Tony Goes

Gays discretos como Aslan não têm vida longa no "BBB"

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E foi-se o Aslan. Sem surpresa nenhuma: todas as enquetes apontavam que ele seria o eliminado no paredão desta terça-feira (29), com mais de 70% dos votos.

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Essa rejeição tão alta parece indicar que o pernambucano era um dos vilões do "BBB13", mas não chegou a tanto. Aslan saiu porque era chatinho e meio sem graça. Só isto.

Quando o programa estreou, conhecidos do rapaz disseram que ele tinha tudo para "causar" lá dentro. Só que aconteceu exatamente o contrário. Talvez inibido pela exuberância dos veteranos, Aslan se recolheu a um ponto entre a sabedoria e a paisagem. Soltava algumas frases interessantes de vez em quando, mais nada.

Repete assim a trajetória de Lucival, do "BBB11". Também homossexual e também discreto, o baiano foi defenestrado logo nas primeiras semanas. Não incomodou o público; na verdade, nem conseguiu deixar sua marca.

Naquela mesma edição, o espalhafatoso pernambucano Daniel chegou em terceiro lugar. Gays algo folclóricos como Dicésar e Serginho também foram longe na competição do ano anterior.

E claro que houve o fenômeno Jean Wyllys, o ganhador do "BBB5". O hoje deputado federal nunca foi de soltar a franga, mas o simples fato de ser o primeiro "brother" a assumir sua homossexualidade já fazia dele um transgressor.

Jean amealhou uma acirrada oposição na "nave" e escapou de sucessivos paredões, até sagrar-se campeão. Venceu o preconceito de seus concorrentes e o de boa parte da audiência.


Sete anos depois, um fenômeno saudável pode ser identificado dentro do "BBB". O próprio Aslan disse que não sentiu homofobia alguma da parte de seus colegas.

Eu diria que o mesmo se passou entre os espectadores: Aslan não foi eliminado "por causa" de sua homossexualidade, nem "apesar" dela. O assunto simplesmente não pesou na escolha dos eleitores. Nem pró, nem contra.

Tanto que, nas redes sociais, tinha muito gay torcendo por sua saída. Parece um paradoxo, mas isto é ótimo: nem toda bicha que aparece na TV precisa encarnar o paladino da causa LGBT.

Aliás, alguém lembrava que Aslan é bicha? Óbvio que ele não pegava nenhuma das "sisters" à disposição, mas não era o único a recusar o mulherio. No fundo, ele se deixou apagar como quase todos os novatos desse "BBBcrazy". Os reincidentes assumiram o controle da narrativa e perigam dizimar a calourada rapidamente.

Se fosse um gay mais histriônico, é bem possível que Aslan tivesse uma sobrevida mais longa no "BBB". Mas ficou na dele, foi fiel a si mesmo e saiu de cabeça erguida.

Pode não ter sido a melhor estratégia para vencer um "reality show". Mas acho que foi o sintoma de uma vitória discreta para gays e lésbicas de todo o Brasil, cada vez mais absorvidos pela sociedade.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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