convidados para a ocasião, que realmente o Homem do Baú poderia adentrar naquele palco a qualquer momento.

Até o último instante, houve quem acreditasse que ele estaria só pregando uma peça, ou uma pegadinha, ao modo Ivo Holanda, que também estava lá. Na cartolina de um dos contrarregras, logo após os nomes dos jurados chamados ao palco, um a um, estava justamente escrito em vermelho: "Silvio Santos".

De fato o nome dele foi chamado, ao final de todos, e na sequência veio uma imagem antiga do patrão entrando no palco, como acontecia no Show de Calouros.

O caso é que Senor Abravanel de fato não apareceu fisicamente, mas foi estranho pensar que ele estava tão presente na moldura de todo aquele circo, e digo circo no melhor que a arte circense tem a oferecer: diversão.

Patrícia chamou ao palco o casal lendário do Namoro na TV, juntos há décadas, e fruto de uma época em que apenas um homem escolhia entre 15 mulheres, como se ele fosse o próprio George Clooney.

Não houve julgamento sobre episódios que envelheceram tão mal como esse, ao contrário: a plateia ria dos absurdos que ali eram evocados, de imagens antigas a histórias recontadas. Uma das imagens sacadas do acervo mostrava Nelson Rubens perguntando a Roberta Close como ela se sentia "tendo nascido homem e vivendo como se fosse uma mulher".

Por menos que isso, Rubens Ewald Filho foi afastado da transmissão do Oscar da TNT, em 2018.

Pérolas envolvendo as próprias filhas também foram revisitadas, mostrando que as meninas herdaram o sarcasmo elegante do pai, coisa de quem é capaz de rir de si. Rebeca Abravanel, a filha número 5, foi chamada ao palco pela irmã apresentadora para rever o dia em que, ao participar de uma gincana de conhecimentos com o pai, não sabia informar em que ano ocorreu a proclamação da República.

Cantores como Nahim, Markinhos Moura, Márcio do Trio Los Angeles, Silvinho, Lilian, Ovelha e outros reviveram uma disputa ao modo Qual é a Música, quadro que teve em Ronnie Von seu maior vencedor, tendo emplacado 25 vitórias em rodadas consecutivas. E foi o próprio Ronnie quem surgiu no palco para relembrar como era tenso aquele circuito de disputas a cada domingo.

Boni, o ex-todo poderoso da Globo, gravou um depoimento para a edição, atestando que Silvio é "o maior apresentador do mundo" e agradecendo ao fato de ele ter emprestado dinheiro para a Globo quando a emissora estava apenas começando e ele, Senor Abravanel, era um locatário da grade da emissora aos domingos.

Lançado em 1963 pela TV Paulista, canal 5 de São Paulo, que depois seria comprado por Roberto Marinho para formar a rede de emissoras da Globo, o Programa Silvio Santos chegou a ocupar 9 horas do domingo.

Patrícia lembrou as piadas de Ary Toledo, que também compareceu ao palco, levado em cadeira de rodas. Rememorou ainda o quadro dos transformistas que, com suas performances, fazia enorme sucesso nos anos 1990.

Chamada ao palco para representar o marido no final da homenagem ao Show de Calouros, Iris Abravanel se dirigiu à câmera e falou à lente como se falasse diretamente ao marido, na certeza de que ele só verá tudo isso quando a cena aparecer no seu televisor, no próximo domingo.

Iris contou que Nelson Rubens foi o primeiro a noticiar o namoro dos dois e que Silvio prometeu matá-lo pela fofoca, mas um mês depois acabou contratando Rubens. "Ele não guarda mágoa de ninguém, esquece tudo", assegurou ela.

Personagens como Roque, o fiel ajudante de palco, e elementos como as cédulas de dinheiro que o patrão se habituou a jogar para o seu auditório completavam um cenário todo decorado pela remissão a Silvio Santos, fazendo crer que a imagem dele pode recompensar em boa parte sua ausência física, como se fosse um holograma ali presente.

Na tela da TV, a miscelânea de cenas do passado e de um presente abarrotado de nostalgias há de corroborar esse efeito especial. Tomara.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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