Já critiquei Danilo Gentilli diversas vezes neste espaço. Chamei o anfitrião do The Noite (SBT) de imaturo e reclamei dele incitar seus seguidores contra quem o desagradasse. Também escrevi uma coluna, em abril passado, defendendo-o da absurda pena de seis meses de prisão a que ele fora condenado, por injúrias à deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).

Agora vou fazer algo inédito: vou elogiar Danilo Gentili. O apresentador vem dando um show de irreverência, independência editorial e até mesmo coerência política em seus embates com Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente da República.

​E não é só porque eu concordo com o teor dos petardos que Gentili disparou contra Bolsonaro. Sim, eu também acho que o deputado federal é totalmente desqualificado para assumir a embaixada brasileira nos Estados Unidos. Mas minha admiração por Gentili, nesse instante, vai além do mero alinhamento.

Dessa vez, ele não está atacando de maneira gratuita alguém que mal pode revidar –como quando ofendeu Michele Maximino, a maior doadora de leite materno do Brasil. Não: Gentili foi mexer com um dos políticos de maior votação do país, filho de um presidente que já foi algumas vezes ao seu programa e que lhe manifestou total apoio na época de sua condenação. Não é pouca coisa.

A treta entre Danilo Gentili e Eduardo Bolsonaro começou na sexta passada (12). O parlamentar postou no Twitter que estava na Câmara, votando destaques no projeto da reforma da Previdência. O humorista respondeu que o post era “safado” e que Bolsonaro estava praticando a “velha política corporativista”. Seguiu-se uma troca de farpas que surpreendeu quem achava que Gentili se sujeitava automaticamente a qualquer coisa vinda do clã Bolsonaro.

Mas a bomba maior explodiu nesta terça (16). Primeiro Gentili tuitou a hashtag #SenadoVetaEduardo. Depois postou que estava “passando agora no RH do SBT para assinar minha demissão”. Muita gente acreditou que o apresentador havia mesmo sido dispensado pela emissora.

Finalmente, Danilo Gentili divulgou um vídeo onde aparece no cenário do “The Noite” baixando o pau em todos os Bolsonaro. Segundo ele, os filhos do presidente se dariam bem com Trump, “que é laranja –e eles têm experiência com pessoas laranjas.” Também disse que “é bom ter um Bolsonaro a menos para atrapalhar o governo”. Tripudiou do inglês macarrônico do 03. E ainda arrematou: “ele falando inglês parece o pai dele falando português”.

Imediatamente, eclodiu no Twitter a campanha #SilvioSantosDemitaODanilo. Mas parece que ela terá o mesmo destino dos pedidos de Luciano Hang, o “véio da Havan”, para que o dono do SBT se livrasse de Rachel Sheherazade: não vai dar em nada.

É verdade que Silvio Santos não gosta que seus contratados manifestem opiniões políticas, ainda mais se forem diferentes das suas. Mas Danilo Gentili é um ativo estratégico de seu canal. O talk show “The Noite” costuma liderar a audiência do horário, atraindo espectadores jovens (e, por consequência, anunciantes) que não costumam prestigiar as demais atrações da casa.

Mesmo com tudo isso a seu favor, Danilo Gentili foi corajoso. Indispôs-se não só com o próprio Jair Bolsonaro, mas com boa parte de seus fãs. Também foi coerente: assumidamente conservador, Gentili já percebeu que os Bolsonaro são adeptos do compadrio e de outras práticas avessas ao conservadorismo.

Para terminar, devo dizer que é ótimo que uma das línguas mais afiadas do Brasil não se restrinja a fustigar a esquerda. Rir dos poderosos, quaisquer que sejam eles, é sempre a missão mais nobre do humorismo.