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Zapping - Cristina Padiglione
Descrição de chapéu Três Perguntas Para...

Patroa justa em 'Além da Ilusão', Malu Galli adoraria viver uma vilã

Atriz comenta semelhanças entre atual personagem e Lygia, de 'Cheias de Charme'

Malu Galli como Violeta em 'Além da Ilusão' - Mauricio Fidalgo/Globo
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Campinas

Há dois meses no ar como Violeta na novela "Além da Ilusão", Malu Galli, 50, parece ter pré-disposição para dar vida a patroas fortes, justas e íntegras. Há dez anos, a atriz era Lygia em "Cheias de Charme" (2012). Chefe de Penha (Taís Araújo), a advogada era uma das poucas moradoras de um condomínio caro a oferecer condições de trabalho dignas à sua empreguete.

Na época, as discussões sobre os direitos das empregadas domésticas movimentavam o Brasil e tramitavam no Congresso, sob o nome de PEC das Domésticas.

A relação de Penha e Lígia levou à televisão um exemplo, e resultou em um vídeo publicitário feito pela Globo em parceria com a Organização Internacional do Trabalho.

A atriz relembra o episódio e comenta as semelhanças entre Lygia e Violeta, que na novela das seis apoia os trabalhadores da tecelagem e incentiva conquistas trabalhistas como o direito à creche e a licença-maternidade.

Ela comenta ainda sobre a força de Violeta, mulher feminista nos anos 1930 e 1940 e esposa do juiz Matias (Antonio ​Calloni), e confessa o desejo de dar vida a vilãs, experiência da qual se aproximou como Maria Lidia em "Amor de Mãe", novela indicada ao Emmy Internacional.

Malu Galli é entrevistava na seção Três Perguntas Para...", por onde já passaram nomes como Yuri Marçal, Paulo Gorgulho, Larissa Nunes e Jayme Matarazzo. Confira:

Uma das coisas que não dá para a gente não notar é como a Violeta é uma mulher forte, muito à frente do seu tempo, respeitada inclusive pelo marido, que é um homem arrogante. Como você enxerga isso?

A Violeta desde o início é apresentada como uma mulher que ocupa o seu espaço no mundo, mesmo no mundo dos anos 1930, quando começa a novela, ela já é uma mulher que se coloca, que tem liberdade de expressão, que cria as filhas da maneira como ela acredita que deva criar. E o marido, apesar de se expressar em um momento ou outro, ele não interfere diretamente na criação.

Mas, a partir do momento em que ela vai para o mundo, quando ela tem que tomar a frente dos
negócios e da fazenda, ela começa a sentir essa dificuldade de ser uma mulher nos anos 1940, o preconceito da sociedade sobre tudo que se espera de uma mulher casada, enfim, todas as frustrações que ela vai ter durante a vida pelo fato de viver na época em que vive.

Mas ela realmente é uma mulher muito forte, com muita coragem, com muita capacidade de superação. Isso foi, desde o início, o que mais me atraiu na personagem, essa coisa de ela passar pelas piores situações, pelas mais trágicas, e ter sempre forças para levantar no dia seguinte e correr atrás das coisas. É revigorante fazer uma personagem assim.

Em "Cheias de Charme", a sua personagem era uma patroa consciente, amiga, disponível para ajudar, características que a Violeta também possui. Acredita que como atriz uniu essas personalidades, ou foi uma coincidência?

Eu não acredito em coincidência (risos). Acho que as coisas não acontecem por acaso, esses papéis acabam vindo para mim porque de alguma forma essa questão da desigualdade social no Brasil é uma questão que me afeta muito, eu estou sempre muito ligada nisso, pensando sobre isso. Então, acho que a gente atrai os assuntos e os personagens vêm meio a reboque.

Não que a gente não possa fazer o outro lado da moeda. Por exemplo, eu poderia estar fazendo uma vilã que escorraçasse os funcionários —eu ia estar abordando o assunto da mesma forma, só que do outro lado. Eu adoraria fazer também uma mulher perversa (risos).

Acho que é uma coincidência entre aspas, a Lygia ser essa patroa. Inclusive, esse foi um momento muito importante para o Brasil: pela primeira vez as empregadas domésticas foram protagonistas de novela, e a gente teve isso agora com a Lurdes, em "Amor de Mãe". Mas ali nas empreguetes foi um pioneirismo colocar três empregadas domésticas como protagonistas e contar a vida delas, a partir do ponto de vista delas sobre a vida.

Isso foi muito forte, não foi à toa que a novela fez tanto sucesso. E algo muito bacana foi que a PEC das Domésticas veio logo em seguida —não por causa da novela, obviamente, mas a gente estava ali
discutindo esse assunto, o Brasil estava discutindo esse assunto.

Veio a PEC, que mudou toda a legislação do trabalho doméstico, e eu e a Taís Araújo, como Penha e Lygia, fizemos a propaganda da PEC das Domésticas. Isso foi um momento histórico muito importante para o Brasil eu fico feliz de estar de alguma forma ali naquele meio, como uma figura no Imaginário coletivo dessa patroa que reconhece o direito do empregado.

E agora isso está acontecendo em "Além da Ilusão": a gente também está discutindo direitos trabalhistas, a legislação de Getúlio Vargas, os direitos dos operários... A Violeta fica sempre do lado dos operários —na construção da creche, na licença-maternidade—, é realmente muito próximo da experiência de 'Cheias de Charme'.

Eu queria saber sobre esse seu desejo: você, gostaria de ser uma vilã em um próximo trabalho?

Eu acho os vilões muito saborosos, ainda mais quando eles têm uma pitada de humor. O vilão é amado ao avesso pelo Brasil, o Brasil tem uma certa catarse através do vilão, então eu acho muito gostoso, adoro acompanhar.

Agora por, exemplo, a Bárbara Paz fazendo a Úrsula, eu acho as cenas delas deliciosas —uma pessoa que só pensa em maldade, só faz maldade, não tem empatia nenhuma—, porque isso está acontecendo tanto no Brasil, né?

A vilania está tomando conta, as pessoas estão realmente sem empatia com sofrimento alheio cada vez mais. E a gente tem que abordar esse assunto de uma outra forma, sem ser também só reclamando, só falando. Você poder encarnar alguém assim para um ator é interessante também.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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