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Descrição de chapéu tecnologia

Câmeras digitais dos anos 2000, como a Cyber-shot, viram febre entre a Geração Z

Em busca da estética retrô, jovens trocam a alta resolução dos celulares por modelos antigos

Duas jovens estão tirando uma selfie com uma câmera digital. Elas estão sorrindo e posando, enquanto a câmera mostra a imagem delas. Ao fundo, há um cenário urbano com telhados e árvores. A luz do dia é suave, indicando que é um momento descontraído.
Geração Z troca celulares por câmeras retrô em busca de estética e nostalgia - @marinafornazieri e @mariacdallal
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São Paulo

A Cyber-shot, popular linha de câmeras digitais da Sony, parecia um item esquecido nas gavetas dos millennials. No entanto, os modelos compactos de baixa resolução voltaram a ser objeto de desejo entre a Geração Z e, só no primeiro semestre de 2025, acumularam milhares de pesquisas na internet.

"Um celular não tem a mesma magia de uma foto tirada na 'Cyber'. Você vira a sensação do seu grupo de amigos, todo mundo quer aparecer na câmera", diz Larissa Coutinho, 20, estudante de moda.

Nas redes sociais, o interesse pelo dispositivo digital é evidente. No TikTok, a hashtag #digitalcamera já ultrapassa 358 mil publicações, enquanto #cybershot soma 29,3 mil e #cameradigital, 10,8 mil. Os vídeos vão desde jovens exibindo suas câmeras recém-adquiridas até tutoriais sobre como transferir fotos para o computador.

Além disso, as buscas dobraram na plataforma nos últimos seis meses em comparação ao semestre anterior. Para Dario Caldas, sociólogo e diretor do Observatório de Sinais, escritório especializado em diagnosticar tendências na sociedade, esse movimento de reviver o passado não é exclusivo dessa geração.

"O consumo nostálgico é paradoxal. Os jovens vivem online, estão conectados e dependentes da internet, mas, ao mesmo tempo, querem se salvar disso. Um exemplo clássico é a volta do vinil, das barbearias e das fitas cassetes na época dos millennials", explica.

Caldas ainda afirma que as tendências costumam seguir ciclos de 20 a 30 anos, o que ajuda a entender o retorno dos dispositivos retrô.

O fascínio pela imprevisibilidade das imagens também contribui para esse sucesso. Diferentemente dos celulares, que permitem visualizar, editar e publicar na mesma hora, as câmeras obrigam os usuários a esperar o momento certo para capturar a cena e só depois conferir o resultado.

Larissa conta que nunca gostou de tirar fotos e postar nas redes sociais, mas ao encontrar o mini eletrônico na gaveta da mãe, passou a fotografar diversos passeios. "Me sinto diferente dos outros, que estão grudados no celular. Essa é a realidade", afirma. "Chegar em casa, transferir as imagens para o notebook e ver como ficou é uma parte boa da experiência".

Com essa onda de "imagens antigas", não demorou para surgirem aplicativos que tentam imitar os cliques de câmeras no celular. "Huji Cam", "Dazz Cam" e "VSCO" são algumas das opções disponíveis. Porém, para os usuários de Cyber-shot, não é a mesma coisa. "Qualquer um percebe quando uma imagem veio de uma câmera antiga de verdade ou se é apenas um filtro. A chance de ficar esquisito nessas edições é maior", brinca Larissa.

De acordo com dados do Google Trends, o interesse pela Cybershot triplicou nos últimos anos. As buscas pela câmera atingiram um pico histórico no final de 2024 no Brasil, ultrapassando qualquer outro período anterior —possivelmente impulsionadas pela demanda por presentes de fim de ano.

Nos últimos cinco anos, marcas tradicionais como Sony e Canon lideraram as pesquisas. Em 2025, a tendência segue em alta, refletindo um movimento de retromania, no qual consumidores redescobrem produtos e experiências do passado.

Seja pela estética, pelo saudosismo ou pela vontade de se desconectar do imediatismo digital, as câmeras portáteis voltaram a ocupar o espaço entre os jovens.

"Estéticas, gostos musicais e até estilos de roupa podem reviver a qualquer momento. Mas é interessante observar que essa busca por elementos retrô também vem acompanhada por mudanças de comportamento", afirma Thaís Giuliani, doutora especialista em Geração Z.

"Eles começaram a perceber que passam tempo demais online e buscam experiências off-line, como viver o momento antes de postá-lo. Também vemos um interesse crescente por atividades ao ar livre, como corridas, que ajudam a liberar endorfina e contribuem para a exposição nas redes sociais", completa.

Giuliani ainda aponta que a busca retrô pelo vai além da estética e reflete uma consciência crescente sobre os impactos do uso excessivo do celular. Com restrições nas escolas e um debate cada vez mais forte sobre os efeitos das telas na saúde mental, o especialista acredita que muitos jovens enxergam nas câmeras digitais uma alternativa para registrar momentos sem a conexão constante com as redes sociais.

"O resgate desses dispositivos, portanto, não é apenas um gesto nostálgico, mas também uma forma de viver o presente de maneira diferente", finaliza.

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