Acusada de apologia ao estupro, Skol vai retirar campanha de circulação após protesto feminista
Uma campanha da Skol para o Carnaval será retirada de outdoors em São Paulo após a intervenção de um grupo feminista.
A ação publicitária traz frases ligadas à "perda de controle", como "Topo antes de saber a pergunta", "Tô na sua, mesmo sem saber qual é a sua", e "Esqueci o 'não' em casa".
Prefeitura de Curitiba lança campanha 'não é não' em resposta à Skol
Após protesto feminista, Skol divulga nova campanha: 'Tire o time de campo'
A última, particularmente, incomodou grupos feministas por conter uma sutil apologia ao estupro. A cultura de ignorar o "não" dito por uma mulher é um dos tópicos mais discutidos em grupos feministas online como o "Coletivo Chute", que tem 8.000 membros no Facebook.
A campanha chamou atenção das amigas Pri Ferrari, que é publicitária, e Mila Alves, jornalista. Indignadas com as frases, as duas decidiram fazer uma intervenção em um dos outdoors, num ponto de ônibus na Rua Vergueiro. Com fita isolante preta, elas deram continuidade à frase que diz "Esqueci o 'não' em casa". Escreveram: "E trouxe o 'nunca'".
A foto da intervenção, publicada no Facebook, teve mais de 8.000 curtidas e quase 3.000 compartilhamentos.
Em entrevista ao F5, Pri Ferrari, 25, explicou o que incomodou na propaganda.
"Essa publicidade estava no ponto de ônibus que eu vou todo dia e fiquei chocada com o tipo de mensagem. Resolvemos fazer uma intervenção. A peça e a campanha em si mostram claramente um conceito errado, de 'topo, depois pergunto' de 'não pode dizer não', sendo que estamos no carnaval e 'não' é o que mais a gente precisa dizer. Não ao estupro, não ao beber e dirigir, não ao sexo sem camisinha", defendeu Pri.
"Cerveja e machismo andam juntos desde sempre e precisamos desconstruir isso. Não podemos aceitar esse tipo de coisa ser chamada de normal e engraçadinha", acrescentou.
IRRESPONSABILIDADE
E não foi só o lado feminista de Pri que se indignou com a campanha. Publicitária, ela também não se conforma com a "falta de noção" da marca.
"Uma campanha totalmente irresponsável, principalmente durante o Carnaval, que a gente sabe que o índice de estupro sobe pra caramba. E não só alguém criou, como passou na mão de muita gente e ninguém problematizou a questão. Isso é uma falta de respeito e de responsabilidade", diz ela.
Segundo Pri, a repercussão foi tão grande que um diretor da Ambev entrou em contato com ela pessoalmente, prometendo retirar os outdoors.
"O diretor de comunicação da Ambev me ligou, falamos durante um tempo. No começo, ele tentou manipular a situação. Falei tudo! Vomitei tudo! Falei que ele tinha que pensar mil vezes antes de colocar no ar uma coisa daquele tipo, que ele tem responsabilidade como patrocinador e como marca, que ele sempre tem que problematizar as coisas e não pode deixar nada ir para o ar que possa ofender alguém", contou Pri.
"Ele me ligou para me avisar que vão fazer uma força tarefa durante a noite e tirar todas as campanhas das ruas e colocar uma nova no lugar com um conceito mais 'diga sim para as coisas boas'. Desliguei, abracei a Mila e choramos. Ganhamos essa! E a Ambev com certeza vai pensar duas vezes antes de fazer uma campanha que ofenda alguém".
Procurada pelo F5, a Skol confirmou que os cartazes serão retirados.
Comentários
Ver todos os comentários