Tudo tem limite, até o Rafinha Bastos
Rafinha Bastos bateu na parede. Acostumado a dizer o que lhe vem à cabeça sem sofrer quase nenhuma consequência, dessa vez o apresentador do "CQC" foi longe demais. Xuxou onça com vara curta, e agora vai ter que pagar.
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Ronaldo "Fenômeno" reclamou com a direção da Band. O jogador é sócio de Marcus Buaiz na 9ine, que começou como uma empresa de marketing esportivo mas já se tornou uma agência de propaganda de verdade, com clientes consideráveis. E Buaiz é o marido de Wanessa Camargo.
Uma emissora de TV não pode ter um mau relacionamento com os anunciantes, nem com as pessoas que agenciam estas verbas, e ainda menos com as estrelas do esporte. Simples assim. Rafinha vai ser censurado porque irritou interesses importantes.
Isto é ruim? É um fato da vida. Nenhum humorista pode querer ter total liberdade junto com riqueza e fama. A de Rafinha já repercute no exterior: ele foi alvo de uma longa matéria no "New York Times", e sua conta no Twitter tem mais seguidores do que as de Obama ou Lady Gaga.
Mas o cara ainda se comporta como se estivesse diante de uma pequena plateia num espetáculo de "stand-up". Quer ser "cult" e "underground" na TV, e se esquece de que cada vírgula do que fala repercutirá ao infinito na internet. O sucesso rápido e estrondoso fez com que ele não enxergasse seus limites.
Rafinha já não participará do programa desta noite. O castigo não deve ir muito além disto: no máximo ele amargará um tempo na geladeira, e não se fala mais nisto. Duvido que seja demitido. Pegaria mal para a imagem de irreverência do "CQC". Além do mais, no dia seguinte Rafinha já estaria com um programa próprio numa emissora concorrente.
E aí teria que cair na real para valer. Passaria pelo mesmo que seu colega Danilo Gentili, que, por causa da boca descontrolada, afastou os patrocinadores da estreia do seu "Agora É Tarde". Danilo fez a lição de casa: maneirou o tom, conquistou audiência, e agora o canal já pensa em estender seu "talk show" para outras noites da semana.
Mas uma coisa é certa. Os humoristas andam o tempo todo sobre uma linha tênue. Qualquer piada sempre irá desagradar a alguém: os problemas surgem quando estas pessoas formam a maioria. Que, no affair Rafinha/Wanessa, era composta por toda a população do planeta. Acho que jamais se ouviu uma tirada tão sem graça e fora de propósito em toda a história da humanidade.
Enfim, acidentes acontecem. O humor de fato engraçado é sempre iconoclasta (detesto a expressão "politicamente incorreto", que está se tornando um escudo para quem quer dizer escrotices). O desafio é dosar. Saber para quem se está falando, quem vai gostar e quem vai se incomodar. Rafinha tem uma fortuna a perder em imagem e contratos de propaganda. Mas nós, o público, perderemos ainda mais se ele exagerar na dose e enfiar o rabo entre as pernas.
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