Alexandre Frota é um sintoma da nossa falta de educação
Alexandre Frota é como a jabuticaba: só existe no Brasil.
Nenhum outro país conta com essa mistura de ator, empresário, DJ, go-go boy, apresentador, participante de “reality shows” e filmes pornográficos e, agora, também ativista político.
Esta última faceta era novidade para muita gente. Poucos sabiam que Frota faz parte do Revoltados Online, um dos muitos coletivos surgidos nos últimos anos na internet para fazer oposição aos governos petistas.
Foi nesta condição que ele foi recebido na quarta (25) pelo novo ministro da Educação, Mendonça Filho. Estava levando sugestões para o currículo escolar brasileiro —sugestões estas que, quando divulgadas, foram prontamente demolidas pelos especialistas na área.
Mas pouco prestaram atenção no que Frota tinha a dizer. Sua simples presença no sacrossanto Ministério da Educação foi o bastante para fazer, mais uma vez, a internet entrar em combustão espontânea.
De fato, é de se espantar o amadorismo dos assessores deste governo recém-empossado. Como é que nenhum aspone previu que a repercussão da visita de Frota a Mendonça Filho seria largamente negativa? O gabinete de Temer já foi acusado de viver numa era pré-internet.
Mas, pelo jeito, parece que lá não pega nem TV aberta.
Algumas pessoas foram às redes sociais para defender Alexandre Frota. Antes de mais nada, ele é um cidadão, e, portanto, tem todo o direito de se fazer ouvir. Beleza. Além disso, seria de um moralismo hipócrita lembrar sua carreira na pornografia, encerrada em 2008.
Acontece que Frota pode não fazer mais filmes pornôs, mas sua “persona” pública continua proibida para menores. E muito por culpa dele mesmo, que não se furta a usar termos chulos em apresentações e entrevistas.
Repercute até hoje uma conversa que ele teve há dois anos com Rafinha Bastos no “Agora É Tarde”, o extinto talk-show da Band. Entre outras anedotas pessoais, Frotinha se gabava de ter estuprado uma mãe de santo. A plateia caiu na gargalhada.
Alexandre Frota é uma espécie de bobo da corte pós-moderno, falastrão e hipersexualizado. Chegou a um ponto em que, mesmo que suas propostas para o Ministério da Educação fossem excelentes, elas também não seriam levadas a sério.
Mas também é uma manifestação do machismo à brasileira, onde a opressão à mulher surge fantasiada de humor e diversão. O mesmo machismo que permite que uma jovem seja estuprada por mais de 30 homens, e que depois estes exibam a façanha nas redes sociais sem o menor medo de serem punidos.
Atenção: não estou dizendo que Frota seja o culpado deste e de outros crimes. Mas ele é um sintoma de uma patologia gravíssima que nos aflige desde tempos imemoriais. E que, felizmente, tem remédio.
Adivinhou: sim, é a educação.
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