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Celebridades
Descrição de chapéu The New York Times

Jim Parsons, de 'The Big Bang Theory', celebra papéis de gay, mas não quer se limitar a eles

Ator temeu que sua orientação sexual se tornasse assunto dominante após sair do armário

Jim Parsons na série 'The Big Bang Theory' - Divulgação
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Juan A. Ramírez
The New York Times

Dez anos atrás, o ator Jim Parsons, que estava no auge do sucesso por uma série de humor que o conduziria ao topo do ranking da revista Forbes sobre os atores mais bem pagos da televisão, declarou casualmente ao The New York Times que era gay, e estava envolvido em um relacionamento de longo prazo. Ele se lembra de não querer que sua orientação sexual viesse a se tornar o interesse dominante quanto a ele, de 2012 em diante.

Agora, depois de encerrar recentemente uma temporada off-Broadway do musical "A Man of No Importance", ele está fazendo o papel principal do drama romântico "Spoiler Alert" (em cartaz nos cinemas americanos), do qual também foi um dos produtores. Nas duas produções, ele interpreta personagens gays, e Parsons diz que não trocaria por nada o trabalho que vem realizando.

"Logo depois que aquele artigo saiu, senti uma coisa que não havia sentido até ali: que fazer parte de um grupo me dava poder", disse Parsons, 49, em uma conversa recente por vídeo. O ator acrescentou que estava feliz por não se ver limitado a fazer apenas papéis gays, mesmo que novos trabalhos envolvendo personagens gays lhe sejam oferecidos.

"Foi algo que se transformou em uma bela oportunidade de conhecer a mim mesmo", ele disse. "Não quero dizer que me sinto completamente satisfeito ou que não existem muitas outras coisas que eu ainda quero fazer, mas, na verdade, não há como eu me sentir muito mais feliz, ou mais realizado, do que me sinto agora."

Parsons vincula esse sentimento de catarse a uma busca duradoura de amor e de aceitação. Viver uma adolescência gay em um subúrbio de Houston, disse o ator, significa que ele passou as duas primeiras décadas de sua vida com um "entendimento muito real de que o amor não seria acessível", em certos quadrantes de sua vida. Mesmo depois de anos de sucesso em sua carreira, ele considera ainda hoje que está no meio de uma jornada para se acomodar à sensação de que é "esmagador, e um tanto difícil, aceitar tanto amor de tantas pessoas ao mesmo tempo".

Ele disse que seus projetos recentes são um reflexo dessa jornada. "É meio engraçado, porque muitos deles nem fui eu que escolhi", disse o ator. "Mas a oportunidade de descobrir essas coisas sobre mim mesmo, e sobre outros seres humanos como parte do processo, me parece um presente."

"Spoiler Alert" é uma adaptação de um livro de memórias do jornalista televisivo Michael Ausiello, que relata a situação que o casal teve de enfrentar quando seu marido, Kit Cowan, teve um câncer diagnosticado, e o caminho difícil que isso os forçou a percorrer. Isso ofereceu a Parsons uma "veia aberta" de emoções que atraíram seu interesse por conta de seu fascínio permanente pela questão da mortalidade, algo que ele disse ter sido reforçado pela morte de seu pai em um acidente de carro em 2001, e pela perda de seu cão, anos mais tarde.

"As duas experiências foram muito dolorosas, mas me ofereceram uma visão de o quanto é precioso o tempo que tenho no mundo, algo que eu não tinha vivenciado antes, e agora verei minha vida eternamente por aquela lente de ter amado, e de ter perdido aquilo que amei. A coisa que realmente me marcou no livro foi a história de duas pessoas que têm a oportunidade, trágica mas também única e rara, de desnudar suas almas, ou do similar mais próximo que se possa imaginar dessa experiência. Isso abre os corações deles dois quanto aos riscos que precisam ser corridos se você quer viver e amar plenamente."

Parsons e Ausiello tiveram algum contato em eventos de tapete vermelho e de imprensa durante as 12 temporadas da série "The Big Bang Theory", da qual o jornalista sempre foi fã declarado, mas foi só quando ele pediu a Parsons que apresentasse uma entrevista promocional de seu livro, em 2018, que o ator se informou sobre a história de Ausiello.

"Lembro-me de vasculhar a conta de Instagram de Michael depois de ler o livro, e ver uma foto que nos mostrava juntos no Emmy", disse Parsons. "Vi a data da foto e percebi que ele estava passando por tudo aquilo quando a tiramos, e eu não fazia ideia. Não conheci Kit, não sabia que ele estava doente, e nem era suficientemente amigo de Michael para saber, mas, mesmo assim, aquele foi um sentimento do qual não consegui me afastar."

Parsons se identificou com as coisas que havia em comum entre a parceria de Ausiello e Cowan e o relacionamento dele com seu marido e sócio na produtora que eles dirigem, Todd Spiewak.

Ausiello me disse por telefone que o ritmo do humor de Parsons sempre o atraiu, dentro e fora das telas, e o mesmo se aplica às suas surpreendentes escolhas profissionais, como a de fazer um papel coadjuvante em "Estrelas Além do Tempo", um filme de 2016, depois de conquistar quatro Emmys como melhor ator de comédia por "The Big Bang Theory".

"Nós tínhamos um relacionamento interessante, e nossas entrevistas eram sempre muito ácidas e brincalhonas", disse Ausiello. "Sempre gostei de entrevistá-lo, porque sabia que seria uma experiência divertida; ele tinha uma resposta à altura para tudo que eu dissesse, e seu timing era impecável."

Já quando chegou o evento de promoção do livro de Ausiello, os papéis dos dois se inverteriam: Parsons faria as perguntas. "Ele chegou à loja da Barnes & Noble com páginas e mais páginas de anotações —fez seu dever de casa", disse Ausiello. "Foi nos bastidores, antes de nos despedirmos, que Todd mencionou que eles estavam interessados em adquirir uma opção sobre meu livro; foi a primeira vez que o assunto foi mencionado, e fiquei completamente sem reação."

Para Parsons, o filme trouxe o maior envolvimento que ele já teve com qualquer de seus projetos. Embora não tenha participado a fundo das discussões financeiras, Parsons desempenhou um papel central na produção, e selecionou até o instrutor de diálogo do ator inglês Ben Aldridge –escolhendo o professor que o orientava quanto a sotaques quando o ator estudou na Universidade de San Diego.

Nos últimos anos, Parsons vem tomando as rédeas com mais frequência, por meio da produtora que ele e Spiewak criaram em 2015, além de ter aceitado mais papéis principais em diversas produções. Em dezembro, ele terminou a temporada de uma remontagem de "A Man of No Importance", pela Classic Stage Company. O espetáculo gira em torno dos esforços de um homem gay que ainda não saiu do armário para liderar uma companhia de teatro. Jesse Green, crítico do The New York Times, descreveu assim o desempenho de Parsons: "Com sua voz confiante, rosto liso e perfeccionismo televisivo, ele nunca parece desesperançado ou, visto da perspectiva de nossa época, velho demais para um novo começo".

Sua passagem anterior pelos palcos, na remontagem de "The Boys in the Band", em 2018 na Broadway (uma adaptação cinematográfica foi filmada em 2020), o viu trabalhando com Matt Bomer, que também fez sucesso de público na televisão antes de se assumir como gay em 2012. Em uma entrevista por telefone, Bomer explicou que, quando conheceu Parsons, este já era uma "lenda" no circuito teatral das escolas de segundo grau dos subúrbios de Houston (embora nascidos com alguns anos de diferença, os dois cresceram em Spring, Texas).

Ele disse que passou a respeitar a liderança de Parsons e "a abordagem destemida dele quanto ao personagem" durante a remontagem, na qual Bomer interpretava um dos papéis principais, o de um sujeito não muito agradável.

"Jim conquistou o tipo de sucesso televisivo que acontece uma vez por geração, e poderia ter feito o que quisesse depois disso", disse Bomer. "Ele traduziu essa liberdade de escolha em projetos e desempenhos realmente bem pensados, e assumiu a responsabilidade criativa por muitos projetos bastante interessantes e que eu realmente respeito."

Três anos depois de deixar para trás o papel de Sheldon Cooper, que o tornou famoso, Parsons não tem certeza de que seu novo filme e o musical que encerrou recentemente apontem para uma nova fase de sua carreira como protagonista, diferente dos trabalhos mais coletivos pelos quais ele é tão conhecido.

"Os dois trabalhos exigiam uma comunicação constante e intensa com meus parceiros, e eu gosto de ter muito o que fazer", disse o ator. "É muito mais fácil, quando tenho um dos papéis principais, porque sou necessário constantemente no set ou no palco; é melhor do que ter muito tempo livre, e me perder nos meus pensamentos. Porque sempre encontro alguma coisa mais para fazer, juro, e isso não é tão saudável quanto simplesmente fazer o trabalho e pronto."

Tradução de Paulo Migliacci

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