Graças à internet, esta é a eleição mais divertida de todos os tempos
A primeira eleição direta para presidente em quase 30 anos aconteceu quando eu já era bem grandinho. Lembro que levamos tudo aquilo muito a sério: afinal, tínhamos acabado de nos livrar a duras penas de uma looonga ditadura militar. Mesmo assim, acabamos elegendo o Collor...
Éramos muito mais ingênuos do que hoje. Acreditávamos em marajás, e estávamos reaprendendo a fazer humor político na TV. A internet ainda flutuava a quase uma década de distância.
Vinte e cinco anos depois, tudo mudou. Ficamos muito mais cínicos e desconfiados, e isto é ótimo. Também nos tornamos todos humoristas, criando memes nas redes sociais e não livrando mais a cara de ninguém.
Nunca vi tanta gente interessada numa eleição como agora, apesar do desencanto generalizado. E começamos a assistir aos debates da mesma maneira que vemos o final do "BBB": com um olho na TV e o outro no computador, às gargalhadas.
Os candidatos estão atordoados. A reação de alguns lembra a de grandes empresas, quando surgiram consumidores postando vídeos reclamando de maus serviços: elas tentaram silenciar os críticos, sem perceber que o mundo já não era mais o mesmo.
Outros estão tentando se adaptar. O PT já cooptou o perfil da Dilma Bolada no Twitter, ciente de que esta sátira camarada faz bem para a imagem da presidente. Quer dizer, só até certo ponto: não existe humor a favor, e uma paródia chapa-branca é tão chata quanto o horário eleitoral.
Enquanto isto, Eduardo Jorge, candidato do PV, finalmente descobriu o que quer dizer a palavra "meme," e está se divertindo com os que estão surgindo a seu respeito. Sem ter nada a perder, ele herda com gosto o figurino do "velhinho maluquinho" encarnado por Plínio de Arruda Sampaio em 2010.
Claro que não é a única vítima. Marina Silva já foi retratada como o E.T., o saci-pererê ou a avó da "Família Dinossauro". Levy Fidelix não tem como escapar do "seu" Barriga do "Chaves" ou do Mr. Spacely dos "Jetsons". Sobrou até para o SBT: tem internauta jurando que viu propaganda subliminar da Jequiti durante o debate desta segunda (1º), que a emissora promoveu junto com a Folha, o UOL e a Jovem Pan.
E tudo isto a apenas três semanas de uma tragédia que comoveu o Brasil e mudou o rumo da campanha. Mas esta é uma das melhores qualidades do brasileiro: a irreverência, que nos faz inventar piada até no enterro da mãe.
Se dependesse da mídia tradicional, o vexame que foi nossa participação na última Copa teria desembocado em desgraça nacional. O jogo contra a Alemanha ainda nem havia acabado e já tinha psicóloga na TV ensinando os pais a lidar com os filhinhos "traumatizados".
Foi o humor nascido na internet que acabou transformando a derrota em galhofa. Também é um sinal da nossa maturidade como povo. Estamos aprendendo a dar às coisas seu devido valor.
Com esta eleição não é diferente. Ainda bem: mesmo se o seu candidato perder em outubro, você ainda terá motivos para rir.
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