'Silvio Santos foi Donald Trump 30 anos antes', diz biógrafo, que aposta em Maisa como sucessora
'Topa Tudo por Dinheiro' fala de vida e negócios do dono do SBT
Aos 87 anos, Silvio Santos basicamente faz o que quer e não ouve conselhos. Se é assim nos costumes, quando se sente à vontade para fazer comentários de cunho racista, homofóbico e machista sem cerimônia, é assim também nos negócios.
É isso o que mostra o livro "Topa Tudo por Dinheiro” (R$ 54,90, 256 págs., Todavia), escrito pelo jornalista Mauricio Stycer, que se destaca por mostrar o lado empresarial e político do proprietário do SBT.
“O que me motivou foi perceber que, apesar da montanha de papel já escrita sobre o Silvio, há tantas histórias mal contadas ou mal explicadas”, afirma Stycer. Ele fala, entre outros episódios, da tentativa fracassada de Silvio de concorrer à Presidência da República, em 1989. A candidatura foi barrada pela Justiça, que considerou que o partido estava em situação irregular.
“Hoje, perto de completar 88 anos, acho que ele não teria fôlego para disputar uma eleição presidencial. Mas, se fosse mais jovem, no estado de descrédito em que os brasileiros estão atualmente, suspeito de que ele teria muitas chances”, diz o autor. “O mais curioso sobre a tentativa dele de disputar a Presidência em 1989 é que ele nunca conseguiu explicar direito o que o motivou a fazer isso. Brinco que ele foi um Donald Trump 30 anos antes.”
Outro caso abordado é o primeiro casamento de Silvio. "Ele escondeu a mulher, Cidinha, e as duas filhas por mais de uma década. Vários jornalistas conheciam a história e se mantiveram em silêncio”, conta o autor –Cidinha morreu de câncer nos anos 1970.
"Muitos anos depois da morte dela, ele confessou publicamente um arrependimento dramático. Acho que esse episódio, por si só, renderia uma boa minissérie de TV. Não tentei desmistificar Silvio. Na verdade, não concordo que ele seja um mito, colocado numa dimensão inatingível."
Confira trechos da entrevista com Mauricio Stycer.
Folha - Como foi para você trabalhar a partir de uma figura tão conhecida e ao mesmo tempo tão enigmática que é o Silvio Santos?
Mauricio Stycer - Na origem, o que me motivou a fazer o livro foi perceber que, apesar da montanha de papel já escrita sobre Silvio, há tantas histórias mal contadas ou mal explicadas. Demorei cerca de um ano para fazer a pesquisa e escrever o livro. Li duas dezenas de livros e centenas de reportagens escritas sobre Silvio. Quanto mais eu lia, mais eu percebia que havia o que explicar e esclarecer.
No livro, você narra com detalhes o episódio em que Silvio resolveu tentar ser presidente. Como acha que ele se sairia hoje?
Hoje, perto de completar 88 anos, acho que ele não teria fôlego para disputar uma eleição presidencial. Mas, se fosse mais jovem, no estado de descrédito que os brasileiros estão atualmente, suspeito que ele teria muitas chances numa eleição. O mais curioso sobre a tentativa dele de disputar a Presidência em 1989 é que ele nunca conseguiu explicar direito o que o motivou a fazer isso. Brinco que ele foi um Donald Trump 30 anos antes.
Há alguém vivo e na ativa na faixa etária de Silvio tão importante para a comunicação hoje, na sua opinião?
Não vejo ninguém vivo que tenha o tamanho do Silvio na comunicação brasileira. Ele está desde 1960 diante das câmeras, o que já é algo impressionante. E, mais que isso, como empresário, construiu uma rede de televisão, hoje uma das maiores do país, com alguns milhares de funcionários.
Desse lado misterioso do Silvio Santos, o que você considera que há de mais saboroso para o leitor em seu livro?
Nnão diria “saboroso”, mas acho muito “revelador” toda a história do primeiro casamento de Silvio. Ele escondeu a mulher Cidinha e as duas filhas por mais de uma década, vários jornalistas conheciam a história e se mantiveram em silêncio e, muitos anos depois da morte dela, ele confessou publicamente um arrependimento dramático (“Uma das coisas imperdoáveis que fiz”).
Acho que este episódio, por si só, renderia uma boa minissérie de televisão. Não tentei desmistificar Silvio. Na verdade, não concordo que Silvio seja um mito, colocado numa dimensão inatingível. Justamente por isso que escrevi o livro. O considero uma figura de carne e osso, complexa, inimitável e genial, mas com altos e baixos ao longo da trajetória. Construiu uma rede de televisão e se tornou uma referência em matéria de comunicação, mas também cometeu erros e fez bobagens em sua televisão.
Há alguma figura pública que hoje você consideraria a sua sucessora, que consiga conciliar o empresário com o comunicador? Uma das filhas seria o caso?
Sinceramente, não. Vejo que ele já planejou e está colocando em prática a sua sucessão na empresa, mas em cima do palco, diante do público, ele é insubstituível. Agora, especulando sem compromisso, eu diria que a figura com maior carisma hoje no SBT, depois de Silvio, é Maisa Silva.
Íris Abravanel, é uma grata surpresa da dramaturgia. Como você avalia essa ascensão da mulher de Silvio na área, sempre com qualidade para seu público e dando boa audiência?
Concordo contigo. Considero o investimento neste nicho de teledramaturgia infantil um dos maiores acertos do SBT nesta década. Em vez de apenas importar novelas mexicanas prontas, criou as próprias e descobriu não apenas um público, mas um mercado para elas.
Quais as principais críticas que você faz a ele como empresário da comunicação? E elogios?
Minha maior crítica é ao baixo investimento em jornalismo. Esta é uma área que mereceu pouca atenção do Silvio na maior parte da história do SBT. Uma segunda crítica é ao desinteresse do próprio Silvio em se atualizar. Meu maior elogio é à capacidade dele de falar de igual para igual com qualquer pessoa. Não conheço ninguém com este talento na televisão brasileira.
Fale-me sobre suas tentativas de entrevistar o Silvio. Foram muitas?
Só tentei entrevistá-lo uma vez e recebi uma negativa muito educada como resposta. Ele disse desejar sucesso para o livro que eu preparava então, mas não queria falar. Entendo que Silvio, a esta altura, não está mais tão preocupado com o que dizem ou pensam sobre ele, desde que não ultrapassem alguns limites.
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