Tony Goes

"Louco por Elas" e a chegada do homem-banana

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O homem-banana é um personagem clássico da TV americana. É o marido frouxo, o pai sem autoridade, o trapalhão doméstico que sempre depende da mamãe para ser salvo das encrencas em que se mete.

O maior paradigma do homem-banana é Homer Simpson. Não que a Marge seja uma santa - afinal, ela já foi presa, já descambou para o alcoolismo e já esteve a ponto de trair o marido um par de vezes. Mas não há dúvidas de que é ela o esteio da família amarela de Springfield. Se postos aos cuidados exclusivos do Homer, todos já teriam morrido de fome ou sido tragados por um furacão.

Um exemplo mais recente do banana americano é o Phil Dunphy do seriado "Família Moderna" (exibido pela Band e também pela Fox, com o nome original "Modern Family"). O sujeito é bem-intencionado e até que tenta ser um bom pai, mas é feito de gato e sapato pela mulher e os filhos.

Qual a razão deste fenômeno televisivo? Pode ser uma reação sadia ao ao patriarcalismo da cultura dos Estados Unidos, onde a figura paterna é colocada num pedestal. Já que na vida real é ele quem dá as cartas, então vamos ridicularizá-lo na ficção.

No Brasil estamos mais próximos de um certo matriarcado, e o homem-banana nunca foi muito presente na nossa televisão. Sim, existe o Lineu da "Grande Família", mas ele não chega a ser dominado pela Nenê, nem é o maior culpado pelos problemas de seu clã.

Mas ontem o banana-man fez um desembarque triunfal nas nossas telas. É o Léo (Du Moscovis) de "Louco por Elas", nova série da Globo. Para que fique ainda mais clara sua filiação frutífera, o episódio de estreia mostrou o protagonista às voltas com o livro escrito por sua ex-mulher: "Como Descascar um Banana sem Parecer uma Megera".

Léo é o arquétipo do homem moderninho: sensível, compreensivo, responsável. Tudo o que a mulherada diz querer nas revistas femininas, e exatamente o tipo que elas mais desprezam na vida real. O macho não-alfa.

Como sói acontecer, o coitado está cercado por mulheres chatas, indignas de seu amor. A filha biológica, a filha de criação, a avó, a já citada ex-mulher: todas são auto-centradas, todas abusam de sua bondade. E como é que ele reage? Mostrando-se ainda mais mole, derramando sua carência no programa da Ana Maria Braga. E como é que elas reagem? Ignorando-o solenemente.

O elenco até que está bem, apesar do novo rosto da Glória Menezes ter me causado uma certa aflição. Ela está uns dez anos mais jovem do que da última vez que a vimos no vídeo, três anos atrás.

Mas uma aflição ainda maior me foi causada pelo texto. Uma ou outra gracinha não esconde a mensagem subliminar de que agora as mulheres podem tudo, e ai do cara que não se submeter aos caprichos delas. Não se verei "Louco por Elas" novamente: prefiro as bananas de verdade.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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