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Colo de Mãe

As lições deixadas pelo menino Henry Borel

Ouvir as crianças, não permitir nenhum tipo de violência e protegê-las é papel de toda a sociedade

O artista e grafiteiro Murilo Lemos, 33 anos, com amigos, resolveu grafitar num mural sobre a morte do menino Henry Borel - AlexBomb Sander no Facebook
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A morte do menino Henry Borel, quatro anos, tinha, logo no início, indícios de que chocaria o país. A criança foi levada morta ao hospital e, na unidade de atendimento médico, constataram-se sinais típicos de agressão.

O caso ainda ​segue em investigação, mas os indícios de violência nos chocam. E nos chocarão sempre. Ninguém quer ver criança sofrer.

O caso nos deixa algumas lições que devem ser encaradas como reflexões para mudar a sociedade. A primeira delas é que nem sempre a criança fantasia ou mente. É comum, sim, que crianças mintam. É também comum e esperado que fantasiem coisas —e falem sobre elas— especialmente quando outras pessoas se aproximam intimamente do pai ou da mãe.

Mas esse senso comum de invalidar falas e sentimentos das crianças, tratando-as como menos importante do que se viesse de um adulto precisa acabar. Se tivessem dado ouvido aos choros do menino quando era devolvido à mãe, ele estaria vivo.

A lição número dois é que não basta parecer boa mãe; é preciso ser boa mãe. Hoje, na sociedade da imagem, vídeos e fotos fofas nas redes sociais, além de declarações de amor em público aos filhos não devem determinar a maternidade —e a paternidade— de ninguém.

Mas, nós, na nossa ânsia por “vidas perfeitas”, validamos comportamentos que são “vendidos” de forma marqueteira a nós nas redes. Já ouvi de uma mãe: “nem sempre a gente vende o peixe que a gente compra” para justificar os motivos de ter uma postura completamente alegre e assertiva na internet, mas ser uma mãe violenta por trás das telas.

Lição número três: violência contra criança é intolerável. Tudo começa com uma palmadinha na mão ou um tapinha no bumbum por cima da fralda. Essa agressão pode aumentar à medida em que a criança cresce e se tornar rotina como uma forma de “educar”.

Somos seres pensantes. Se sabemos falar, para que bater? Sou contra castigos de todas as espécies, pois podem gerar traumas profundos. Há outros caminhos na educação.

A lição número quatro a ser aprendida é a de que pai também é responsável por proteger um filho, especialmente no que diz respeito à sua integridade física e mental. Aliás, a hashtag #somostodosresponsáveis nunca valeu tanto como neste caso.

Mãe, pai, padrasto, babá, tios, avôs e avós são todos responsáveis, assim como amigos, vizinhos e demais pessoas que convivem com uma criança.

A quinta e última lição: filho muda a nossa vida para sempre. A mãe do Henry dizia, em mensagem ao pai dele, que, ao ver a criança chorar quando tinha que voltar para casa e ficar com ela e o padrasto, era muito difícil, pois ela havia mudado a vida para cuidar do menino.

Sim, é isso que as mães fazem! E não podemos falhar nesta missão.

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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