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'Ela não entende que existem outras maneiras de ser feliz', diz Maria Fernanda Cândido, que vive mãe de trans

Ivana (Carol Duarte) e Joyce (Maria Fernanda Candido) discutem após a mãe ver a filha com roupa de homem
Ivana (Carol Duarte) e Joyce (Maria Fernanda Candido) discutem após a mãe ver a filha com roupa de homem - Divulgação Globo


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Em "A Força do Querer", atual novela das 21h da Globo, Maria Fernanda Cândido vive Joyce, uma mãe que vê sua filha, Ivana (Carol Duarte) se descobrir transexual. No capítulo que foi ao ar nesta terça (29), Ivana revelou sua condição e anunciou que está se transformando em Ivan.

Na sequência da trama, Joyce rejeitará o filho. Ao "F5", Maria Fernanda contou que se preparou para viver a personagem conversando com outras mães: "é um processo doloroso" .

Ela também revelou que espera que a personagem aprenda a aceitar o que é diferente do que ela entende como felicidade. "A Joyce idealizou a vida dos filhos. Todo pai faz isso, mas ela exagerou na dose."

Leia a entrevista na íntegra.


Joyce  (Maria Fernanda Candido) maquiou Ivana (Carol Duarte) e segura o espelho para que ela veja
Joyce (Maria Fernanda Candido) maquiou Ivana (Carol Duarte) e segura o espelho para que ela veja - Maurício Fidalgo / Divulgação Globo

Como a Joyce vai lidar com a mudança  de Ivana para Ivan?
Vai ser muito difícil para ela. A maneira da Joyce tenta ajudar a Ivana é muito equivocada. Ela faz o que ela acredita ser o melhor, mas infelizmente ela não consegue bons resultados. Ela idealizou e projetou demais a vida dos filhos. Todo pai faz isso, mas a Joyce exagerou na dose. Ela acha que felicidade é a maneira como ela imagina que seja. Ela não consegue entender que se pode ser feliz de outras maneiras. 


Como você se preparou para esse papel? Conversou com outras mães de trans?
Conversei com algumas mães. Algumas estão vivenciando o processo de transição, e outras já haviam passado por tudo e estão com o caso estabilizado. Elas compartilharam comigo suas experiências e isso me ajudou muito. Quando você conversa com uma mãe, ela te dá detalhes do dia a dia. É um processo difícil, doloroso. Existe um enfrentamento social, e existe também um luto dessa mãe, porque apesar de ser a mesma essência, há um filho ou filha que não vai mais existir, então há o luto e o acolhimento de uma nova pessoa que está nascendo. É muito delicado. Conversei com pessoas que conseguiram se resolver e, ainda que com dificuldades, têm histórias bem sucedidas.

Você acha que a Joyce vai conseguir se adaptar a essa nova realidade em algum momento?
Acho que temos dois caminhos. Ela passa a aceitar o diferente, mantendo suas características, natureza e bagagem de conceitos e valores, porém mais aberta e receptiva ao diverso. O outro jeito é ela se transformar, deixar um pouco de ser com é e se tornar mais parecida com as pessoas que ela tem dificuldade de aceitar. São caminhos bem positivos. Ela pode se manter rígida, sem aceitar ninguém, mas em uma novela há um percurso cheio de experiências, então a gente gosta de imaginar que esses caminhos levem para algo bom. Quero muito que ela tenha menos medo do risco, do desconhecido, valorize mais os sonhos, aceite o diferente, e que entenda que há outras felicidades além da que ela aprendeu como sendo o certo.

Há uma mensagem muito clara nisso.
O mundo contemporâneo propõe essa aceitação, essa valorização do subjetivo, onde as pessoas têm a possibilidade de serem felizes acolhendo o que o seu subjetivo pede. Antes você tinha que se controlar e se adequar às exigências do mundo. Hoje é outro quadro. Quando uma discussão como essa seria proposta em uma novela? Esse era um tema velado. Óbvio que já existia, mas não havia espaço para falar. E as relações estão mais horizontais, as pessoas estão livres para mudar de vida, pensando no aqui e agora. É o espírito do nosso tempo, e a novela coloca isso. Tudo fluido, passageiro.

A realidade das pessoas transexuais é de muita violência e discriminação. Você acha que as novelas têm a capacidade de mudar isso?
Eu espero que sim. O que posso afirmar é que uma novela, nesse horário e nessa emissora, pode ajudar a abrir um diálogo com a sociedade sobre esse tema. Isso eu acho que minimamente a gente vai conseguir, porque esse assunto vai acabar entrando na nossa rota de conversas. O brasileiro vê muita novela, faz parte da nossa cultura.


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