'O público é convidado a compor a história que quiser', diz Enrique Diaz sobre a peça 'In on It'
Não importa quantas temporadas a peça "In On It", do canadense Daniel Maclvor, faça, ela sempre será sucesso. Claro que pode ser ainda mais valorizada por uma direção perfeita e um elenco primoroso. Enrique Diaz é um espetáculo interpretado com excelência por Fernando Eiras e Emílio de Mello. O espetáculo reestreou na última quarta-feira (6) no Teatro Jaraguá, em São Paulo.
"O que acontece na trama não tem que necessariamente ser entendido de forma exata pela plateia", declara Diaz, lembrando que o próprio autor observa esse detalhe na apresentação do texto. E complementa: "O público é convidado a compor a história que quiser ou puder".
Compreendendo exatamente ou não o que está acontecendo em cena, a verdade é que não se consegue desviar a atenção por um segundo sequer do que propõem os dois atores. Ora conversando com naturalidade sobre a própria cena, ora vivendo personagens de uma peça que está sendo escrita, para momentos depois já estarem envolvidos num conflito de casal muito realista.
A direção de Diaz é cirúrgica. Tudo o que é dito ou realizado em cena é essencial ao jogo teatral, e, com a naturalidade de um improviso, os atores parecem executar uma coreografia de gestos muito precisa. A emoção se faz presente quando necessária, profunda e intensa. Mas desaparece com a mesma rapidez com que apareceu quando dela não se precisa mais.
Enrique Diaz ganhou o Prêmio Shell com essa direção. Fernando Eiras também o recebeu como Melhor Ator. Merecidamente. Está brilhante em sua agilidade e domínio de cena absoluto. Emílio de Mello também merecia o mesmo prêmio, caso fosse possível, pois joga de igual para igual com Eiras. Um tanto mais econômico que o colega, faz um contraponto que enriquece o jogo cênico.
Ambos fazem personagens diversos com a mesma verossimilhança. Até mesmo as mulheres que cada um faz e aparecem de repente em cena, sem nenhum adereço ou apoio visual, estão ali inteiras e intensas.
A fusão entre a peça escrita por um dos personagens, o aqui e agora do espetáculo e o passado vivenciado na relação amorosa dos dois personagens é, na verdade, um pretexto genial para envolver a plateia que não consegue desgrudar os olhos do palco praticamente vazio, preenchido com o que há de mais precioso no Teatro com "T" maiúsculo: uma boa trama, bons atores e uma direção precisa.
"In On It" merece todos os elogios e prêmios que já recebeu. Mais do que isso: merece ser vista. A peça faz uma curta temporada no Teatro Jaraguá, às 21h das quartas e quintas, até 26 de maio próximo. "Uma experiência imperdível", declarou Rodrigo Santoro. E ele tem razão.
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