Thiago Stivaletti

O caso 'Supermax', ou como o conteúdo está definindo a forma como vamos assisti-lo

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Nas últimas semanas, tenho comentado com entusiasmo a série "Justiça", da Globo. Ao menos quatro amigos muito acostumados a ver séries americanas, na Netflix ou fora dela, me vieram com a mesma pergunta: "Não consigo ver na TV na hora que passa; como faço para ver depois?".

É curioso como, na era da televisão sob demanda, muita gente tenha perdido tanto o hábito das novelas e séries da Globo, que não imaginam que elas também possam ser vistas no chamado VoD.

Explico: hoje, a emissora concentra tudo numa plataforma aberta, o Globo Play. Claro, a Globo oferece vantagens aos assinantes de seu portal Globo.com. Eles podem assistir na internet à um capítulo inteiro na íntegra, sem cortes; e, para alguns produtos como "Justiça", os assinantes agora podem ver o episódio horas antes de ele ir ao ar.

O que nem todos sabem é que mesmo quem não paga nada pode tirar o atraso e ver aquilo que perdeu. Eu, que não sou assinante, entro lá e vejo o capítulo que perdi com a pequena chatice de ter que ver os vídeos cena a cena, muitas vezes tolerando alguns segundos de comercial antes, como nos vídeos patrocinados do Youtube.

É curioso como hoje a coisa se inverteu. Pessoas de até 40 anos têm total familiaridade com a plataforma da Netflix e fazem tranquilamente o download de filmes e séries, com legenda e tudo, mas não sabem como ver os programas da maior emissora de TV aberta do país e de muitos de seus canais de TV paga, como GNT, Viva e Multishow, que também disponibilizam para os assinantes seus programas sob demanda.

Isso me fez pensar o quanto cada vez mais, num mundo com milhões de ofertas de conteúdo e dezenas de alternativas diferentes de como assisti-lo, uma coisa vai depender da outra. Ou seja, não adianta produzir uma grande série se a maneira como ela vai ser exibida, seja na TV aberta ou no "on demand", não estiver de acordo com o hábito de seu novo ou velho espectador.


Erom Cordeiro,  Fabiana Gugli e Cleo Pires em cena de 'Supermax'
Erom Cordeiro, Fabiana Gugli e Cleo Pires em cena de 'Supermax' - Estevam Avellar/Divulgação


Por isso, será interessante acompanhar o desempenho de "Supermax", a nova série que a Globo estreia na próxima terça (20). Trata-se de uma mistura maluca de "Oz" (aquela série que se passava num presídio), "American Horror Story" e "BBB", ou seja, presidiários que participam de um reality show e precisam lutar contra forças sobrenaturais.

Serão 12 episódios exibidos às terças na Globo. No Globo Play, porém, o esquema será outro. Assinantes podem ver já a partir desta sexta (16) os 11 primeiros episódios de uma só vez, num esquema Netflix. Só o último episódio da temporada (não sabemos se haverá outra) fica exclusivo para a TV, no dia 13 de dezembro. (Ou seja: o ansioso que devorar tudo no primeiro dia, como costuma fazer com "Narcos" ou "House of Cards", vai ter que esperar três meses pra saber como tudo terminou).

Algo me diz que, até pela história que propõe, "Supermax" vai fazer certo barulho na internet (ainda que entre um certo nicho) e pouco ou nenhum na TV aberta, podendo sofrer rejeição de uma parte das massas que ainda se planta na frente da TV numa terça à noite.

Vejo que mesmo minha mãe de 63 anos, que não faz ideia de como baixar uma série, hoje assiste à "Breaking Bad" na Netflix com a maior facilidade. Mas limitar-se às opções de uma única plataforma, seja da Globo ou da gigante do streaming que emplacou forte no Brasil, nunca é saudável. O bom espectador do futuro será aquele que souber investir na pluralidade do seu menu, não dependendo só desta ou daquela plataforma.





Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Começou a carreira como repórter na Folha de S. Paulo e foi colunista do portal UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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