Cinema e Séries

Com humor ácido, diretor de 'Ninguém tá Olhando' diz que comédia da Netflix é para rir e refletir

'É uma comédia irreverente e sarcástica', afirma Daniel Rezende

 Kéfera Buchmann, Daniel Rezende e Projota
Daniel Rezende dirigindo cena de "Ninguém tá Olhando", nova série Netflix. Na imagem, Kéfera Buchmann e Projota interpretam o casal Miriam e Richard - Netflix/Divulgação
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

"É uma comédia irreverente e sarcástica, que pode fazer rir e se questionar", definiu, em poucas palavras, o diretor Daniel Rezende sobre a nova série brasileira "Ninguém tá Olhando", que estreia nesta sexta-feira (22), na Netflix, com oito episódios.

A série de comédia traz o exercício de questionar conceitos e sistemas preestabelecidos na sociedade, e ao mesmo tempo, diverte os telespectadores com piadas rápidas e sacadas inteligentes. "A gente entra em um automático da vida sem perceber, e acaba não pensando no que a gente não faria", diz Rezende.

A trama conta a história do novo angelus Ulisses, personagem de Victor Lamoglia, 26, que chega ao Sistema Angelus –conhecido por ajudar os humanos da terra. Primeiro angelus criado em mais de 300 anos, Uli questiona a rigidez do sistema e começa a quebrar algumas regras indo de encontro com seu inspetor Fred (Augusto Madeira).

Decidido a ajudar as pessoas por conta própria, Uli acaba se apaixonando pela jovem empoderada Miriam (Kéfera Buchmann), que namora Richard (Projota). "Os últimos angelus foram criados há muito tempo, com uma mentalidade de 8.000 anos atrás, e Uli lê o manual da humanidade na versão atual", afirma Lamoglia. O ator diz ainda que adoraria ter um 'anjo da guarda' igual ao seu personagem. 

Diferentemente do que conhecemos por anjos, crença religiosa cristã bastante presente no Ocidente, o diretor Daniel Rezende explica que a ideia de reinventar essa figura mística e mitológica não tem a intenção de criticar qualquer tipo de crença, mas sim "a falta de questionamento de qualquer tipo de crença ou narrativa pronta."

"Esses angelus são seres que não existem, e possuem muitas diferenças do que as pessoas estão acostumadas. Eles ficam invisíveis, mas não atravessam paredes. Eles não voam. Pegam ônibus, são mais humanos do que a gente pensa", diz o diretor.

Com características bem específicas, os angelus são todos ruivos e usam roupas sociais, com uma marcante gravata vermelha. A padronização, diz Rezende, foi pensada justamente para "questionar pessoas que vivem em sistemas preestabelecidos no mundo, por isso são todos uniformizados". "No fundo, a gente espera que isso vire fantasia de Carnaval."

Para Lamoglia, a melhor definição da série é que se trata de uma "comédia existencialista". Questionada como compreende a questão proposta pela série, Kéfera Buchmann, 26, diz acreditar que até os momentos aleatórios da vida, que "não fazem o menor sentido", acabam se encaixando no final de tudo.

Miriam, personagem da artista, passa por grandes contradições, ponto principal que fez Kéfera se apaixonar pelo papel. "Eu me identifiquei muito com ela. Quando Daniel me mandou um briefing sobre a personagem, eu falei: ‘gente, acho que não preciso ir mais para a terapia porque eu me entendi um pouco’."

A parte mais difícil da criação de Miriam não foram as suas características marcantes, como a luta pelo feminismo, veganismo e paixão por astrologia, ideais dos quais Buchmann carrega consigo na vida real, mas sim a seriedade proposta pela personagem.

"Sempre me colocaram para fazer algo engraçado. Foi um processo de introversão, porque ela é mais séria. Eu só fazia personagens estridentes, com um lado cômico ou caricato e over. O que me difere dela é justamente que eu tenho um lado mais expansivo para me expressar, e ela não", diz a atriz. 

Conhecida por ingressar no YouTube em 2010, no canal 5 minutos, Kéfera Buchmann lembra os percalços pelos quais passou em sua trajetória profissional até chegar ao patamar, atual, de ser coprotagonista do seriado da Netflix.

"Acabei me expondo muitas vezes além do limite do que eu deveria. As pessoas acabaram tendo uma opinião sobre mim e, quando mudava, elas falavam: ‘não, mas ela disse isso aqui’. Tá gente, mas agora estou dizendo outra coisa. Elas têm uma relutância em aceitar a mudança. Isso é uma coisa que eu achei legal abordar na personagem."

A mescla entre comédia e reflexão, proposta principal de "Ninguém tá Olhando", tem o lado humorístico bem representado por Júlia Rabello (Gretra), angelus que passa a questionar o sistema com a chegada de Uli. "Eu me apaixonei de cara pela curva da Greta porque ela chega, está fazendo os trabalhos dela e de repente ela entra em um mar de experimentação, e depois entra em um mar de dúvidas."

 
Rabello diz que sua personagem foi "um presente muito bem construído", e que já enfrenta um momento dramático no desenrolar da trama. "Foi muito legal para mim, já que as pessoas me identificam muito com humor, porque o grande público me conhece do Porta dos Fundos, mas antes disso, eu já tinha um caminho sem ser o da comédia. É muito gostoso visitar isso."

Como bem definido por Daniel Rezende, Greta consegue fazer o público rir e chorar –às vezes, até ao mesmo tempo–, já que em certo momento a personagem se vê perto da morte. Para Rabello, que traz a reflexão para a vida real, "estar vivo é conversar com a morte". "Eu não me assusto, só consigo pensar dessa maneira. É um exercício natural da vida."

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem