Tony Goes

Grandes atores têm grandes papéis em "Avenida Brasil"

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Carminha invade o barraco de Mãe Lucinda. A vilã da novela das nove da Globo está furiosa: a matriarca do lixão contou para Jorginho e Tufão quem é a verdadeira mãe do rapaz. Carminha pega uma faca e chega a ameaçar Lucinda de morte; depois chega à conclusão que deixá-la viva é um castigo ainda maior. Vai embora, deixando aquela que pode ser sua mãe aos prantos.

A cena me deixou arrepiado, e não só por causa do texto melodramático e cheio de insinuações (Lucinda teria cometido no passado um crime ainda maior que os de Carminha). As duas atrizes estavam soberbas: tanto Adriana Esteves quanto Vera Holtz foram críveis, dando veracidade a duas personagens complexas, e absolutamente incríveis.

Esta tem sido uma constante de "Avenida Brasil": um punhado de grandes atores tem encontrado na trama de João Emanuel Carneiro ótimas oportunidades para brilhar. Alguns deles, inclusive, ganharam o melhor papel de suas carreiras na TV.

É o caso de Marcelo Novaes, que finalmente se livra da imagem de garotão com o pérfido Max. Ou de Heloísa Perissé (Monalisa) e Letícia Isnard (Ivana), que trazem a veia cômica já conhecida dos seriados de humor e a temperam com nuances dramáticas inesperadas.

Mas talvez a maior surpresa seja Marcos Caruso como Leleco. Não é nenhuma novidade que se trata de um grande ator, mas pouca coisa em seus personagens anteriores deixava suspeitar que ele faria um suburbano tão divertido e carismático. Suas aparições em cena são impagáveis.

A lista continua: José de Abreu, Cauã Reymond, Ísis Valverde, Murilo Benício, Eliane Giardini, Juliano Cazarré, todos estão mandando muitíssimo bem. Até mesmo o elenco do núcleo de Cadinho e seu harém --a trama paralela mais inverossímil de todas-- tem feito o que pode para segurar o humor algo forçado de uma situação tão absurda.

No meio de tantos bons desempenhos, tem um que me deixa a desejar. Descobri por que implico tanto com Débora Fallabella. Quando a novela estreou, escrevi nesta coluna que nutro uma antipatia gratuita e inexplicável pela atriz. Finalmente entendi a razão: ela é uma canastrona.

Está certo que o papel de Nina/Rita é especialmente ingrato. A protagonista de "Avenida Brasil" já teve milhares de chances de cumprir sua vingança: bastava gravar em vídeo uma das muitas conversas que espionou entre Carminha e Max e postar no YouTube. No entanto, a moça reluta, sem um plano de ação que extravase tanto ódio acumulado.

José de Abreu já avisou pelo Twitter que, a partir do capítulo 84, o Brasil inteiro vai passar a odiar Nina. É uma virada que João Emanuel Carneiro já usou em "A Favorita": a heroína se revela a verdadeira vilã, e vice-versa. Quem sabe se, quando a personagem ficar melhor definida, Débora Fallabella finalmente acerte o tom. Mas por enquanto ela é a nota dissonante numa orquestra de atuações fantásticas.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias