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Carnaval
Descrição de chapéu Alalaô

Carnaval: Por onde andam as musas que brilharam nos desfiles cariocas e na TV

Luiza Brunet virou ativista; Eloína, hostess de bar badalado e Valéria Valenssa superou uma depressão; para algumas delas, festa 'mudou muito', e isso não é um elogio

Nana Gouvêa, Luma de Oliveira e Monique Evans
Nana Gouvêa, Luma de Oliveira e Monique Evans - Divulgação
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Rio de Janeiro

Mulheres belíssimas —muitas delas, por todos os lados— sempre foram personagens importantes no Carnaval do Rio de Janeiro, mas as musas das escolas, donas de corpos esculturais (e naturais), habitam o meio carnavalesco desde antes da inauguração do Sambódromo carioca, há 40 anos. Fazem parte da história da maior festa popular do país.

Em 1976, Eloína dos Leopardos saiu pela Beija-Flor de Nilópolis, a convite de Joãosinho Trinta [1933-2011], encantando o público masculino, que desconhecia sua identidade de gênero. "Quando surgi na avenida (Presidente Vargas), o então prefeito disse que eu era a mulher mais bonita dali, e perguntou quem era; Joãosinho me levou até ele e falou que era uma travesti", relembra ela, hoje trabalhando como hostess do Bar da Dona Onça, da premiada chef Janaína Rueda, dona também da Casa do Porco.

Quando a escola foi campeã, o segredo foi revelado. A transexual, idealizadora do espetáculo erótico Noite dos Leopardos nos anos 1980, afirma ser a pioneira: "Fui rainha de bateria por três anos, a primeira da história", diz Eloína.

Adele Fátima, 69, tem sua imagem associada ao carnaval desde os anos 1970. Apontada como a primeira rainha de bateria na década seguinte, há quem diga que foi a ex-modelo e apresentadora Monique Evans que popularizou o posto em 1985.

Independente de quem tenha sido a precursora à frente da bateria, ambas mostraram, além da graciosidade, muito talento para sambar. Evans foi rainha em diversas agremiações entre 1985 e 1997, se tornando um símbolo do Carnaval carioca. Seu último desfile aconteceu em 2015 pela Mocidade. "Sinto uma coisa morna hoje, antigamente a gente entrava na avenida e ela vinha abaixo, arrepiava realmente, e das últimas vezes que saí não senti isso; são muitas regras (...) tudo mudou muito, os desfiles eram diferentes no passado", declarou ao F5.

No ano em que o sambódromo completa quadro décadas de existência, Adele reivindica outra questão. Segundo ela, suas curvas teriam inspirado o formato do arco da Apoteose, projetado em 1983 por Oscar Niemeyer [1907–2012]. "Fiquei feliz por ter um reconhecimento do Niemeyer, da Globo, mas acho que eles esperam morrer. Depois que morrem, dão valor, fazem homenagem, estátua, para mostrar que reconheceram enquanto estava vivo", explana ela.

Uma das grandes estrelas da folia foi a ex-modelo e empresária Luiza Brunet, uma unanimidade. Sempre ovacionada pelo público, reinou entre 1986 e 1994 na Portela, e depois quase duas décadas como rainha na Imperatriz Leopoldinense. Ela só tem boas lembranças.

Após um hiato de seis anos, Brunet retornou à Sapucaí no centenário da Portela em 2023, usando um figurino azul, onde expôs um sinal vermelho contra a violência doméstica. "Era uma forma como ativista não mostrar o corpo no sentido de ficar sambando com uma peça minúscula ou algo do gênero; decidi cobrir o corpo, mostrar o símbolo e fazer o meu protesto silencioso, e foi muito divulgado o ativismo ali".

Sobre a razão do longo intervalo, ela esclareceu: "Embora o Carnaval seja minha paixão, são fases da vida e a gente tem que dar espaço às pessoas novas que vão chegando com a inovação, juventude e tudo mais, e acabei me afastando um pouco", diz ela, que este ano assistirá no camarote. E não poupou elogios a Paolla Oliveira, Erika Januza e Bianca Monteiro. "Elas são incríveis e sambam demais".

Recordista em capas da Playboy (cinco no total, assim como Sheila Carvalho), Luma de Oliveira, 61, é a personificação carnavalesca. O estreia veio em 1987 pela Caprichosos de Pilares. Nos anos posteriores, passou por diversas outras escolas, como Tradição, Mangueira, Viradouro e Portela, onde desfilou pela última vez em 2009.

Foram mais de 20 anos brilhando na avenida, quase sempre à frente dos ritmistas, onde encantou e colecionou polêmicas; como o controverso desfile na Tradição em 1998, quando apareceu exibindo uma coleira com o nome de Eike (Batista), seu então marido na época. Em 2001, ela impactou o público novamente quando se ajoelhou na pista para contemplar a paradinha da bateria da Viradouro. Procurada pelo F5, Luma não retornou à solicitação de entrevista.

FOI BOM ENQUANTO DUROU

Impossível falar de Carnaval e não se lembrar da Globeleza Valéria Valenssa. Entre 1993 e 2005, ela encantou o país sambando com uma silhueta perfeita coberta apenas por purpurina nas vinhetas exibidas na Globo. Evangélica há 19 anos, declara não sentir falta de nada daquilo. "Não sinto saudades, vivi tudo intensamente, a cada dia estava em um lugar, às vezes viajava pintada porque não dava tempo de tirá-la, foi tudo no momento certo".

Questionada sobre como reagiu quando deixou o cobiçado posto aliado a um diagnóstico de depressão, ela comenta: "Sabia que não seria para sempre, era um trabalho voltado para o corpo, mas não esperava aquela decisão da Globo, estava com os hormônios a mil, já tinha dois filhos, estava muito sensível".

Ela relembra como superou a doença. "A depressão é silenciosa, foi um processo bem difícil, o meu remédio era meus filhos e foi um momento de me aproximar mais de Deus", diz ela, que lançará em breve um livro sobre segredos de beleza aos 52 anos.

Muito antes de Valenssa revelar a nudez purpurinada na TV, a escritora e atriz Enoli Lara, 72, despontou como a primeira mulher a sair completamente nua na Sapucaí em 1988 na União da Ilha. Coberta apenas por uma singela pintura corporal vermelha em reverência ao time do Flamengo, o ato causou celeuma. No ano seguinte, a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA) proibiu o nu total nos desfiles.

Durante 13 anos consecutivos, a modelo e atriz Nana Gouvea, 48, foi rainha de bateria de várias escolas como São Clemente, Caprichosos, Império da Tijuca e outras. Seu último desfile foi em 2009. "Fui rainha numa fase bacana, mas não queria overstay (‘ficar além do tempo’)". Segundo ela, na época estava com muitos compromissos profissionais como novela e teatro, e quis dar prioridade a eles. Morando desde 2011 nos Estados Unidos, onde tem se dedicado à carreira, ela não tem acompanhado muito a folia. "Tenho boas lembranças, mas não saudade" explicou por telefone, de Nova York.

O CARNAVAL HOJE, SEM A MAGIA DO PASSADO

A partir de meados dos anos 2000, o perfil das rainhas de bateria foi se desfigurando e gerando reações nem sempre positivas do público sobre as escolhas de alguns nomes na função. Entre corpos esculpidos no bisturi ou malhados em excesso, rostos harmonizados e fantasias exorbitantes, muitas vezes sobrava jovialidade e faltava traquejo nos pés de algumas novas monarcas em evidência na mídia.

Indagadas sobre essa transição, algumas beldades experientes responderam: "Acho que tem espaço para o que o Carnaval representa ser: as meninas da comunidade com toda sua força, encanto, e tem as outras mulheres que realmente às vezes só saem no Carnaval, depois mudam de escola, não tem aquele compromisso", opina Brunet.

Monique Evans também expressou seu ponto de vista. "As madrinhas são tão lindas que a gente não sabe mais o padrão de beleza, não tem mais o que consertar, entendeu? Muitos músculos, muita bunda, na minha época você malhava para ficar bonita, mas era uma coisa natural". Adele faz uma crítica ao Carnaval atual sem citar nomes. "Estão fazendo um Carnaval decadente, onde as mulheres se expõem de uma tal forma que acaba respingando nas outras também. Sempre levei o samba com seriedade, como as meninas da época também, mas agora virou comércio, quem paga mais faz o que quer", desabafa.

Quase todas demonstraram uma nostalgia com o Carnaval de outros tempos. "Hoje os desfiles são diferentes, com camarotes grandes, com shows, antigamente as pessoas iam para ver o desfile. Agora vão para comer, (...) serem fotografadas", reflete Monique, que este ano se casará com a DJ Cacá Werneck. Valenssa rememora: "Sou do tempo que tinha toda uma magia, Carnaval de rua, montavam arquibancada, hoje virou o maior espetáculo para o mundo, mas mudanças são sempre bem-vindas".

Brunet relembra como eram os ensaios na época de rainha, fazendo um paralelo entre o antes e o depois. "A gente ia mais simples, às vezes de short e jeans, nunca como se fosse desfilar. Hoje vejo que mudou muito isso, fico impressionada como as madrinhas investem em fantasias que poderiam ser usadas no dia do desfile, porque existe uma disputa de visibilidade".

Ela comenta também sobre a concorrência entre as beldades. "É uma competição entre mulheres mesmo, que às vezes até me assusta um pouco. Já vi madrinha trocando de fantasia duas vezes. Realmente se tornou um posto que tem uma disputa muito ferrenha" diz.

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