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Zapping - Cristina Padiglione

Globo fornece aos gringos a brasilidade que ostenta

Grupo se gaba de ser 'a casa do audiovisual brasileiro' logo após Netflix anunciar novela com talentos dispensados pela emissora

Profissionais do audiovisual em palestra no Rio
Ao lado de Juliana Paes, o ator Vladimir Brichta fala sobre a primeira novela da Netflix no Brasil, dirigida por Maurício Farias e escrita por Ângela Chaves, todos ex-Globo, a convite da VP da Netflix, Elisabetta Zenatti, durante o Rio2C - Cristina Padiglione/Folhapress
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Rio de Janeiro

Sublinhar a brasilidade se tornou o trunfo da Globo frente a concorrentes estrangeiras que fazem do grupo da família Marinho um Davi diante de alguns Golias na disputada seara do streaming. Foi nisso que os profissionais a serviço do grupo se apegaram durante o painel Do Plim ao Play, no evento Rio2C, onde foram anunciadas produções previstas para os próximos dois anos.

Realizado na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, o evento é hoje o palco mais importante do setor no Brasil, onde roteiristas, produtores, diretores e distribuidores se encontram, sendo portanto também ocupado por representantes das gigantes gringas --Netflix, Warner Bros. Discovery, Prime Video e Paramount-- que operam no país.

O discurso dos executivos Amauri Soares (TV Globo e Estúdios Globo) e Erick Brêtas (GloboPlay), corroborado um tom acima por Silvio Guindane, ator e diretor que atua e dirige em novas produções para o streaming do grupo, ocorreu no mesmo palco onde, poucos minutos antes, a Netflix havia anunciado oficialmente o casal Juliana Paes e Vladimir Brichta como protagonistas da tão aguardada primeira novela que a plataforma produzirá no Brasil.

Com realização da produtora A Fábrica, o folhetim em questão, "Pedaço de Mim", será escrito por Ângela Chaves e dirigido por Maurício Farias. Do diretor aos atores, passando pela autora, foram todos formados em televisão pela mesma Globo que ostenta toda a sua brasilidade.

Enquanto seus ex-colegas ensaiavam esse script nos bastidores do palco, Brichta, Paes, Farias e Chaves, que não tiveram seus contratos renovados pela empresa brasileira, celebravam, diante da plateia, a nova empreitada e a perspectiva de alcançar cento e tantos países simultaneamente.

No momento em que a rede brasileira reestrutura seu modelo de gestão pessoal, abrindo mão de contratos exclusivos e enxugando como nunca seu quadro de funcionários e colaboradores, o mercado audiovisual enaltece tanto quanto Silvio Guindane a presença de empresas não brasileiras dispostas a produzir em nosso solo.

É evidente que a Globo está no seu papel para garantir a boa imagem de que goza entre público e criadores. Bater no peito para dizer que é brasileira é a carta que lhe resta diante de conglomerados mundiais que faturam zilhões e lhe promovem uma concorrência de arrancar o fôlego.

Mas, aos olhos de quem está de saída da "casa do audiovisual brasileiro", essa premissa tem valor nulo. Para os talentos que tiveram ofertas melhores ou ficaram sem projetos na Globo, a comemoração que se impõe é ver empresas estrangeiras investindo no setor, empregando grandes nomes formados pela emissora e, por que não, fazendo-lhe a concorrência que os demais canais abertos nunca conseguiram alcançar.

Nesta quinta (13), foi a vez da Warner Bros. Discovery (WBD) anunciar também sua primeira novela no Brasil, com Camila Pitanga e Murilo Rosa, além de outras séries e documentários nacionais a serem escritos, dirigidos e encenados por brasileiros tão brasileiros quanto os brasileiros que trabalham na Globo.

O mesmo aconteceu com o Prime Video, cuja série de língua não inglesa hoje mais vista por seus assinantes no mundo é a brasileira "Dom", realizada pela produtora brasileira Conspiração, com atores brasileiros que também ganharam fama pela tela da Globo.

Em resumo, nessa cena somos todos brasileiros.

A jornalista viajou ao Rio a convite da Netflix

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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