Entenda por que elenco de 'A Idade Dourada' comemorou eleição de Lula no set de gravações
Brasileiro vira diretor de fotografia da série na segunda temporada, que estreia domingo (29)
Os trajes remetiam aos anos 1880, mas a comemoração era por algo bem mais recente: a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o então presidente Jair Bolsonaro (PL). Nos bastidores de "A Idade Dourada", série que se passa na Nova York do final do século 19, a notícia fez sucesso entre os atores.
"No dia seguinte, a gente a gente filmou. Era uma segunda-feira, né? E quando eu cheguei no set, a galera vibrou, cara", conta ao F5 o diretor de fotografia Lula Carvalho, que se uniu à equipe técnica na segunda temporada. "Ainda mais que meu nome também é Lula (risos), mas todo mundo estava ligado nas eleições brasileiras. Eu fiquei surpreso."
Carvalho diz que o fato de ser brasileiro causava simpatia e deixava o clima, apesar de extremamente profissional, mais descontraído durante as gravações dos novos episódios da série, que chegam no domingo (29), às 22h, à HBO e à HBO Max.
Após mais de uma década fazendo trabalhos no mercado internacional, onde já havia feito a direção de fotografia de "Robocop" (2014) e de dois filmes da franquia "As Tartarugas Ninja", ele se mudou de vez para os Estados Unidos, e faz sua estreia nos dramas de época.
"Eu era fã do trabalho dele em 'Narcos' e em outras coisas que tinha assistido e que tinham me causado boa impressão", explica o diretor Michael Engler. "Acho que uma das dificuldades em um programa como esse é que as coisas podem parecer muito rígidas e formais porque é um mundo com tantas regras nos adereços e figurinos. Nós pensamos que Lula seria uma pessoa interessante para trazer por ele ter um trabalho mais solto, uma qualidade natural dele. E ele realmente trouxe isso."
O brasileiro diz que, de fato, sentiu que tinha liberdade para trabalhar, mas dentro de alguns parâmetros. Especialmente por se tratar de uma segunda temporada. "Algumas questões de conceito têm que permanecer porque faz parte de uma continuidade", explica.
Ele conta, por exemplo, que são usadas lentes diferentes para gravar as cenas dos personagens que representam a riqueza antiga, como Agnes van Rhijn (Christine Baranski), e os emergentes, personificados pela família Russell. A distinção foi mantida, mas uma das lentes foi trocada por sugestão dele, bem como as câmeras com que a primeira temporada havia sido filmada. "Acho que funcionou muito bem, eu fiquei satisfeito", avalia.
Criador da série, o britânico Julian Fellowes diz que a direção de fotografia é um ativo muito estimado por ele em suas produções. "Todo drama filmado é visual, você precisa contar uma história visual e, para mim, é muito importante ter um diretor de fotografia que entenda completamente que as imagens contam tanto a história quanto os diálogos", afirma. "É um trabalho absolutamente crucial."
"Na série, acho que tivemos muita sorte", continua. "Tanto a primeira quanto a segunda temporada tem visuais impressionantes e posso falar isso sem modéstia porque nada disso tem minha contribuição (risos). Eu admiro nosso trabalho de produção de arte e figurinos, bem como de fotografia e iluminação. As pessoas costumam esquecer que há pessoas por trás fazendo essas coisas acontecerem."
O diretor de arte da série, Bob Shaw, que ganhou um Emmy pela primeira temporada, diz que trabalhou junto com Lula Carvalho para que as imagens refletissem a época, em que a energia elétrica ainda não era uma realidade para muitos. A baixa iluminação, no entanto, não poderia ser desculpa para que os detalhes de cenários e roupas causassem o impacto necessário.
Shaw também entrega uma das principais tramas da segunda temporada. Após conseguir se estabelecer na conservadora sociedade local da época, Bertha Russell (Carrie Coon) quer dar um passo além. Sem conseguir um camarote na tradicional ópera local, ela tenta fazer a então recém-fundada Metropolitan Opera ser adotada pelos seus pares.
"Tudo na nova temporada tinha que ser maior e melhor", afirma ele. "Onde no ano passado tínhamos flores, neste ano precisávamos ter mais flores. E isso meio que faz parte da narrativa, porque a Bertha sempre tenta estar um passo à frente de suas concorrentes."
Ele conta que como a Academy of Music, que era o antigo prédio da ópera de Nova York, já havia sido usada em cenas da primeira temporada, foi preciso procurar outro local para gravar as cenas. Eles acabaram escolhendo a casa de espetáculos da Filadélfia, que era outra das poucas do período que restavam no país. Só que toda a trama gira em torno dos camarotes, algo que não havia naquele espaço.
"Tivemos que construir todos os camarotes em um estúdio separado e colocar tela verde em cima e embaixo para juntar na pós-produção", conta. "Foi um grande desafio, porque acabamos precisando gravar em três ou quatro lugares diferentes para juntar as peças porque não há mais teatros assim."
Por sorte, orçamento não foi um problema. "Acho que quando a HBO se comprometeu a fazer a série, sabia que envolveria um certo nível de decisão em termos do que haveria de realidade e o que precisaria ser construído, mas tivemos muitos bons recursos para trabalhar", afirma. "Isso é bem pouco usual, normalmente gasto boa parte do meu tempo tentando demonstrar por que precisamos de mais recursos para realizar algo."
Para ele, isso pode vir do fato de que havia uma série anterior à qual todos sabiam que seriam comparados: a britânica "Downton Abbey", série anterior de Julian Fellowes, que fez grande sucesso ao redor do mundo. "Sabíamos que não poderia ser menos elaborado que isso", diz.
Porém, nesta segunda temporada, o produtor executivo David Crockett acredita que a série já superou a pecha de versão americana de "Downton". "Lá a história era sobre uma casa e uma família, tudo voltava a eles, enquanto aqui estamos falando sobre uma cidade em um país que está passando por transformações enormes, e cada casa representa uma parte da sociedade", compara. "É um retrato muito mais abrangente."
Ele também diz que, enquanto a série britânica tratava de um universo que estava desaparecendo, com a decadência da aristocracia, "A Idade Dourada" mostra o começo de algo. "Espero que isso se traduza em algo diferente, mas também não é tão terrível ser comparado à nossa série irmã", diz.
Outros temas de fundo da nova temporada serão a construção da ponte do Brooklyn, o começo das lutas pelos direitos trabalhistas e as diferentes realidades que as pessoas pretas viviam nos Estados Unidos naqueles anos. Entre um romance entre um recém-graduado e uma mulher mais velha e uma paixão inesperada por um padre, há espaço também para a tentativa de Oscar (Blake Ritson) de esconder sua homossexualidade atrás de um pedido de casamento.
Para Julian Fellowes, são muito os paralelos entre o que vivem seus personagens e os dias de hoje. "Estamos de novo na era dos super-ricos", afirma. "Estamos vivendo vidas que não mais confortáveis que a maioria da população, eles só não tinham iates do tamanho de navios, jatinhos particulares e apartamentos em Manhattan onde caberiam centenas de pessoas."
"Só a escala é diferente, mas é com esse tipo de riqueza que estamos lidando na série", compara. "Imagine a disputa de foguetes entre Elon Musk e Jeff Bezos, isso é algo que poderia estar em 'A Idade Dourada' se houvesse foguetes em 1884."
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