Maternidade trouxe sentido às letras de música e às poesias, e definiu minha existência
Divido dores e delícias da maternidade e só tenho a comemorar
Escrevo esta coluna e a voz de Alceu Valença embala minha madrugada. São 1h40 de sábado. Há quase 24 horas estou na redação. Estou, de certa forma, parindo este texto. Nesta semana, parimos um novo jornal. O Agora estreou novo visual na sexta-feira (10) e o processo não foi tranquilo. Porque dar vida a algo ou alguém é assim. É correria, adrenalina, emoção e dor.
A música “Anunciação”, de Alceu, que embalou minha juventude em Bauru, nas festas de república e nas madrugadas, quando eu estava longe de minha família, crescendo e sofrendo ao mesmo tempo, é a mesma que eu ouvia à espera de Luiza, minha primogênita, quando ainda morávamos em Araraquara, no interior do estado de São Paulo, e é a que eu ainda ouço e danço, enquanto cozinho com Laura, minha caçula, em nossas manhãs juntas.
Essa música sempre esteve comigo, mas foi apenas nas minhas duas gravidezes que eu entendi o quanto a letra é bonita. Só com as minhas meninas eu compreendi profundamente esse compasso de uma espera cheia de esperança, o quintal com muita vida e qual é a verdadeira paixão que vem de dentro. Sim, minhas meninas chegaram e mudaram tudo. Trouxeram sentido não só às letras de música e às poesias, mas definiram o tom que eu daria à minha existência neste planeta.
Hoje, só celebro este dia por elas. Só estou aqui porque tenho as duas. A minha coluna só existe porque, em dois momentos de minha vida, carreguei, pari e amamentei minhas duas menininhas.
Eu já sabia que a maternidade viria com força. Sempre quis ser mãe. E também sabia, observando as mulheres de minha família, pois somos como uma grande tribo (nordestinos são assim!), que a maternidade viria com dor. Carregar um filho por meses é pesado, penoso e mágico. É incrível saber que você leva em si um ser que vai se formando aos poucos, dentro de seu ventre, com o passar do tempo. Mas é difícil. E parir dói. É a morte daquela mulher jovem, com milhares de expectativas, que a gente demora a aceitar que morreu. É a dor visceral e única do parto normal, natural, ou do corte da cesárea, que te marca para o resto de sua existência.
Ter filhos é ver morrer as possibilidades de estar em vários lugares. É ter que abrir mão de amigos que, no futuro, você descobre, nem eram tão amigos assim. É conviver com a culpa. Mas ter filhos também é querer dar a mão a todo mundo. É olhar o sol e a chuva de outra forma. É valorizar pequenos gestos de amor e empatia. É acordar pensando que é preciso construir um mundo melhor, mais amável, mesmo que o dia a dia esteja te massacrando. Ter filhos é ter vontade de voltar para casa e, mesmo exausta, ouvir as vozinhas que te dizem baixinho, dormindo, cansadas de tanto esperar: “Eu te amo, mamãe”.
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