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Zapping - Cristina Padiglione

A rachadinha nos tempos do imperador: novela cutuca personagens atuais

Folhetim da Globo cita nominalmente termo sob investigação junto à família Bolsonaro

Tonico Rocha (Alexandre Nero) cobrará metade do salário recebido pelos funcionários de seu gabinete - João Miguel Júnior/Globo
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Embora se passe no período de reinado de D. Pedro 2º (1881 a 1889), a novela "Nos Tempos do Imperador", de Thereza Falcão e Alessandro Marson, tem aproveitado a incursão da telenovela pela história do poder público brasileiro para cutucar o governo atual com a abordagem de questões que infelizmente parecem arraigadas na cultura do jeitinho brasileiro.

Não é à toa que o ator Alexandre Nero disse que o deputado Tonico Rocha, seu personagem, talvez seja o elemento mais realista da novela. Temas controversos sobre ciência também têm vindo à tona no folhetim das 18h30 da Globo, como uma cena didática contra o terraplanismo, assunto que voltou a ser desfilado por negacionistas.

Em sequência prevista para ir ao ar no capítulo desta sexta (15), um diálogo entre Alexandre Nero (Tonico Rocha), Bernardinho (Gabriel Fuentes) e Nélio (João Pedro Zappa) há de causar familiaridade no público que acompanha os noticiários.

A cena tem referência direta com as investigações sobre a famigerada rachadinha, prática que vem sendo alvo de investigações no âmbito da família Bolsonaro, especialmente contra o primogênito do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, referente ao período em que ele foi deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, e ao vereador Carlos Bolsonaro, na Câmara Municipal do Rio.

Na sequência, Nélio encontra Bernardinho no gabinete do deputado Tonico Rocha e pergunta o que ele faz ali. O parlamentar entra em cena no mesmo instante para contar que a contratação de Bernardinho foi pagamento por um favor conseguido pela mãe do rapaz, mas que ele nem precisará aparecer ali, tendo apenas de devolver metade do salário pago pelo poder público para ele, Tonico.

O vilão foi generoso na ficção. Na vida real, consta que mais da metade dos salários, em alguns casos, é devolvida ao titular do gabinete. Enquanto as investigações na vida real não avançam, fiquemos com a ficção. Confira a cena a seguir, segundo a íntegra do capítulo da novela, ao qual a coluna teve acesso:

"Nélio trabalhando, Bernardinho chega.

Nélio (irritado) _ O que você veio fazer aqui?

Bernardinho _ O Tonico me contratou, oras.

Nélio _ Contratou? Para quê?

(Tonico entra)

Tonico _ Para nada. (Tonico volta-se a Bernardinho) Sabe por que estou fazendo isso, não sabe? No dia do meu casamento, a Dolores se fechou no quarto e quem convenceu a danada a cumprir com a obrigação de esposa foi a sua mãe. Em troca, ela me pediu esse emprego para você. Estamos quites.

Nélio _ Tonico... Quem vai pagar o salário dele?

Tonico _ O governo, digo, o povo! Você será nomeado, mas não precisa trabalhar, nem aparecer por aqui de novo. Mas a metade do seu salário é meu. Para quem não vai fazer nada, metade do salário está muito bom. Toma lá, dá cá. Se não está satisfeito, peça demissão.

Bernardinho _ Não, o que é isso, é mais do que justo.

Tonico _ Aliás, vou contratar mais gente para o meu gabinete! Funcionários que não precisam aparecer e me dão a metade do salário. Uma rachadinha justa. O que acha, Nélio?

Nélio, constrangido, Tonico e Bernardinho rindo."

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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