Feliciano aproveita vídeo do Porta dos Fundos para se promover
Com pouco mais de um ano de existência e lançando dois vídeos inéditos por semana, até que o Porta dos Fundos se envolveu em bem poucas polêmicas.
Verdade que os palavrões não são raros nos esquetes do grupo. Nem os temas que a boa educação mandava deixar fora das discussões, como política e religião.
Ator de "Amor à Vida" é agredido em assalto no Rio e ficará afastado
Camila Pitanga e músico Lucas Santtana terminam namoro de quase dois anos
Nanda Costa diz que em Cuba ninguém reclamou de sua depilação
Também é verdade que já houve tentativas de censurar a trupe. Em maio passado, alguém se ofendeu tanto com o delicadamente intitulado "Rola" que entrou na promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor com um pedido para que o vídeo fosse removido do YouTube. Não foi atendido.
Mas as controvérsias que sacodem o Porta passam longe dos processos milionários que atormentam Rafinha Bastos, por exemplo. Talvez porque o grupo prefira tomar o partido das minorias atarantadas, não o dos "bullys".
Mesmo assim, "Oh, Meu Deus", divulgado nesta segunda-feira (19) feriu algumas sensibilidades. Uma moça vai ao ginecologista, que acredita ver a imagem de Jesus Cristo em suas partes íntimas. Chama alguns colegas, e logo estão todos louvando a aparição miraculosa.
A gozação não é exatamente com os cristãos, mas com os fanáticos que julgam enxergar manifestações divinas em sanduíches de queijo e outros lugares inusitados --um fenômeno crescente nos dias que correm.
Quem entendeu a piada, riu muito. Quem não entendeu, se sentiu insultado. E até aí tudo bem, porque uma das funções do humor é justamente insultar àqueles onde serve a carapuça.
Opiniões se dividiram: uma enquete do UOL deu que cerca de 40% dos internautas acham que o Porta dos Fundos exagerou, contra 60% que acham que não. E o deputado Marco Feliciano vislumbrou a oportunidade de meter o bedelho.
Feliciano conclamou seus seguidores no Twitter a exigir a imediata exclusão do vídeo da internet. Dificilmente conseguirá, mas mesmo assim sairá ganhando: poderá dizer que, mais uma vez, os crentes foram vítimas de perseguição.
Aliás, já está no lucro. Seu objetivo maior foi alcançado: voltar às manchetes, que frequentou semana passada graças à gozação que sofreu num avião.
O curioso é que, quando esteve no "Agora É Tarde" de Danilo Gentili (Band), em março passado, o nobre parlamentar não se furtou a citar Voltaire em defesa própria: "Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante seu direito de dizê-la". Não é bem o que ele está fazendo agora.
Mais curioso ainda é que os evangélicos não veneram imagens. Portanto, teoricamente, o pastor deveria estar entre os que riram do comportamento satirizado em "Oh, Meu Deus". Mas deixar esta chance de aparecer passar batida? Jamais!
Em países onde existe uma verdadeira liberdade de expressão, não é pecado nem crime tirar sarro da fé dos outros (ou mesmo da ausência de fé). Um dos maiores sucessos da Broadway no momento é o musical "The Book of Mormon", que troça da igreja mórmon e é assinado pela iconoclasta dupla de criadores da série "South Park".
É quase inimaginável que esta peça seja montada no Brasil. Nossa democracia ainda não chega a tanto. Mas estamos chegando lá: apesar da gritaria dos oportunistas de plantão, a reação largamente positiva ao estilo de humor do Porta dos Fundos é um sinal de amadurecimento político.
Comentários
Ver todos os comentários