Na semana em que estrearam, Porchat dá de dez a zero em Adnet
Com a estreia, nesta mesma semana, de Fábio Porchat na Record e do novo programa de Marcelo Adnet na Globo, criou-se sem querer uma competição entre os dois. Nunca imaginei que seria assim, mas foi dez a zero para Porchat.
"Adnight", o programa de Adnet que estreou ontem, é nada menos que um constrangimento de fazer sentir saudade de "O Dentista Mascarado", aquele primeiro seriado de ficção que ele estreou na emissora e não deu certo. O primeiro convidado não podia ser mais a cara da Globo: Galvão Bueno, num programa todo feito para mostrar que ele não é irritante, mas divertido, engraçado, descontraído.
Seguiu-se uma série de quadros de fazer a vergonha àqueles de Silvio Santos nos anos 80: Arnaldo César Coelho, Daniela Mercury e Reginaldo Leme competindo pra ver quem sabe mais sobre os hábitos de Galvão; Adnet perguntando ao comentarista com quantos anos perdeu a virgindade; Silvio Luiz narrando uma corrida totalmente sem graça dos dois nuns bichinhos de brinquedo; e por aí foi. Deu muita saudade do "Tá no Ar".
"Adnight" foi mais uma prova de que a Globo, quando decide submeter seus talentos a formatos muito rígidos, mete os pés pelas mãos. Muito pouca coisa ali parecia vir do Adnet que a gente conhece: uma imitação de Eduardo Paes aqui, uma paródia sem graça de Daniela Mercury ali. Para a semana que vem, é bom chamar a Dani Calabresa para ganhar em espontaneidade.
Tiririca e Bolsonaro
Já Fábio Porchat, em dois programas —enquanto o de Adnet é semanal, o dele vai ao ar de segunda a quinta— mostrou que a emissora do bispo pode dar mais liberdade que a líder para esculachar geral. Vi alguns trechos do primeiro programa e ontem vi na íntegra o segundo, que conseguiu segurar o interesse do início ao fim. Porchat bateu no liquidificador muitas experiências dos últimos anos, dele e dos outros: o "Porta dos Fundos"; o "Tudo pela Audiência", que comandou com Tatá Werneck no Multishow lembrando o tempo todo que há coisas das quais não se escapa num canal de TV aberta; o "Pânico na TV", o programa do Rafinha Bastos, o talk show do Danilo Gentili, o "Programa do Jô" e por aí vai.
O programa de ontem abriu com um esquete digno dos melhores do Porta: num futuro distante, daqui a uns 50 anos, ele e Miá Mello, sua colega em "Meu Passado me Condena", recordam o ano de 2016, quando Porchat perdeu a chance de fazer um grande programa na Record. "Se eu soubesse que, duas semanas depois da minha estreia, a Record ia ser vendida para a Rede TV!, teria feito tudo diferente", diz. Ela diz que ele está muito velho para voltar. "Mas por quê? O Silvio Santos tá aí até hoje, bolinando a neta da Ellen Ganzarolli", diz. Ao final, ele resmunga que foi dizimado pelos malditos youtubers. Na frente da TV, ele pede a ela: "Muda de canal. Põe aquele menino que eu gosto, o Adnet", diz. Melhor deixar na Record, Fábio.
Na parte "Programa do Jô", depois de fazer boas piadas com os assuntos do momento, Porchat entrevistou Tiririca, nosso palhaço-deputado. Poderia ter sido só um show de palhaçadas, até que Porchat cutucou um vespeiro.
Ao pedir para Tiririca ver fotos de personalidades num telão e dizer se era abestado (não gosto) ou moço lindo (gosto), o apresentador mostrou uma imagem de Jair Bolsonaro, seu colega de plenário. "Esse é um moço polêmico... Muito polêmico... Mas é um moço bonito", disse o palhaço, dando a entender que concorda com as opiniões do machista homofóbico. "Você não acha que polêmico é chamar Bolsonaro de moço bonito?", rebateu Porchat. Aos poucos, o apresentador convence Tiririca a fazer uma defesa da diversidade e mudar sua avaliação para "Bolsonaro abestado". Sobre o impeachment, o deputado disse ter votado a favor porque é sempre bom ter mudanças, mas criticou de leve o presidente interino, defendendo novas eleições.
Em resumo, Porchat tem uma missão mais árdua pela frente segurar a peteca quatro dias por semana não é fácil, e será normal que o programa apresente desgaste e tenha que inventar novos quadros com frequência. Mas, a julgar pelo seu concorrente, o moço não tem do que reclamar por não estar na Globo. Como ele bem lembrou num ótimo esquete do Porta dos Fundos, quem está na Record não morreu —muito pelo contrário.
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