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Zapping - Cristina Padiglione

Melhem exibe outras mensagens inéditas que contrariam relatos da acusação

OUTRO LADO: Acusadores citam documento da Globo que menciona infração ao código de ética, para reforçar denúncia

Entrevista
O ator e roteirista Marcius Melhem em entrevista ao portal Metrópoles - Reprodução youTube
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São Paulo

O ex-diretor do núcleo de humor da Globo, Marcius Melhem, apresentou em novo vídeo publicado em seu canal no Youtube uma série de mensagens que ainda permaneciam inéditas e foram trocadas com algumas das mulheres que o acusam de assédio moral e sexual no período em que ele chefiou o departamento na emissora.

Alguns relatos dizem respeito ao período que antecedeu sua nomeação para o cargo, quando ele já tinha uma posição hierárquica superior à delas, embora não tivesse poder de decisão, como explica ao longo da edição, que resgata todo o contexto do funcionamento daquela equipe dentro do modelo em que funcionava a TV Globo e o núcleo de humor na época.

Com mais de duas horas de gravação, o material, segundo Melhem, teria o propósito de esclarecer o que ele chama de "mentiras" e "barbaridades" ditas a seu respeito, e de dar sua versão, calçado por prints de mensagens de texto e áudio, além de fotos e vídeos sobre episódios relatados por elas e um grupo de apoiadores ao portal Metrópoles em edição publicada no dia 24 de março.

Melhem também resgata o vídeo de sua entrevista ao veículo, gravada por ele com consentimento do portal. E seleciona trechos que não foram ao ar na edição publicada na ocasião, a fim de comentar ponto a ponto elementos que ele considera essenciais para a compreensão do caso completo, iniciado nos bastidores da Globo.

O ex-diretor também publica a íntegra da gravação feita com os repórteres Guilherme Amado e Olívia Meireles, sustentando que não poderão dizer que ele manipulou a atual edição. E propõe que o mesmo seja feito pelo grupo que conversou com Amado e Meireles, formado pelas atrizes Dani Calabresa, Renata Ricci, Georgiana Góes, Veronica Debom, Maria Clara Gueiros, as roteiristas Luciana Fregolente e Carolina Warchavsky, os diretores Cininha de Paula e Mauro Farias, e os atores Marcelo Adnet e, remotamente, Eduardo Sterblicht.

Melhem acusa o grupo de ter sido dirigido por uma profissional de dramaturgia, Flávia Lacerda, cuja imagem surge de relance em um momento da edição exibida. Na sua percepção, houve a tentativa de se criar uma narrativa convincente e emocional para ganhar apoio público. O jornalista Guilherme Amado, que conduziu o encontro com o grupo e também ouviu Melhem para o Metrópoles, afirma que a diretora era uma convidada das acusadoras, assim como ele contou com pessoas de sua confiança no local onde gravou sua entrevista.

Desde que foi acusado de assédio por meio da imprensa, após deixar a Globo, em 2020, o roteirista busca a esfera jurídica para provar sua inocência e apresenta mensagens de conversas que contrariam as versões das acusadoras.

Nos trechos inéditos apresentados de sua entrevista ao Metrópoles, Melhem pergunta a Amado se Verônica contou que manteve um romance com ele por um ano. O repórter confirma que sim. Como a informação não constava da edição publicada pelo portal, Melhem exibiu um trecho do que a atriz e roteirista disse sobre ele, para apresentar conversas mantidas com ela por áudio e texto no WhatsApp, evidenciando o romance dos dois ainda em 2019, quando as acusações tiveram início.

"Eu me apaixonei por você e levei um pé na bunda", ela diz em uma das mensagens.

O roteirista volta a exibir desencontros entre as versões que teriam levado um grupo a seguir os passos de Dani Calabresa e a sugestão de que ele seria um assediador, lançada por outra ex-namorada não presente no encontro promovido pelo Metrópoles.

Nega que tenha tentado diminuir o talento das profissionais, como elas dizem, e mostra mensagens de incentivo a elas enquanto trabalhavam juntos. Também volta a rebater a roteirista Luciana Fregolente, segundo ele, "mitômana", sobre ter ofuscado os créditos que ela achou que lhe caberiam na assinatura de uma série adaptada de um livro para o Fantástico.

A respeito da insinuação de que ele teria criado uma casa de roteiristas para afastar o grupo do convívio com outros colegas na Globo, como foi dito no grupo ao Metrópoles, Melhem citou um modelo que vigorava antes dele na emissora, muito mais propício a assédio, quando apartamentos de flats eram alugados para roteiristas trabalharem. De fato isso era uma praxe, como esta colunista atestou em outros tempos.

E explicou que a casa ficava ao lado da sede da Globo, no Jardim Botânico, com toda a estrutura de trabalho que faltava aos flats. "Tinha autor que se separava da mulher e ia morar no flat", lembra ele.

OUTRO LADO

Procuradas pela coluna, Verônica Debon e Dani Calabresa disseram que não comentariam mais nada. Maria Clara Gueiros indicou que a reportagem procurasse pela advogada Mayra Cotta, que representa as supostas vítimas, e esta enviou, em nome de todo o grupo presente na conversa com o Metrópoles, a seguinte nota: "É revelador que ele fala por duas horas para atacar somente as mulheres que participaram da entrevista, mas não fala um minuto sequer que o próprio compliance da Globo afirma categoricamente que ele violou o código de ética da empresa quando era chefe delas."

"Assinam a nota: Carolina Warchavsky, Cininha de Paula, Dani Calabresa, Eduardo Sterblich, Georgiana Goes, Luciana Fregolente, Maria Clara Gueiros, Mauro Farias, Marcelo Adnet, Renata Ricci e Veronica Debom."

O jornalista do Metrópoles Guilherme Amado disse que não comentaria a réplica de Melhem porque não havia visto o vídeo, mas confirmou que ele gravou a entrevista com consentimento da reportagem. "Ele pediu", disse.

CÓDIGO DE ÉTICA X DEMISSÃO

Com conhecimento sobre o documento citado na nota da defesa das supostas vítimas, a coluna questionou Melhem e a Globo sobre o assunto. Se ele feriu o código de ética, por que o anúncio sobre o seu desligamento, ainda em 2020, foi feito com elogios e agradecimento pelos serviços prestados, algo a que não tiveram direito outros profissionais dispensados após divergências internas?

"A Globo não comenta casos levados ao seu Compliance e aproveita para reiterar que a empresa mantém um Código de Ética em linha com as melhores práticas atualmente adotadas", reagiu a Globo, por meio de sua assessoria de Comunicação.

"É importante ressaltar ainda que a Globo, sempre que solicitada", prossegue a nota da emissora, "forneceu às autoridades todas as informações sobre o caso. As informações prestadas às autoridades ocorreram na medida em que a Globo foi demandada (em alguns casos, anos depois dos fatos), mas refletem precisamente o que ocorreu à época, no processo de Compliance e no desligamento de Marcius Melhem", conclui.

Já o roteirista diz à coluna que "mais uma vez, a defesa faz uma nota vaga, que não vai ao centro da questão". "Onde estão as provas de que eu sou aquela pessoa que fez tudo de que me acusam? Quem apresentou provas fui eu", sustenta.

"Revelador", segue ele, "é que a defesa desse grupo não tenha nenhuma explicação para as mentiras que foram reveladas, ponto a ponto. Eles se agarram a uma carta da Globo que é vaga, feita por uma pessoa que não estava lá na época do Compliance, e que fala em código de ética, mas não diz como nem por que nem em que situação", afirma.

"[O documento] Não fala de assédio, e é uma carta que não traduz a verdade da minha saída, que como foi explicado à época, aconteceu de comum acordo e com todos os meus direitos garantidos após a investigação do Compliance."

Melhem lembra que a investigação do departamento interno da empresa é baseada em relatos: "O Compliance não produz provas, tudo isso que o público agora vê e a Justiça vê, a Globo não viu."

"A Globo não teve interesse porque não poderia dizer a mim quem me acusava nem do que me acusavam, de modo que eu nem poderia apresentar provas sem saber do que se tratava. O que aconteceu ali foi que um conjunto de pessoas juntou suas vinganças contra mim para me derrubar. De todo modo, a direção entendeu que nenhuma investigação comprovou nenhuma infração grave que merecesse uma demissão que não fosse com todas as honras e direitos, inclusive uma carta me elogiando".

"Por fim, não é verdade que não toquei nesse assunto. A íntegra da entrevista está lá, com tudo muito bem explicado em meu canal. Aproveito e convido o outro lado a publicar a íntegra de sua entrevista também. Mas duvido que façam. Seria revelador", encerra.

Confira abaixo o vídeo de Melhem em reação às edições do Metrópoles:

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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