Tony Goes

Pobre "Pan Am", mal chegou a decolar

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Assisti ao primeiro episódio de "Pan Am" (Sony) na companhia de uma amiga aeromoça. Queria saber se as condições de trabalho de hoje são parecidas com as de 1963, ano em que se passa a série.

"Ah, não mudou muito", disse ela. "Nós ainda somos pesadas e medidas feito gado de corte. Vou ser promovida a chefe de cabine daqui a alguns meses, mas antes disto preciso emagrecer três quilos".

Uma das primeiras cenas do capítulo de estreia --que foi exibido com legendas na quinta passada, e dublado no domingo-- mostrava justamente a revista a que as aeromoças da companhia aérea que dá nome ao programa eram submetidas antes de cada voo. E ai daquela que tivesse um fio de cabelo fora do lugar.

Mas é verdade que muita coisa mudou desde então. As comissárias de hoje já podem se casar ou passar dos 32 anos, dois fatores que geravam demissão naquela época. Atualmente também há diversidade racial: neste ponto, "Pan Am" trai a história ao incluir uma negra entre as personagens. A companhia só passou a contratar não-brancas alguns anos mais tarde.

Crédito: Eric Liebowitz/Divulgação Christina Ricci e Kelli Garner em cena de "Pan Am"
Christina Ricci e Kelli Garner em cena de "Pan Am"

"Pan Am" vem na cola de "Mad Men", que mostra o dia-a-dia de um grupo de publicitários no começo da década de 60. Esta série --que é exibida nos EUA pelo canal AMC, e por aqui pela HBO-- ganhou nada menos do que quatro Emmys consecutivos de "melhor drama", um por cada temporada. E vem causando um impacto cultural muito maior do que sua audiência modesta.

Mas enquanto "Mad Men" está prestes a estrear sua quinta temporada, "Pan Am" provavelmente será cancelada. O último dos 14 episódios originais atraiu menos de um terço do público que assistiu à estreia, o que é fatal para um programa tão caro.

Destino ainda pior teve "The Playboy Club", também inspirada pelos anos 60. Focada nas míticas coelhinhas, as garçonetes das boates que a revista inaugurou naquela década, a série durou apenas três episódios.

O fato é que não adianta torrar uma fortuna em cenários e figurinos se os roteiros não seguram a atenção do espectador. O primeiro capítulo de "Pan Am" impressionou pela opulência visual e pela riqueza de detalhes. Mas nem a trama da aeromoça que na verdade é espiã da CIA me deixou muito empolgado.

Talvez seja melhor não me interessar muito pelos personagens, pois parece que terão vida curta. "Pan Am" consegue reproduzir o glamour das viagens aéreas de meio século atrás, quando voar era para poucos. Mas, mesmo com um elenco encabeçado pela ótima Christina Ricci, faltou emoção no episódio de estreia. É uma pena, mas pelo jeito esse voo não irá muito longe.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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