'Minha ideia de feminismo pressupõe igualdade, e não ódio', afirma Olivia Colman
Em 'Grandes Expectativas', atriz vive personagem clássica de Dickens que despreza os homens
Olivia Colman, 49, nunca tinha lido "Grandes Esperanças" nem pensado em interpretar a senhora Havisham, personagem clássica da obra de Charles Dickens (1912-1870), mas também não quis desperdiçar o convite. "Não penso nas coisas com uma terrível profundidade", confessa a atriz. "Estava trabalhando sem parar e pensando que precisava de umas férias, mas simplesmente não consegui recusar."
A personagem já foi vivida por grandes damas das artes cênicas, como Helena Bonham Carter, Anne Bancroft ou Charlotte Rampling, mas foi a versão da amiga Gillian Anderson em uma minissérie da BBC de 2011 que mais a deixou com o pé atrás. "Fiquei petrificada", confessa. "Quando alguém compara você com a sua amiga... Bem, é tarde demais agora, mas é amedrontador, ainda mais porque ela é incrível."
A paixão pela forma como a história seria contada, no entanto, a fez superar a resistência e aceitar o convite para a minissérie "Grandes Expectativas", disponível no Brasil pelo serviço de streaming Star+. "Os personagens são incríveis e bem resolvidos, amo todos eles porque vieram de lugares difíceis e estão tentando o seu melhor, mas prefiro o que nós fizemos com eles."
Na trama, que tem seis episódios, a reclusa senhora Havisham mora com a filha adotiva Estella (Shalom Brune-Franklin) em uma mansão decrépita. Abandonada no altar, ela despreza os homens e, por isso, arma um plano para a jovem seduzir o órfão Pip (Fionn Whitehead), só para depois poder partir seu coração.
Perguntada pelo F5 se a senhora Havisham pode ser considerada um ícone feminista, Olivia Colman diz que, de certa forma, sim. Porém, diz se identificar mais com outro tipo de feminismo. "Minha ideia de feminismo pressupõe igualdade, e não ódio", explica.
"Ela é enérgica e amedrontadora, mas não sei se essas são características lisonjeiras para citar de uma feminista", prossegue. "Eu conheço muitas mulheres, e também muitos homens, que são feministas e acreditam na igualdade, na consideração e no cuidado com o outro."
No fundo, a atriz diz que se compadece da personagem por nunca ter encontrado o amor. "Ela acha que todos os homens são iguais e acaba perdendo o que poderia ter sido", lamenta. "Ela poderia ter seguido em frente e dado a ela própria e à Estella uma vida muito mais agradável."
Ela conta que, do ponto de vista pessoal, não tem muitas semelhanças com a personagem, o que tornou o desafio mais complexo. "Não tinha muito com o que me conectar, exceto com o fato de que também sei o que é amar e conheço a dor que ela deve ter sentido quando foi abandonada", compara. "Mas manter isso durante tanto tempo e não conseguir se expressar... Se ela tivesse tido um bom terapeuta —ou mesmo um bom amigo— talvez as coisas tivessem sido diferentes (risos)."
Nos episódios, a atriz é vista com uma aparência bastante envelhecida, com os cabelos brancos, sem sobrancelhas e com uma prótese com dentes amarelados e tortos. Além disso, está sempre com o vestido de noiva que estava usando no dia em que sofreu o trauma que marcaria sua vida.
"Quando você tem uma boa caracterização, três quartos do seu trabalho estão feitos", afirma, modesta, a vencedora do Oscar por "A Favorita" (2018). "A minha filha não quis me abraçar durante toda a duração das gravações, até eu conseguir pintar de novo as sobrancelhas. Eu fiquei parecendo uma maluca por semanas, mas valeu a pena."
Sobre os colegas bem mais novos com quem contracenou, Colman diz que se portou de igual para igual em cena. Ela conta que não precisou dar nenhum tipo de conselho para eles. "Eu seria um lixo dando conselhos", afirma. "Gosto de pensar que, poucos minutos depois de nos conhecermos, todos nos sentimos com a mesma idade. Se não for isso, não me digam a verdade. Apenas mintam (risos)."
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