Crianças têm sido atacadas de várias formas, e é preciso que a sociedade proteja os nossos filhos
Deixem nossas crianças em paz
Eu durmo e acordo pensando em jornalismo e maternidade. Pensando na infância e em como fazer do mundo um lugar melhor para todos os seres humanos. Estudo como ajudar as minhas filhas a se protegerem, e tento fugir do sentimento materno de achar que os filhos são sempre bebês e precisam de ajuda constante.
Quero dar às minhas meninas autonomia. Essa é a minha busca. Mas, ao olhar o noticiário da última semana, o meu desejo foi colocar uma redoma de proteção em volta de toda e qualquer criança neste país.
A semana de trágicas reportagens sobre a infância começou a ficar pesada na quarta (22), quando foi noticiado o absurdo “desfile de crianças” em Cuiabá (MT), para que consigam sair da fila de adoção, com o apoio e a presença de membros do Judiciário, da Promotoria e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Ver crianças sendo expostas em uma passarela, com suas fragilidades à mostra, pois sofrem em busca de pais que as amem, me cortou o coração. Não se pode fazer isso com nenhum ser humano. Muito menos em uma fase tão frágil como a infância.
O nó na garganta e a vontade de chorar poderiam ter diminuído, mas não não foi o que aconteceu. Na sexta (24), quando eu acreditei que a indignação social com o fato nos levaria a menos violência, leio a reportagem sobre uma mãe, geógrafa de 29 anos, que é suspeita de atirar pela janela sua filha de apenas três anos. O suposto crime ocorreu na zona oeste de São Paulo, e chocou a todos. Fernanda também se jogou do quinto andar do mesmo prédio.
Eu chorei. Estava no metrô, a caminho do trabalho, e chorei. É incrível como a nossa sociedade deixa as crianças desprotegidas. E vejam bem: proteger a infância passa, necessariamente, por cuidar das mães, dar suporte físico, financeiro e mental.
Na passarela, em Cuiabá, as crianças sem família estavam ali porque, de alguma forma, suas mães não puderam criá-las. Elas não tiveram suporte, orientação, amor e ajuda necessários para exercerem a maternidade.
O mesmo ocorreu com Fernanda. Vizinhos e amigos afirmaram que ela, orgulho de sua família, era ótima mãe, mas havia surtado há algumas semanas. Nessas horas, eu me lembro sempre do provérbio africano que diz: “É preciso toda uma aldeia para educar uma criança”.
Isso significa afirmar, caras leitoras e caros leitores, que a culpa é nossa. Em cada criança que voa pela janela, a cada menor dormindo nas ruas, em cada órfão exposto como mercadoria em uma passarela mora um pouco de todos nós, de nossas omissões e de nossa falta de cuidado com a infância. Eu, mãe leoa que sou, ouso dizer: Nas minhas filhas, ninguém toca; e nas outras frágeis crianças também não.
EDUCAÇÃO DE FILHO NA BASE DO CARINHO
Educar os filhos na base do amor e não na palmada faz parte do dia a dia de Elisama Santos, mãe de Miguel e Helena. Consultora de CNC (Comunicação Não Violenta) e de comunicação consciente, a educadora parental lançou neste ano o livro “Educação Não Violenta” (R$ 34,90, 169 págs., ed. Paz e Terra), que traz uma ajuda para pais em busca do equilíbrio para criar seus filhos.
O livro reúne histórias dos encontros que ela promove e traz formas de como podemos agir com nossas crianças para que sejamos firmes, mas sem bater.
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