Tony Goes

'Elas por Elas' estreia com atores acima do tom e muitas tramas simultâneas

Nova atração da Globo atualiza texto de Cassiano Gabus Mendes de 1982

Deborah Secco, Lázaro Ramos e Ludmila Rosa em cena de 'Elas por Elas' - Divulgação

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Todo primeiro capítulo de novela tem um desafio enorme pela frente. Precisa trazer o espectador, que muitas vezes passou mais de meio ano envolvido pela novela anterior, para um universo completamente novo, com personagens desconhecidos enfrentando problemas inéditos.

A tendência atual é focar apenas na história central. O conflito que envolve os protagonistas é o foco, não raro, de toda a primeira semana no ar de um folhetim. Só depois é que são introduzidos os coadjuvantes e suas tramas paralelas, para não sufocar o público com muita informação de uma tacada só.

Mas o que fazer se não existe uma trama central, mas sete? É o caso de "Elas por Elas", a nova ocupante da faixa das 18h da Globo. Escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson a partir de um original de Cassiano Gabus Mendes produzido em 1982, a novela tem nada menos do que sete protagonistas em pé de igualdade. Sete amigas que se reencontram depois de 25 anos, cada uma com seu drama pessoal.

Os autores e a diretora artística Amora Mautner optaram por uma estratégia oposta àquela atualmente em voga. Em menos de 40 minutos, apresentaram seis das sete amigas, além do irmão de uma delas, que se tornou um dos personagens mais icônicos da TV: o atrapalhado detetive particular Mário Fofoca, imortalizado por Luís Gustavo.

Lara, vivida por Deborah Secco, é o epicentro desse emaranhado de tramas, pelo menos no começo. É ela que se comove com uma foto antiga do grupo de amigas e decide convidar todas para um reencontro em sua mansão. A atriz, que nunca foi conhecida pela sutileza, exagera no lado perua da personagem, que é não é exatamente uma figura cômica.

Outras cinco delas ganharam cartelas com seus nomes, para orientar o espectador no meio de tantas novidades. Taís (Késia, ex-participante do The Voice Brasil) é uma modelo de sucesso, solteira e sem filhos. A ricaça Helena (Isabel Teixeira) se casou com o namorado de Adriana (Talita Carauta), que hoje é veterinária e dona de pet shop.

A nerd Carol (Karine Teles) virou uma cientista de renome. Natália (Mariana Santos, que substituiu Mônica Iozzi logo antes do início das gravações) tem uma obsessão: descobrir quem empurrou seu irmão de um penhasco e o matou, no último encontro da turma, em 1998.

Faltou Renée, a inovação mais ousada deste remake. Agora ela é uma mulher trans, feita por uma atriz também trans, Maria Clara Spinelli. Quase todas as amigas ainda acham que ela é Renê. Sua entrada em cena e a revelação de sua nova identidade de gênero prometem agitar o capítulo de terça (26).

Mas ainda houve tempo para mostrar o encontro entre Ísis (Rayssa Bratillieri), filha de Adriana, e Giovanni (Filipe Bragança), filho de Helena. Os dois se apaixonam à primeira vista, com direito a olhares lânguidos e todos os clichês, durante um protesto contra o uso de animais em testes de laboratório.

A digestão de tantas caras novas foi dificultada pelo tom exagerado adotado por boa parte do elenco. A rigor, o único personagem abertamente cômico é Mário Fofoca, e Lázaro Ramos, de volta à Globo, já achou de cara seu jeito de interpretar o investigador, bem diferente do de Luís Gustavo.

Mas quase todos os coadjuvantes, além de Isabel Teixeira e Deborah Secco, estão investindo pesado nas caras e bocas. Talvez por orientação da diretora artística Amora Mautner, que tem pouca experiência em comédia. Vai ver que ela acha que o riso precisa ser arrancado a fórceps.

Outra ligeira decepção é a abertura, competente porém não impactante. Não chega aos pés da original que, com a pouca tecnologia disponível há mais de 40 anos, conseguia transformar jovens mulheres em suas versões mais velhas diante dos nossos olhos.

Não se julga uma novela por seu capítulo de estreia. "Elas por Elas" merece mais que um voto de confiança, pois promete trazer para 2023 o texto original de Cassiano Gabus Mendes sem desrespeitar sua essência.

E o elenco talvez baixe o facho já nos próximos dias, tamanhos reveses que seus personagens irão enfrentar.

Depois de tantas narrativas de época e/ou rurais, é um refresco ver uma novela urbana e contemporânea no horário das 18. Se cumprir metade do que se propõe, a nova versão "Elas por Elas" pode entrar para a história.