Advogada de Dani Calabresa diz que reação de Marcius Melhem é lamentável
Ator, segundo Mayra Cotta, usa tática antiga de assediadores de reduzir a dor das vítimas
A advogada de Dani Calabresa e de outras cinco mulheres que acusam o ator e diretor Marcius Melhem de assédio sexual e moral deu uma entrevista exclusiva ao jornalista Roberto Cabrini. Na reportagem, veiculada na edição deste domingo (6) do Domingo Espetacular (RecordTV), ela falou sobre o fato de Melhem ter dito que vai processá-la.
“Eu acho lamentável que uma advogada, representando vítimas de assédio sexual, seja também colocada na posição de vítima, diante de uma ameaça desse tipo. Acho perigoso que a função de advogada esteja sendo ameaçada desse jeito”, afirmou Mayra Cotta.
Em mensagem enviada a Roberto Cabrini por escrito, e exibida na reportagem, Melhem declarou: “Em respeito a você e a seus telespectadores, preciso esclarecer que mais uma vez a advogada Mayra Cotta vai à imprensa ao invés de ir à Justiça para buscar a reparação às mulheres que ela representa. Venho a público reafirmar que são acusações mentirosas. Nunca tranquei ninguém, nunca chantageei ninguém, nunca forcei ninguém a nada. Por essa razão, estou processando a advogada Mayra Cotta.”
Ao ser perguntada por Cabrini sobre como ela recebe o fato de que Melhem tenta praticamente desvalorizar a denúncia, a advogada respondeu: “Eu recebo isso de uma maneira triste, mas não surpresa. É a tática mais antiga entre os assediadores, de tentar desacreditar, reduzir, diminuir a dor das vítimas.”
A respeito de que Dani Calabresa não teria relatado os fatos do modo como aconteceram, como disse o ator e diretor, Cotta se posicionou: “Isso também é esperado. É lamentável que ele tente reduzir a violência do que aconteceu com ela.” E acrescentou que existem provas de que episódios de assédio moral e sexual realmente ocorreram. “Existe a palavra das vítimas, existe uma investigação interna e existem testemunhas”, garantiu.
ENTENDA O CASO
A colunista Monica Bergamo, da Folha, foi a primeira a expor a extensão das acusações contra o humorista, por meio de uma entrevista com a advogada Mayra Cotta, publicada no dia 24 de outubro. No dia 4 de dezembro, reportagem da revista piauí revelou detalhes sobre dois assédios sofridos por Dani Calabresa que causaram comoção de internautas e artistas. Na época dos fatos, Marcius Melhem atuava como diretor humorístico da emissora. Segundo testemunhas e colegas de Calabresa, as situações aconteceram em 2017. A humorista foi a primeira mulher a levar a situação à alta cúpula da Globo.
Uma delas, trazida na reportagem da piauí, revela que Marcius Melhem tentou beijar Calabresa à força, além de agarrá-la contra a sua vontade e de exibir suas partes íntimas durante uma festa da equipe do Zorra, no Rio de Janeiro. Ele também pediu para que a artista "calasse sua boca" sobre a situação.
Calabresa denunciou o fato à chefe de Desenvolvimento e Acompanhamento Artístico (DAA), Monica Albuquerque, após deixar o elenco do Zorra. De acordo com a piauí, a primeira decisão em relação ao fato foi recomendar uma terapia ao acusado, sem nenhuma advertência. Na sequência, o caso também foi levado para Carlos Henrique Schroder, diretor-executivo de Criação e Produção de Conteúdo da Globo.
Ainda segundo a publicação, Schroder pediu que uma investigação foi realizada e novos casos contra Melhem apareceram. Ao menos três atrizes manifestaram incômodo ao contracenar com o ator e diretor, citando situações em que ele roçava o pênis nelas.
No dia 5 de dezembro, em entrevista ao UOL, Marcius Melhem disse que demorou um ano para falar porque antes de tudo queria "entender que tudo que aconteceu e está acontecendo comigo, aconteceu a partir dos meus erros."
"Hoje eu entendo que tive comportamentos, atitudes, que não cabem mais. Entendo que fui, como homem, e é muito doloroso para mim dizer isso aqui porque me expõe, expõe minha família mais do que já estão expostas, minha ex-mulher, minhas filhas, mas estou aqui por uma questão de dignidade. Já não é uma questão de culpado, inocente, não ser ouvido, condenado, é uma questão de dignidade", diz.
"Eu fui um homem tóxico, um marido péssimo, uma pessoa que cometeu excessos em se relacionar com pessoas dentro de seu próprio ambiente de trabalho, coisa que eu não via problema, mas hoje entendo todas as nuances que isso pode ter. Entendo que eu, como homem, feri pessoas, magoei, traí, fui galinha, tudo isso foram erros meus e num mergulho muito profundo feito neste ano cada vez entendo mais", continuou.
Ainda em entrevista ao UOL, Melhem afirmou que teve ajuda de amigos e que "mergulhei na minha própria lama para entender, e ainda estou entendendo, os meus erros". "É preciso dizer que, em cima dos meus erros, e das coisas que efetivamente eu fiz, tem muita coisa sendo falada que é mentira e muita coisa sendo falada que, de forma alguma, eu fiz e isso eu preciso combater."
O ex-diretor da Globo também criticou a advogada Mayra Cotta que, segundo Melhem, "traçou um perfil meu de um abusador serial e de uma pessoa que tem hábitos violentos" na entrevista a Monica Bergamo. "Eu jamais, embora confesse meus excessos e já confessei aqui e a gente pode conversar sobre eles, eu jamais tive nenhuma relação que não fosse consensual e eu jamais pratiquei nenhum ato de violência com quem quer que seja na minha vida. Esse perfil que foi traçado ali ele não corresponde de forma alguma a quem eu sou."
Melhem afirmou que já entrou com uma ação da Justiça, no dia 3 de dezembro, contra a advogada Mayra Cotta, que representa as mulheres e testemunhas que o acusam de assédio, para que ela prove as denúncias. "Uma advogada devia ser a primeira pessoa a acreditar na lei, e não buscar justiça pela imprensa. A justificativa que ela usa de que as vítimas teriam medo de se expor, as vítimas estão expostas, estão completamente expostas. Não tem ninguém mais exposto hoje que a Dani Calabresa."
O ator e diretor disse também que vai tomar medidas judiciais contra Dani Calabresa, pedindo que ela confirme ou desminta relatos de assédio que teria sofrido. "É uma pena eu ter que fazer isso, mas estou interpelando a Dani Calabresa para que ela confirme ou desminta o teor da matéria da piauí, porque eu e ela sabemos que aquilo não aconteceu."
Marcius Melhem disse ainda que "lamenta muito que tenha chegado nesse ponto, mas é importante que nós dois vamos até à Justiça, para que lá tudo fique esclarecido e a responsabilidade seja devidamente colocada". "É só o que eu posso dizer. Mas eu não tenho raiva nem dela, nem de ninguém. Trabalhei muito para não ter raiva de ninguém, porque eu não quero duvidar da dor de ninguém e não quero ficar nessa posição."
Sobre os relatos de assédio citados na reportagem da revista piauí, Melhem disse que aquilo não aconteceu, mas não quis dar sua versão. "Eu não vou contar. O que eu posso dizer é que aquilo que aconteceu naquela festa, aquela narrativa é completamente fantasiosa, irreal. Tenho testemunhas de que aquilo não aconteceu."
"Não vou expor a Dani dizendo o que aconteceu entre eu ela nem naquela festa nem [interrompe]. O que posso dizer, por exemplo, é que se tivesse acontecido... porque na narrativa da piauí, a partir dali ela teria ficado traumatizada comigo. Isso não aconteceu! Uma semana depois daquela festa, nós trocamos mensagens", continua o ator, ao ressaltar que ele e as filhas foram convidados pela atriz para ir à Disney.
Dani Calabresa, 38, se manifestou publicamente pela primeira vez sobre os novos detalhes que vieram à tona nesta sexta-feira (4) sobre as denúncias de assédio moral e sexual feitas contra Marcius Melhem. A humorista foi a primeira mulher a levar a situação à alta cúpula da Globo.
"Nunca quis ser vista como uma mulher assediada", afirmou Calabresa, em mensagem postada nas redes sociais. "Mas para recuperar a minha saúde, precisei me defender. Nunca procurei a imprensa. Tomei as medidas cabíveis para conseguir ajuda. Tudo é muito difícil, dá medo, vergonha, mas temos que lutar por respeito e justiça. Não passarão. Assédio é crime!"
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