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Televisão

'Pantanal': Karine Teles explora sensualidade pela 1ª vez com Madeleine

Atriz diz que é o oposto da personagem e que, às vezes, não se enxerga na tela

Karine Teles como Madeleine em 'Pantanal' João Miguel Jr./Globo

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São Paulo

A mudança de fases na novela "Pantanal" (Globo) fez muita gente reparar em uma semelhança que até então ninguém comentava. Karine Teles, 43, assumiu a personagem Madeleine, até então interpretada por Bruna Linzmeyer, 29, em uma transição que vai muito além da semelhança física.

"Eu fiquei muito feliz de as pessoas falarem: 'Nossa, vocês são idênticas, nunca tinha reparado!", conta a atriz ao F5. "Eu acho que eu nem sou tão parecida com a Bruna assim, isso é resultado do trabalho de construção que a gente fez tanto no sentido da caracterização externa quanto do estudo da personagem."

Não que ela se ache completamente diferente. "A gente tem um lugar parecido", admite. "Mas eu acho ela uma beleza deslumbrante. Não estou dizendo que sou feia, não, tá? Me acho bonita (risos). Eu só acho que não é no mesmo patamar, então houve toda uma construção para chegar nesse lugar."

Essa construção passou por muitas conversas entre as duas atrizes, embora elas não tenham chegado a se encontrar presencialmente. "Quando eu entrei na novela, a Bruna já estava gravando no Pantanal, então conversamos por videochamada", conta Karine, que também citou as restrições impostas pela Covid no começo das gravações.

Ela afirma que as duas não combinaram nada específico sobre o jeito da personagem. "A gente não chegou a combinar nada de gestual", comenta. "Conversamos muito sobre os estados emocionais da personagem, as alterações de humor, a intensidade, a origem dessa coisa que ela tem de se sentir no direito de fazer tudo do jeito dela."

Ambas também fizeram um trabalho com a preparadora de elenco Andrea Cavalcanti, mas Karine diz que pediu ao diretor artístico da novela, Rogério Gomes (o Papinha), para ver as cenas que Bruna já tinha gravado, de modo a estudar o que a colega estava propondo para a personagem.

"Eles foram muito legais, separaram um blocão com várias cenas da Bruna em várias situações e eu fiquei lá na ilha de edição sentada um tempão assistindo", lembra. "Isso me ajudou muito."

Agora, a atriz respira aliviada. "É um trabalho muito diferente de tudo que eu já fiz, então eu estava muito ansiosa para ver o que ia acontecer", revela. "Estou muito feliz de ver que funcionou, que as pessoas continuam enxergando a Madeleine."

SENSUALIDADE

Karine avalia que uma das características da personagem nunca havia sido explorada por ela como atriz, o que vem sendo um grande desafio. "Isso é muito louco, essa é uma das grandes questões para mim", confessa. "A Madeleine é sedutora, ela seduz as pessoas, e essa é uma característica que eu acredito que, pessoalmente, eu não tenho."

Ela lembra que o mais próximo que chegou disso foi na série "Os Últimos Dias de Gilda", que ela protagonizou no Canal Brasil. Porém, Gilda era uma personagem que se amava como era e tinha uma sensualidade "sem filtros".

"A Madeleine tem uma sensualidade padrão, ela transita no mundo usando a beleza e a sedução como ferramenta de comunicação", analisa. "É o que a gente está acostumado a ver nas redes sociais e em algumas camadas da mídia. Eu achei que seria um desafio para mim tentar encontrar esse lugar que eu nunca tinha explorado."

A caracterização a ajudou a chegar lá. "A coisa do bronzeado artificial, daquele cabelo falso, dos saltos, da maquiagem... É um negócio que dá um trabalho para manter", conta. "Você tem que estar sempre numa certa postura para criar a ilusão e eu fiquei pensando o quanto isso é uma coisa que fragiliza a gente, que tira a nossa força. Eu vejo que isso é um problema sério para a Madeleine."

Neste remake da novela, a personagem é influenciadora digital. "Ela é uma influenciadora da vida fútil: mostra roupa dela, a casa dela... Ela não está ali falando de feminismo ou contra o etarismo. Pelo contrário, ela está ali mantendo uma aparência", comenta.

Nada disso foi muito natural para Karine. "Foi uma coisa que, para mim, foi muito pesquisado", confessa. Porém, o resultado tem compensado. "Eu sou uma pessoa que não gosta de se assistir, mas eu tenho assistido à novela e falo: 'Caramba quem é essa pessoa?'. Assim, eu acho que criamos uma figura diferente da minha, sabe?"

Na vida pessoal, a atriz é quase o oposto da personagem. "Eu nunca mexi na cara e nem pretendo", afirma. "Nunca fiz botox nem nada desses negócios. Nunca fiz e não vou fazer. Sou rebelde nesse sentido. Agora eu estou usando aparelho para não correr o risco de perder dente na velhice, mas eu não pretendo mexer na minha cara. Eu faço atividade física, gosto de cuidar da minha alimentação, gosto de cuidar da minha saúde, mas não tenho essa loucura de ser magra."

COMIDA PELA SUCURI

Ainda sobre a personagem, ela conta que Madeleine tem relações muito complexas. Com o filho Jove (Jesuíta Barbosa), ela enxerga o fato de ter mentido dizendo que o pai dele estava morto é uma barreira quase intransponível. "Acho que é um fato muito definidor, uma mancha muito grande no relacionamento deles", lamenta.

A personagem também tem uma relação que ela qualifica como "tóxica" com Gustavo (Caco Ciocler), com quem teve diversas idas e vindas ao longo dos anos. "Eles deveriam ser amigos", sugere ela. "Ele gosta dela, mas tem ali um aspecto de ressentimento que faz ele tratar ela meio mal."

A atriz diz que só não tem autorização para falar sobre o desfecho de Madeleine, que muitas pessoas na internet especulam que poderá ser diferente do que ela teve na primeira versão da novela, exibida em 1990 pela extinta TV Manchete. Na época, a personagem foi vivida por Ítala Nandi, que precisou deixar o elenco, o que fez com que a personagem morresse em um acidente aéreo.

"Como é uma novela que já existiu, que as pessoas já assistiram, é bom ter alguns mistérios preservados", argumenta Karine. "Vamos ver o que vem. Nem eu sei", despista.

Enquanto comemora esse novo sucesso profissional, a atriz se prepara para estrear como diretora de longa-metragem, o que deve ocorrer nos próximos anos. Ela já dirigiu dois curtas —o mais recente, "Romance", segue circulando em festivais.

Uma das mais importantes atrizes do cinema brasileiro em sua geração, ela imagina como seria o encontro de Madeleine com alguns dos personagens marcantes que ela já viveu no cinema, como a dona Bárbara de "Que Horas Ela Volta?" (2015).

"Elas têm um lugar de interseção, são duas mulheres da elite social e econômica do Brasil, mas são mulheres muito diferentes", avalia. "Emocionalmente, a Madeleine vai para outro lugar. Acho que elas não seriam nem amigas."

Já a forasteira que atira a esmo nas pessoas em "Bacurau" (2019) ela imagina tendo um final trágico se chegasse ao Pantanal. "Acho que ela ia ser engolida pela sucuri", brinca. "Ia sobrar só aquela roupinha colorida de fora no rio (risos)."

Karine diz que talvez esses filmes tivessem ainda mais dificuldade de serem lançados hoje em dia, embora acredite que a arte sempre daria um jeito de se fazer presente. "Eu fui ao cinema assistir a 'Medida Provisória' e fiquei muito feliz porque o filme bateu para mim nesse mesmo lugar, achei que é um filme da importância desses que estamos falando", comenta. "E o cinema estava lotado, as pessoas estavam muito emocionadas. Eu chorei o filme inteiro."

"A gente faz cinema, novela, para se comunicar, para conversar com o outro, para se sentir menos sozinho, então fiquei muito feliz de depois de tanto tempo ter conseguido estrear", explica. "Acho que tem uma força na arte que é incontestável, é impossível você impedir que ela aconteça."

Ela cita as dificuldades cada vez maiores que as produções têm enfrentado com a falta de um Ministério da Cultura no atual governo federal, o que afetou uma indústria que estava crescendo e empregando muitas pessoas. "As leis de incentivo para a cultura estão sendo atacadas como se fossem uma exceção, quando na verdade todas as indústrias do nosso país têm leis de incentivo", lembra.

"Nós não temos mais porque, de repente, a cultura virou o capeta e as pessoas acreditaram nessa narrativa de que a Lei Rouanet, por algum motivo, era uma lei que beneficiava os artistas de uma maneira injusta e que eles ganhavam fortunas para fazer peças que falam mal do governo", afirma.

"Não é bem assim", rebate. "Todo mundo que já trabalhou com lei de incentivo sabe que é uma lei seríssima e que você tem que prestar conta do centavo que você gastou com a agulha que comprou para costurar a camiseta rasgada do ator."

A atriz também lembra que estamos em ano eleitoral e incentiva que as pessoas deem sua opinião sobre o tema. "É importante que a gente chame as pessoas para a discussão", diz. "As pessoas têm que conseguir ouvir e serem ouvidas. Quem está com título atrasado, ainda dá tempo. Pelo amor de Deus, tira seu título! Vá exercer seu direito de escolha de votar em quem você acredita."

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