Sophie Charlotte volta à cidade natal na Alemanha e grava série em inglês
Atriz conta história de Aracy de Carvalho em 'Passaporte para Liberdade'
Atriz conta história de Aracy de Carvalho em 'Passaporte para Liberdade'
Aracy de Carvalho, personagem de Sophie Charlotte em 'Passaporte para Liberdade' Victor Pollak/Globo
Quando soube que a Globo planejava filmar em Hamburgo, na Alemanha, uma série que contaria a história de Aracy de Carvalho, mulher chamada de "anjo" que salvou centenas de famílias judias do Holocausto, a atriz Sophie Charlotte, 32, foi correndo até a sala do diretor Jayme Monjardim.
"Foi arrebatador descobrir algo dessa magnitude e importância meio que por acaso, durante um encontro no Projac. Fui correndo bater na porta dele [Jayme]. Depois disso, meu coração acelerou. Foram três anos vivendo esse papel intensamente", conta a atriz sobre sua atuação em "Passaporte para Liberdade", que por causa da pandemia, demorou mais tempo para concluir suas filmagens no Brasil e no exterior.
O resultado de todo esse processo poderá ser visto pelos telespectadores a partir da próxima segunda-feira (20), na minissérie dividida em oito episódios, na Globo. Além de o papel ser o de uma mulher batalhadora e que passou por cima de tudo e todos para fazer o bem ao próximo, ele também causou ainda mais interesse na protagonista por conta do local onde tudo aconteceu.
Sophie nasceu em Hamburgo e por lá permaneceu até os oito anos de idade. Dessa forma, toda a trajetória de vida da artista ganhou um novo significado com a oportunidade de resgatar suas origens e por poder retratar na pele um símbolo de esperança da Alemanha nazista.
"Esse encontro cultural entre Brasil e Alemanha faz parte da minha vida. Passei dez dias em Hamburgo e fiz uma pesquisa profunda nos museus, no caminho que Aracy fazia na rua onde morava até o consulado. E fiquei ouvindo músicas da época enquanto fazia tudo isso", rememora ela sobre sua preparação.
A narrativa escrita por Mário Teixeira e Rachel Anthony mergulha na história de Aracy, que em 1935, divorciada de seu primeiro marido e com um filho pequeno, vai para a Alemanha em busca de trabalho. Por lá, a brasileira consegue um cargo no consulado do Brasil em Hamburgo no setor de passaportes. E foi nesse lugar que salvou muitos judeus da prisão e do Holocausto ao facilitar a emissão de vistos para o Brasil e ignorar restrições.
"Minha personagem arrisca tudo, passa por cima do medo para ajudar o próximo. Essa jornada da Aracy é poderosa e vivê-la em cena me despertou para a importância de se ter coragem na vida, de agir pelo coração. Acho que essa série é um convite à ação. Espero que desperte em muitas pessoas um olhar de empatia e humanidade", afirma Sophie.
A trama se desenvolve a partir do momento em que ela conhece seu futuro marido, o escritor brasileiro João Guimarães Rosa (Rodrigo Lombardi). Ele chega a Alemanha para ocupar o cargo de cônsul-adjunto do Brasil em Hamburgo. Logo se encanta por Aracy e descobre que ela esconde um esquema perigoso, mas que ele não hesita em ajudar a manter.
"A Aracy era uma pessoa que não queria ter sido exposta, não sei se ela gostaria de vê-la nessa série", opina Rodrigo Lombardi que resume seu personagem como "um cara apaixonado que só depois de tudo o que viveu se torna um dos maiores autores brasileiros de todos os tempos. Não queria fazer uma caricatura, me ative aos fatos e aos poucos registros dele em vídeo", emenda.
Na opinião do criador e escritor Mário Teixeira, um dos legados mais interessantes que ficam desse trabalho gira em torno da possibilidade de contar a história de uma mulher que anos mais tarde ficaria conhecida como a viúva do Guimarães Rosa (1908-1967), mas que a partir de agora passa a ter uma voz.
"Queria mostrar a trajetória de alguém que arriscou a própria vida e fez coisas marcantes. Tratá-la apenas como a viúva é misógino e machista." Aracy morreu em 2011, no Brasil, aos 102 anos.
O diretor Jayme Monjardim opina que a época de Natal é a melhor para mostrar esse tipo de história. "Estamos em um momento de repensar, e essa trama revela que tem gente boa no mundo. Isso faz a gente enxergar um horizonte à nossa frente", conclui.
A princípio, a minissérie "Passaporte para Liberdade" seria toda em português. Porém, uma parceria inédita entre a Globo e a Sony fez com que ocorresse uma fusão entre atores brasileiros e de outras nacionalidades. Dessa forma, ficou decidido que o projeto seria todo filmado em inglês.
O resultado final no Brasil poderá ser visto em ambas as línguas, já que parte dos atores dublou o próprio personagem, tais como Rodrigo Lombardi, que dublou seu João Guimarães Rosa, e Tarcísio Filho, que também refez os diálogos de seu personagem, o cônsul Souza Ribeiro.
Mesmo sendo fluente no idioma, a protagonista Sophie Charlotte conta que teve certas dificuldades para encenar em inglês. "Um desafio imenso de falar em inglês mirando outros expectadores sem deixar de emocionar. É diferente para memorizar as falas, tive que reinventar essa ponte nas minhas memórias".
Apesar disso, ela conta que foi uma ótima descoberta conseguir passar sua mensagem. A artista brinca que fez um intensivo de idiomas, já que falava inglês, português e alemão com outros atores do elenco. "Tinha italianos, uma polonesa, israelense, era complexo. Mas nosso trabalho é comunicar", afirma.
Companheira de cenas de Sophie, a atriz Gabriela Petry, que na trama vive a cantora judia Vivi Landau, conta que não teve tantas dificuldades e até arriscou um sotaque diferente para dar mais credibilidade à personagem.
"Fui morar nos Estados Unidos aos 13 anos e por lá fiz cursos de teatro. Não é minha língua mãe, mas tenho proximidade grande. Apesar de difícil, foi legal poder criar um sotaque. Minha personagem não existiu na vida real, mas muitas iguais a ela eram vistas na época", comenta a atriz cuja a personagem vai contra sua família pelo sonho de cantar no cabaré.
O alemão Peter Ketnath, que na história de Mário Teixeira interpreta o nazista Thomas Zumkle, também diz não ter tido bloqueios quanto ao idioma. O mais desafiador, ele diz, foi desenhar um vilão e levar a ele um pouco de humanidade. "Ele se apaixona [por Aracy], encontra um amor impossível e tenta sobreviver nessa situação difícil."
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